terça-feira, 2 de maio de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XVIII





Sobre a vida dos Celtas –XVIII

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XVII

Anteriormente: vindo de um longínquo país chamado Gálea, com a profissão de construtor, Golin era o nome do homem salvo do naufrágio por Seabhac Habicht junto de seus filhos, tendo por essa e por outras razões, sido escolhido para a sagrada obra em louvor ao filho do Pai Eterno, cuja indicação aceitou de bom grado...

Era totalmente evidente que ele continuasse sendo hóspede na casa de Seabhac. Assim, uma noite, ele se encontrava sentado com os homens junto ao fogo, onde eles conversavam a respeito dos acontecimentos do dia e, muito mais, de preferência a respeito do Pai Eterno e dos deuses.
— “Eu jamais ouvi dizer que o Pai Eterno nos guia” disse Golin uma noite, “e eu teria zombado de qualquer um que quisesse dizer algo a respeito sobre isso. Desde minha salvação isto se tornou uma vivência para mim. Agora eu também vejo a direção em tudo o mais que forma minha vida.”
— “Tu te modificastes muito Golin” respondeu Seabhac reconhecendo. “Pode-se notar em todo teu ser, o qual é perpassado agora pela vontade consciente de servir ao Pai Eterno.”
— “Isso eu devo a amizade de Fionn” respondeu Golin rapidamente, que viu chegar a desejada oportunidade. “Ele me abriu os olhos através de incansáveis ensinamentos, me presenteando com aquilo que unicamente torna a vida digna de ser vivida. Eu acredito que o Pai Eterno lhe deu forças especiais para tanto.”
— “Isto deve estar correto” concordou o príncipe. “Quando ele ainda era um menino foi-me transmitida a mensagem de cima, que ele fora escolhido para levar o saber a respeito do Pai Eterno a países distantes.” 

Como se houvesse caído um raio entre eles, ambos os amigos levantaram-se de um salto. Eles não conseguiram permanecer sentados.
— “Príncipe” exclamou Golin, o mais vivaz, “tu conseguistes guardar esse saber por tanto tempo contigo?”
— “Pai” interrompeu-o Fionn, “por que nunca me dissestes nada a respeito? Há anos eu me consumo no desejo de servir ao Pai Eterno, exatamente dessa forma!”
— “Meu filho, eu estava esperando que chegasse o tempo determinado pelo Pai Eterno” respondeu Seabhac com indescritível dignidade. “Tu deverias crescer em teu trabalho através do anseio que se tornava cada vez mais forte. Tu deverias realizar o início aqui no país para que tuas asas desabrochassem. Tu precisavas vivenciar primeiramente o fato de Golin ter chegado até nós, ganhando-o como amigo.”
— “O qual o será por toda a vida” disse aquele profundamente comovido. “Quando Fionn partir eu serei seu acompanhante.”
Então foram feitos planos. Fionn mal podia esperar que seu desejo se tornasse realidade. Mas ele compreendeu que primeiramente a casa do Filho de Deus deveria estar de pé e acabada, antes que eles pudessem partir. Isto fez com que ele participasse novamente do trabalho e retirasse alguns encargos de Golin, para que ele tivesse tempo com coisas melhores. Era um alegre trabalhar.
Os druidas, sobretudo Pieder, ofereciam-se para auxiliar e propunham sugestões para melhoria e embelezamento. O fato destas, na maioria das vezes serem irrealizáveis, não atrapalhava. Eles refletiam em outras. Golin deixava que eles assim fizessem, pois o pequeno incômodo que lhe surgia através disso era equilibrado de forma rica pela participação ativa que os sacerdotes tinham, inflamando a vontade de trabalhar dos homens.

Todos possuíam ânimo alegre naqueles meses, unicamente Cuimin parecia oprimido. Seabhac perguntou a Nuado se ele havia negligenciado algo junto ao filho, o qual parecia o mais distante dos três. O luminoso disse: “É um desenvolvimento natural para ele. Deixai-o assim. Ele ainda não sabe o que quer. Na hora certa ele o encontrará e revelará então a ti.”
Algumas semanas mais tarde essa época parecia haver chegado. Cuimin ansiava falar com o pai e encontrava-se tão alegre nessa ocasião, que até sabia que agora o motivo do descontentamento sairia à luz do dia.
— “Pai” começou o jovem príncipe “eu posso agora reger ao teu lado irrestritamente como se eu já fosse o chefe de nossa tribo. Eu sei que é muita bondade de tua parte se retrair por minha causa e me guiar de forma tão sábia.”
Divertido Seabhac refletia que agora seguiria o pedido para também deixar de lado tal forma sábia de guiar. Ele estava disposto a isso, entretanto o filho tinha algo diferente em mente.
— “Quando tu deixares a Terra um dia – e uma hora isso terá de acontecer também sem que o desejemos – então eu me tornarei príncipe e, vai faltar-me uma princesa, como também um herdeiro.”
Agora estava dito o que oprimia tanto o filho.
— “Então case-te Cuimin, eu saldarei isso com alegria, pois eu sei que tua escolha não conduzirá para o lar nenhuma moça indigna.”
— “Oh pai, esse na verdade é o problema” suspirou Cuimin tão profundamente, que Seabhac teve que reprimir novamente um sorriso, “onde devo eu buscar a princesa? Em nossa tribo não há nem uma única moça que pudesse preencher o local. E outras moças eu não vejo!”
— “Será que já não chegastes a ver alguma enquanto estivestes longe em tribos estranhas com Fionn?” perguntou o pai. Ele, porém, havia atingido o ponto certo. Corado, Cuimin confirmou que a filha do príncipe onde ele havia permanecido por mais tempo, não lhe saía da mente. Ela, porém, ainda era uma criança e ele não sabia como ela havia se desenvolvido.
— “Então cavalgue para o sul e veja” aconselhou o pai. “Eu ainda me encontro vivo e posso te representar aqui.”

Isto estava muito bem assim, ele apenas não queria aparecer como príncipe, mas sim como um homem simples e fazer suas averiguações. Então ele poderia voltar depois com toda a pompa para desposá-la.
— “Eu vejo que tu já refletiste em tudo. Então parta e execute o que tu havias imaginado” permitiu o príncipe. Uma voz interior lhe dizia que isso estava certo assim para o seu filho.
Acompanhado apenas por um servo de confiança, Cuimin cavalgou alguns dias mais tarde para ver a noiva. Ele tinha pressa, pois ele queria estar incondicionalmente de volta por ocasião do término da casa para o Filho de Deus.
Muito antes do que ele próprio esperara, ele já estava de volta. O pai que devido a isso temia um sinal de insucesso, fora rapidamente comunicado do contrário. Ele não havia ido até o sul, depois de ter ficado sabendo durante a viagem, que a filha do príncipe cuja imagem o havia acompanhado nos últimos anos, já havia se casado. Decepcionado ele quis retornar, então ocorreu um imprevisto, de modo que ele fora obrigado a parar na cidade Cassevel. O Príncipe Cassivelau havia morrido e, em seu local, regia seu filho. Além disso, vivia junto a filha Ysot, que era muito conhecida em todas as regiões ao redor, por sua beleza e bondade. Ele a havia observado de longe e seu coração se inflamara de paixão por ela. Ele não havia ousado aproximar-se dela, contudo pedia agora ao pai que o preparasse para saber como pedi­-la em casamento com toda a pompa.
— “Não queres que eu próprio faça isso para ti?” perguntou o pai bondosamente.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht 

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin