quarta-feira, 10 de maio de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XIX




Sobre a vida dos Celtas –XIX

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XVIII

Anteriormente: Cuimin cavalgou alguns dias para tentar encontrar sua princesa escolhida, sabendo de passagem que nos últimos anos ela já havia se casado, tendo, porém, conhecido no caminho outra moça como bom partido para casamento. Seabhac Habicht  decidiu ajudar na situação, pois era conhecido e influente nesse reino... 


— “Eu conheço o jovem príncipe, assim como conheci o antigo. Ele terá imediatamente confiança em mim. Então eu poderei organizar tudo da melhor forma.”
Cuimin estava satisfeito com isso, especialmente quando Seabhac prometeu partir tão logo que fosse possível, para que o casamento pudesse ser celebrado juntamente com a inauguração da casa de Deus.
— “A casa do Filho de Deus deve ser utilizada antes Dele próprio ingressar nela?” perguntou Cuimin admirado.
O pai lhe disse que era da vontade do Pai Eterno que futuramente todas as devoções fossem celebradas nessa casa. Também os matrimônios no futuro deveriam receber a bênção sacerdotal e, com isso, não carecer mais também da bênção rogada ao Pai Eterno.
Antes que ele partisse o príncipe chamou Brigit. Ele perguntou a ela se ela não gostaria de acompanhá-lo com algumas de suas mulheres.
— “A ti, minha filha, será dado reconhecer Ysot” esclareceu ele o seu desejo. “Se sua pureza não puder persistir diante de teus olhos, então Cuimin não deverá aceitá-la. Além disso, dará uma boa impressão ao príncipe se ele ver em que ambiente sua irmã irá morar.”

Ele havia receado ter de empregar muitos argumentos, mas Brigit se dispôs rapidamente a ir junto. Ela sabia que tanto para o país bem como para toda a família dependia muito disso, da forma como fosse a nova princesa. Se ela própria pudesse auxiliar a escolher, então a luminosa Brigit estaria ao seu lado.
À caminho, o pai contou à moça que escutava atentamente como Brigit lhe havia enviado Meinin à sua casa. Esse tempo permanecia-lhe especialmente vivo e era-lhe uma necessidade falar a respeito disso. Brigit era exteriormente a imagem da mãe, ela só parecia ainda mais delicada e mais fina.
Essa cavalgada em conjunto, que durou vários dias, aproximou pai e filha humanamente ainda mais. Até então, ambos, cada qual aprofundado em sua missão, não havia atentado tanto um ao outro. Agora eles viam quanto de belo e de valioso residia no outro, para o que até então, eles não haviam tido olhos nem tempo.
Príncipe Cassivellech recebeu o salvador de seu pai com os braços abertos, a respeito do qual ele já havia ouvido várias vezes e ainda se lembrava. Brigit deu-lhe uma profunda impressão, Ysot, porém, sentiu-­se plenamente atraída pela amável moça. Ela juntou-se à outra e apenas poucos dias bastaram para que uma firme ligação envolvesse o coração de ambas.
— “Case-te com meu irmão e fique aqui” pediu Ysot. “Eu não posso mais ficar sem ti.”
— “Eu sou uma sacerdotisa do Pai Eterno” respondeu Brigit suavemente. “Eu jamais me casarei. Mas há mais outro jeito que pode nos auxiliar a ficar juntas. Meu irmão Cuimin procura uma princesa. Estenda-lhe tua mão.”
À mesma hora Seabhac havia conversado com o príncipe a respeito, e como Ysot concordara com alegria, ficara resolvido o casamento. Cuimin deveria vir a fim de buscar a noiva. A data para isso fora estabelecida e também determinada a quantia do dote. Ali no sul não era mais costume, que um homem que desposasse a moça devesse comprá-la do pai. Ali, além da noiva, ele ainda recebia ricos tesouros para mantê-la.
Aguardado com impaciência por Cuimin, Seabhac chegou com seu acompanhamento novamente à pátria, onde tudo logo fora preparado para o casamento que se realizaria em breve. De repente um impelir e estimular tomou conta de Seabhac, de modo que nada pudesse ser realizado de forma suficientemente rápida. Isso se originava da inconsciente intuição de que seus dias terrenos estavam contados.
Brigit imaginava que a moradia paterna que se diferenciava tão pouco das cabanas dos demais homens, não era suficientemente boa para Ysot, acostumada à pompa. Seabhac concordou. Brigit deveria, então, continuar morando com suas mulheres no lar paterno e para Cuimin e sua esposa deveria ser construído um palácio assim como os outros príncipes possuía.

Cuimin estava satisfeito, desde que a construção não atrapalhasse a sua partida para buscar a noiva. Golin prometeu que a obra deveria começar imediatamente. Até o retorno de Cuimin o palácio já o estaria aguardando.
Uma ativa vida desenvolveu-se então. Todos os homens saudáveis foram convocados para a construção do palácio, desde que não precisassem acompanhar o jovem príncipe em sua viagem em busca da noiva. A comitiva fora preparada e ornamentada da melhor forma. Os dotes da noiva foram reunidos. E na casa de Deus os artesãos trabalhavam formando os adornos.
Ela parecia sagrada, aquela casa redonda que repousava sobre as colunas. Brigit achava que as colunas também poderiam ter sido redondas. Golin assegurou que ele jamais havia visto destas. Então ela deu-se por satisfeita. O telhado que repousava sobre essas colunas era constituído totalmente de madeira. Os arcos cortados ao meio arqueavam-se para cima. A pedra de sacrifícios, chamada por Golin de altar, era coberta pelo mais fino tecido branco, que a própria Brigit havia tecido. Sobre ele encontrava-se um único recipiente, que não servia como incensório. O incenso saía de outros receptáculos, que se encontravam divididos por todo o recinto sobre colunas de meia altura.
Um muro baixo rodeava a casa de Deus, distante mais ou menos dois metros dela. Ele deveria manter afastados animais selvagens, já que o espaço entre as colunas até o chão permanecia aberto.
Estando há poucos dias tudo pronto, cavaleiros mandados na dianteira anunciavam o retorno da comitiva principesca. Eles não podiam relatar o suficiente a respeito de sua cavalgada, a respeito da cidade estranha e da beleza da noiva do príncipe. Mas eles também haviam dado uma boa impressão, era o que achavam. Sobretudo eles foram admirados pela conduta rígida, pelo bom comportamento e por não incomodarem as mulheres.

Depois, logo mais atrás, chegaram Ysot com suas mulheres e Cuimin com dois de seus conselheiros de maior confiança. Pomposo era de se ver o pequeno grupo, todos se alegravam por avistá-los. O final da comitiva era composto por servos de ambos os noivos e os cavaleiros.
Ysot mal podia esperar até poder abraçar Brigit, junto a quem ela deveria morar provisoriamente. Ela havia confiado na nova irmã, no fato que o futuro marido lhe agradaria, sobretudo ele era mais sério do que todos os homens que ela havia conhecido até então.
Tão logo os viajantes haviam descansado, Pieder determinou o dia da consagração da casa de Deus, a qual fora realizada de forma digna e cheia de devoção. Ele implorou a bênção do Pai Eterno para todos que entrassem na casa com uma crença verdadeira e pediu para que a partir de então a força do Filho de Deus também fluísse por esse ambiente. Diante do povo inteiro ele abençoou então o matrimônio do casal de príncipes, o qual passou então a ocupar o novo palácio.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht 

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Golin – salvo de naufrágio no reino de Seabhac, Habicht, vindo da longínqua Gálea; era construtor.