sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Pela Nova Busca







Pela Nova Busca...


por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Vindo de local entre montanhas cobertas de neves eternas, pela ajuda de entes gigantes nativos de sua região, invisíveis para a maioria das pessoas, os quais eram seus únicos amigos, pois perdera seus pais desde cedo na vida; assim seguia o jovem e inocente Miang, só com sua cabra Fu-Fu, em busca do mestre que, deveria instruí-lo sobre assuntos ligados ao saber do Altíssimo, cujo local finalmente encontrara...  


Não foi uma concessão alegre sem restrições, sua chegada. O eremita tinha vivido na solidão por um tempo longo demais, ele não desejava mudar seus hábitos. Contudo, a chegada do menino não era a realização de suas preces ardentes? Toda vez que se lembrava disso nos meses seguintes, retomava seus ensinamentos calorosamente, os quais, vez por outra, deixavam cessar, completamente.
Miang não se importava muito com isso. Quando seu mestre estava comunicativo, absorvia o saber com alegre dedicação para, nos tempos taciturnos, repensá-lo e retrabalhá-lo no seu íntimo. Perguntas que surgidas eventualmente, ele mesmo deveria tentar resolvê-las ou deixá-las de lado, para mais tarde. O ancião não gostava de ser importunado com isso. Ele dava da maneira como dele brotava.
Quando era interrompido em seus pensamentos, ele podia ficar aborrecido e o silêncio tornava-se pesado. O melhor, nesse caso, era ficar longe dele.
Nesses períodos Miang empreendia caminhada através das montanhas, à procura de alimentos. O pão, trazido por pastores que vinham procurar ajuda, era muito escasso, de modo que nem sempre era suficiente para as poucas necessidades do ancião. Então Miang imitava sua Fu-Fu: alimentava-se de ervas. De vez em quando ele encontrava algum pastor, que procurava animais perdidos. A este podia auxiliar e recebia alguns alimentos como agradecimento. O alimento era pouco, mas, apesar disso, o pequeno se desenvolvia, pois estava tão absorvido nos novos reconhecimentos, que não percebia nenhuma escassez.
Assim passou longo espaço de tempo. Os dois eremitas perceberam isso pelo fato de que Miang tinha de se curvar quando queria entrar na morada. Certo dia, o ancião disse: 

Nada mais posso ensinar-te, menino. Está na hora de procurar outros mestres. Antes, porém, de deixar-me quero te dizer por que eu te aceitei. Eu sabia pouco sobre o Altíssimo, quando uma séria fatalidade me empurrou para esta solidão. Mas de coração eu O agradecia pelo abrigo e pedi a Ele que, me mostrasse como poderia servi-Lo. Aí escutei uma voz: “Escuta o teu íntimo e aguarde!”
Isso eu fazia por longo, longo tempo. Cada vez mais claros se tornava em mim o reconhecimento do Todo Poderoso e de Seu atuar. No início, eu pensava que todo o saber estava depositado em mim, que eu só precisaria cavar. Então percebi que, à minha busca, sempre respondia uma voz auxiliadora. A ela devo tudo o que sei e também foi ela que falou de ti. Quando em mim surgiu a certeza de que na inatividade não está o verdadeiro servir ao Altíssimo, ela me anunciou a tua chegada. Que tu eras destinado para ser o servo ativo do Todo Poderoso. Se eu te ensinasse e te mostrasse o caminho, então o meu dever estaria cumprido. Eu reconhecer-te-ia pelo fato de teres uma cabra como tua companheira. Também novo outro sinal foi me indicado – este seria do tipo espiritual. Tu vieste, com o sinal na testa, a cabra ao teu lado, e permaneceste comigo. Esta noite, porém, a voz comunicou-me que chegou o dia de continuares a tua caminhada. Então, ponha-te a caminho, Miang.

Em momento nenhum ocorreu ao ouvinte de perguntar, para onde agora deveria dirigir os seus passos. Seu Senhor Todo Poderoso, que o conduziu até aqui, continuaria a ajudá-lo.
“Passe bem, mestre,” disse ele diligentemente. “Deixa-me agradecer-te por tudo o que tens feito por mim. Ah, se pudesse demonstrar-te o meu agradecimento ainda melhor do que somente com palavras!
“Deixe-me ficar com a cabra. Seu leite me faria falta.”
O ancião o disse rapidamente, sem se dar conta de que com isso tirava de Miang o seu único amigo. Com a mesma rapidez o menino efetuou a separação. Ele acariciou Fu-Fu, que, menos célere que antigamente, lhe ficou ainda mais querida na convivência próxima. Em seguida, partiu.
Penosa foi sua caminhada por sobre pedregulho e escarpas. Certo é que, entrementes, tinha se acostumado a essa escalada em região inóspita, mas eram sempre somente trajetos curtos e com a certeza de que poderia voltar e chegar em casa. Agora peregrinava ao encontro de um destino por ele desconhecido.
Mas por nenhum instante perdeu a alegre confiança de que o Todo Poderoso, que até agora o tinha ajudado, continuaria a dirigir seus passos.
Certa vez, teve que descansar. Respirando fundo, olhava ao redor. Percebeu aí um gigante, rente a uma rocha íngreme. Quantas vezes tinha passado por aqui e nunca o tinha visto. Sem receio foi ao encontro do gigante que estava meio reclinado e cumprimentou-o. Sua contemplação não fez surgir medo, somente alegre confiança.
“Então,” foi a resposta do gigante, “finalmente os teus olhos se abriram? Inúmeras vezes passaste por cima de mim e eu poderia ter te segurado.”
“Então tu sempre estavas aqui como Uru e Muru, e eu não pude te enxergar!” exclamou Miang entusiasmado.
O gigante o interrompeu:” O que sabes de meus irmãos lá do outro lado? “
“Ah, esses eu conheço bem. Eles foram muito amáveis comigo. Eles me ajudaram mostrando o caminho que eu devia percorrer. Tu também irás me ajudar, se o Todo Poderoso assim o quiser?” acrescentou confiantemente.
“Aí não há dúvida. O que o Todo Poderoso quer, isso acontece! Poderá ser bem provável que eu deva auxiliar-te, ainda não o sei. Eu espero por um menino com uma cabra.”
Aí Miang reconheceu cheio de felicidade a atuação de seu Senhor.
“Esse sou eu!” exclamou em voz alta.
“O menino eu vejo. Onde está a cabra?”
“Ela ficou com o mestre.”
“Isso eu não compreendo. Conte-me!”
E Miang contou ao ouvinte atento o que a sua curta vida lhe proporcionou até agora.

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.