quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O Primeiro Mestre





O Primeiro Mestre

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Nascido num vale entre imensas montanhas escarpadas cobertas de neves eternas, cuja região nunca deixara, para continuar morando junto de um homem mau, que usurpara sua cabana, seus pertences, e ainda o castigava, assim era o inocente Miang, filho de mãe desconhecida e espólio único de pai, tendo por relevância na vida, apenas ocorrido enquanto pastoreava suas cabras em direção ao riacho local, encontrado em seu caminho seres nativos gigantescos, os quais se tornaram seus únicos amigos.  Deles ouviu relatos sobre a existência do Maior entre todos, como Criador do Universo. Pela ajuda também deles, partira em busca de maior sabedoria sobre o Altíssimo...  

E ele – o Sol – veio. Dessa forma Miang ainda não o havia visto, em sua majestade e beleza. Tudo parecia cor-de-rosa, dourado, até os picos ameaçadores de montanha perderam todo o seu horror. Por longo tempo permaneceu o menino contemplando, e muitos pensamentos acordaram no seu íntimo.
Nesse ínterim, Fu-Fu havia procurado por ervas escassas e matado sua fome. De maneira provocadora colocou-se ao lado de seu pequeno senhor, para que este fizesse o mesmo e bebesse. Então, foi assim que Miang escutou nitidamente uma voz, dizendo:

“Está na hora de iniciares o caminho. Vá ao encontro da Luz, Miang.” Ao voltar-se não percebeu ninguém que pudesse ter falado com ele. Mas as palavras ele as tinha escutado claramente, isso era suficiente. 

Dirigiu seus passos sobre neve, gelo e pedregulho em direção ao sol. Ele encontrou um raio de sol, que se estendeu dourado trêmulo sobre o deserto como uma fita estreita, e ele resolveu segui-lo enquanto o poderia avistar. 
Tinha que estar cuidadosamente atento aos seus passos. 
Não estava acostumado a caminhar nessa altitude. 
Várias vezes Fu-Fu, que o rodeava celeremente, o empurrava para longe de algum profundo precipício, no qual seguramente teria caído. 
Mais de uma vez escorregou, mas levantou-se rapidamente.
 Não deu importância à dor, todos os seus pensamentos caminhavam em direção ao alvo: encontrar o Altíssimo.

Perto do local, no qual ele agora – encostado à cabra – descansou, encontrava-se um homem de joelhos. Seu cabelo era de um branco prateado, sua figura curvada. Segurava as mãos trêmulas apertadas contra o rosto e em voz alta fluíam as palavras de sua prece:

“Ó Tu, Todo Poderoso! Deixa-me ainda vivenciar poder servir-Te conforme Tu o prometeste. Teu servo ficou velho, e fraco o seu invólucro terreno. Os dias passam, sem que o menino abençoado apareça. Não permita que me chamem desta Terra, antes que eu tenha Te servido verdadeiramente!”

Levantou a cabeça espreitando: Passos aproximaram-se sobre o pedregulho.

Ó Altíssimo, é esta a resposta ao meu pedido?”

Levantou-se o mais rápido que podia e saiu para fora. Os raios do sol brilhavam claramente, quase claros demais para os seus velhos olhos, acostumados à escuridão.
No meio desse esplendor caminhava um menino, acompanhado por uma cabra. O sinal prometido! “Ele virá para ti no brilhar do sol, seu alimento, porém, ele trará consigo, para que não sofram necessidades. Uma cabra célere será, de agora em diante, a tua companheira.”

Sem percebê-lo, por quase não se destacar de sua morada encaixada nas rochas, caminhava o menino confiantemente, olhando cuidadosamente para o chão. Levantou uma vez o olhar para o céu, e todo o brilho do sol espalhava-se sobre o seu rosto.
De repente, a cabra parou e impediu seu companheiro de seguir viagem. Agora, enfim, ele olhou ao seu redor e percebeu o velho.
Ele irrompeu numa exclamação de alegria. O eremita, entretanto, dominou-se. Ele não podia dar expressão à sua alegria.

“Quem és tu, forasteiro, que vens a essa solidão a estorvar o sossego de minha velhice?”

“Sou um menino, chamam-me de Miang. Venho de longe para que tu me fales do Altíssimo, mestre. Eu quero servir-te, até que eu encontre o Todo Poderoso e possa ser Seu servo. Peço aceitar a Fu-Fu e a mim com bondade e ensina-me, pois eu sou muito ignorante.”

Agora estava bem diante do velho e inclinou suplicante sua cabeça. Por um breve instante a mão direita do ancião pousou sobre a cabeça do menino. Como este era jovem e pequeno!

“Então entra, Miang. Apertado e escuro está aqui, moro na pobreza, mas posso te falar do Altíssimo.”

“Fu-Fu também pode se esquentar aqui dentro? Estamos com frio.”
Estremecendo disse-o o menino, quando entrou na moradia que parecia uma caverna, da qual emanava calor.

“Ela pode entrar,” concedeu o ancião.

Pouco depois, o mestre e seu hóspede estavam sentados sobre uma cama feita de peles empilhadas, aos seus pés estava deitada a cabra. O ancião buscou um pão duro e um cântaro de água quase vazio. Ofereceu ao menino e preparava-se para comer.

Rapidamente Miang abriu sua sacola e colocou um pedaço de carne seca e um pão mais macio diante do hospedeiro.
“Deixa-me comer o pão duro e pega este, mestre,” pediu ele, enquanto já ia se servindo. “Tens ainda algum outro vasilhame, para que possa dar-te leite de Fu-Fu? Ela quer te agradecer pelo calor.”
Enquanto ainda perguntava, percebeu uma pequena vasilha, rapidamente a buscou e encheu-a com o leite morno cheiroso. Avidamente bebia o ancião. Parecia que, com a bebida não costumeira, uma nova vida corria pelos seus membros.

“Altíssimo, eu Te agradeço!” exclamou radiante. “E também a ti agradeço, menino. Eu estava tão fraco antes que tu vieste. Este leite me reanimou extraordinariamente.”

“Não irá faltar-te, enquanto Fu-Fu viver,” garantiu Miang, acariciando a cabra.

A seguir, ele teve que relatar e grande foi o espanto do ancião, quando ouviu de que maneira o menino tinha chegado até ele.

“Podes realmente enxergar os gigantes e conversar com eles?” perguntou.
Miang afirmou entusiasticamente e acrescentou: “Eles me falaram de ti. De que outra forma poderia ter-te achado?”

“E o que queres fazer, quando tiver-te ensinado tudo o que eu mesmo sei?” O ancião precisava ter a confirmação daquilo que para ele já tinha se tornado certeza.

“Quando tu tiveres me dito tudo o que necessito saber para encontrar o meu caminho para o Altíssimo, então eu irei para junto Dele e servirei a Ele, mestre.”

“Então fique comigo.”

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.