quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Surpresa e Renovação Imediata







Surpresa e Renovação Imediata  

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Por influência de gigantes da natureza, invisíveis para muitos na matéria grosseira, o jovem Miang, após aprender com seu primeiro mestre, vivia junto de Fong, que era o segundo, ensinando-lhe agora lições mais duras da vida, antes dele conseguir sua iniciação nos assuntos mais elevados, ligados ao saber do Altíssimo, cuja situação de vida parecia monótona demais, pela meta que pretendia alcançar...

Até esse ponto haviam chegado os seus pensamentos, quando ouviu vozes de homens. Fong tinha parado, para escutar...
Mas não lhe pareciam totalmente inesperados, somente curiosidade, sem surpresa desenhava-se no rosto do homem, enquanto Miang sentiu um forte impulso de esconder-se em algum lugar. As mãos de Fong o seguraram. Juntos olharam para os que estavam chegando.
Dois homens aproximavam-se, trazendo as suas robustas montarias nas rédeas devido à trilha estreita. Tinham aspecto bem diferente das pessoas que Miang havia visto antigamente e as quais, como ele, tinham seus corpos cobertos com peles. Estes dois usavam vestimentas coloridas, o que parecia ao jovem surpreso algo imensamente suntuoso, causando-lhe, entretanto, certo desconforto.
Quando avistaram os dois que aguardavam, conduziram seus animais para detrás de alguns grandes rochedos, acalmando-os com algumas palavras. Depois vieram ao encontro de Fong.
“És tu Fong, príncipe da tribo amarela?” perguntaram em dúvida, porém, com respeito.
“Eu me chamo Fong,” retrucou o interpelado com dignidade. “O príncipe deixei de lado, juntamente com as vestimentas.”
“Então, a despeito disso, és aquele que procuramos. A tua tribo necessita do príncipe. Lá não existe mais ninguém que nos pudesse guiar. Venha conosco. Mais lá embaixo aguardam as montarias, servos e vestimentas.”
Involuntariamente Fong abanou a cabeça. Com receio inexplicável Miang olhou para ele. O que ele faria? Era ele realmente um príncipe? Como ele iria decidir-se? Aí soou a voz de Fong, calma e firme.
“Não por capricho eu vim para esta solidão, mas para procurar o Altíssimo, para que também o meu povo aprenda a encontrá-Lo. Se chegou o momento de meu retorno, então quero acompanhá-los.”
Cortando as alegres exclamações dos homens, prosseguiu: “Fiquem aqui essa noite, ainda quero procurar perscrutar a vontade do Altíssimo e lhes darei uma resposta amanhã.”
Ele não havia dito: “Fiquem comigo.” Com espanto viu Miang, como os homens se curvaram, caminharam calados até seus animais e retornaram pelo caminho pelo qual chegaram. Somente quando estavam fora do alcance da vista, Fong falou com profundo suspiro: “Então também nós teremos que voltar para casa, Miang. A hora da decisão chegou para mim, mas também para ti. Antes de dormir, deixe-nos pedir ao Altíssimo para que abra meus olhos e ouvidos para perscrutar Suas ordens.”
Foi uma oração maravilhosa, que Fong enviou ao alto para o seu Senhor. Longo tempo Miang ainda teve que refletir sobre a mesma. Esta oração e toda a silenciosa atuação de seu companheiro ensinaram-no a compreender melhor o sentido do servir do que tudo o que até então vivenciara.

Quando acordou na manhã seguinte, diante dele estava Fong, vestido com vestimentas suntuosas. Ele parecia tão majestoso, que involuntariamente Miang curvou-se diante dele, como o tinha visto os homens fazerem.
“Levanta-te, Miang, chegou a hora em que eu, a mando do meu Altíssimo Senhor, devo retornar para junto de meu povo. Se quiseres, isso não precisa ser uma separação para nós. Me é permitido levar-te, se tu assim o desejares.”
Miang não conseguiu proferir palavra alguma. Suplicando estendeu as mãos.
“Eu separei uma vestimenta para ti, ela será suficiente até que possamos providenciar uma melhor. Por ora, a época das peles terminou.”
Com agrado olhou para o jovem que, sem pensar muito, vestiu as peças estranhas que o deixou diante dele numa beleza inconsciente, singular.
Uma curta oração, uma rápida refeição, depois Fong pediu ao seu companheiro que deixasse a tenda.
“Vamos ir ao encontro dos homens. Nossos passos para a vida lá embaixo devem ocorrer voluntariamente.”
Fong instruiu o jovem para colocar em ordem os seus poucos pertences e as peles. Não levaram nada consigo, mas tudo deveria estar aprovisionado da melhor forma possível.
Depois caminharam para a vastidão dourada pelos raios do sol e rapidamente encontraram a trilha que levava para baixo.
À beira de um riacho, que do alto emaranhado de montanhas precipitava-se por entre as planícies verde-aveludadas, caminhava um belo jovem. Pensativo, mantinha a cabeça abaixada, não dando atenção aos passarinhos e a outras pequenas figuras que aqui e acolá dele se aproximavam confiantes.

Parecia não chegar a uma conclusão sobre aquilo que ocupava sua alma. Suspirando, sentou-se num bloco de granito e não percebeu que a água respingava justamente nesse local, cobrindo-o de vez em quando com uma golfada de gotas aperoladas. Agora, porém, algumas alcançaram o seu rosto. Indiferente, as secou e olhou ao seu redor.
“Então fui novamente para perto da água,” murmurou baixinho. “Parece que algo me chama. Será que as irmãs de Hima têm uma mensagem para mim? Então vou chamá-las logo.”
Levantou-se e lançou sua voz por cima do estrondo.
“Vós, irmãs, ouçam-me. Saudações, trago para vós de Hima, a formosa.” Debruçou-se escutando. Parecia ter ouvido um riso límpido, mas o estrondo das águas o tragou. Em lugar nenhum conseguiu avistar uma figura. Chamou novamente as mesmas palavras, outra vez sem êxito.
“Por que elas não vem? Elas me escutam, isso eu sinto. Eu preciso delas.”
Tinha dito isso contrariado, então pensou: “Se eu necessito delas, devo chamar de maneira diferente. Elas têm razão em não atender a tão tolo chamado. Eu não pedi que viessem.”
Sorrindo, fez novamente soar sua voz: “Ó, irmãs de Hima, aqui está um homem solitário que deseja dialogar com vocês. Peço-lhes que apareçam!”
Novo riso mais forte, simultaneamente o jovem sentiu-se envolvido como que por leves véus. Diante dele, no chuviscar da água, estava uma figura que lhe parecia bem conhecida.
“Hima!” exclamou alegremente.
“Não Hima,” soou ao seu encontro. “Eu me chamo Hila. Tu chamaste pelas irmãs. Não sabes tu que em cada água só vive e reina uma de nós? Se quiseres ver mais, tens que caminhar adiante.”
Foi dito de modo extrovertido. O ser humano ali não conseguia responder nesse tom brincalhão. “Hila, eu estou solitário,” disse suplicante.
“Isto eu já ouvi uma vez,” riu a ente. “Agora que estou contigo, essa solidão terminou. Ela também não precisaria existir, se nos teus pensamentos cismadores não te tivesses absorvido tão inutilmente. Olha ao teu redor: tudo vive e está disposto a ajudar-te.”

Assim como Hima o tinha feito antes, Hila indicou com o braço estendido ao redor e os olhos de Miang pareciam abrir-se. Em toda parte viu os pequenos e pequeníssimos entes, o vale do riacho parecia estar repleto de atividade. Suspirando aliviado, sentou-se novamente na pedra grande, enquanto a ninfa escolheu um lugar envolto de água para descansar.
“Tu estás recaindo em erros antigos, Miang,” animou ela o ser humano, que procurava por palavras. Com isso, porém, ela não conseguia desencadear o fluxo de suas palavras, ao contrário: ele teve que refletir tão intensamente sobre o sentido de suas palavras, que esqueceu tudo ao seu redor.
“Erros antigos?” murmurou ele. “Erros antigos?”
Um som surdo, que parecia soar demoradamente de longe, o fez sobressaltar-se.
“O príncipe chama, adeus Hila, eu voltarei.”
“Procura o teu erro,” ecoou da água, mas Miang já tinha se afastado a passos largos.
Quando, seguindo o som, chegou ao local onde um homem, com toda sua força, fez soar os sons graves através de um enorme chifre de animal, encontrou-se em meio a intenso movimento. De todos os lados homens aproximavam-se, cada um tinha deixado os seus afazeres para ouvir o que o príncipe desejava. Após algum tempo todos pareciam estar presentes, pois o chifre silenciou, em seu lugar ouvia-se a voz de grande alcance de um homem, que subiu numa plataforma de pedras empilhadas.

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16