quinta-feira, 17 de novembro de 2016

É Só Deixar-se Conduzir







É Só Deixar-se Conduzir  


por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Na decisão de servir o Altíssimo, guiado por gigantes da natureza, entes invisíveis para muitos na matéria grosseira, o jovem Miang, após aprender tudo pelo nível de seu primeiro mestre, encontrou Fong, como segunda etapa de ensino, agora com lições mais duras numa situação de vida que parecia monótona demais, até descobrir que seu mestre era o príncipe de um imenso reino, carente no momento de sua presença e direção, para o qual resolveu voltar...

De todos os lados homens aproximavam-se, cada um tinha deixado os seus afazeres para ouvir o que o príncipe desejava:

“O príncipe Fong comunica a vós, ó homens, que é necessário combater os animais predadores que parecem ter-se multiplicado enormemente, causando grande prejuízo aos nossos rebanhos.”
Um murmúrio surdo perpassava as fileiras dos ouvintes.” Apesar de os nossos pastores terem recebido a ajuda de uma escolta,” continuou o palestrante, “não lhes é possível defender-se das pilhagens noturnas. Mas o que ainda é pior, nos chegam notícias de assaltos aos assentamentos em direção ao nascer do sol, contra os quais as mulheres e crianças são impotentes.” O murmúrio intensificou-se, exclamações indignadas fizeram-se ouvir, algumas mãos se ergueram.
“Deve ser prestado auxílio imediato e uma expedição guerreira deve ser empreendida contra os bandidos”
Subitamente levantaram-se as cabeças dos homens, seus membros se aprumaram: uma expedição guerreira, isto era uma notícia bem-vinda!
“O príncipe Fong manda convocar-vos, ó homens. Não deveis acompanhá-lo obrigados, isso deve acontecer voluntariamente. Também não devem participar desse grupo os anciãos e nem os jovens, pois será um empreendimento sério que exige valentia. Devem ficar também aqueles cujo cargo assim o exige. Voltem para casa e decidam quem quer atender ao chamado. Voltem aqui hoje antes do anoitecer.”
O anunciante deixou a plataforma e foi imediatamente circundado pela multidão excitada. Cada um parecia ter perguntas: “Em que direção seguiria o grupo, se o príncipe os acompanharia e quem deveria ser considerado jovem e muitas coisas mais. Inicialmente o homem deu respostas pacientemente, quando a afluência das pessoas aumentou, ele se desvencilhou.
“Miang, onde está Miang,” gritou ele por sobre as vozes agitadas. “O príncipe Fong chama-te. Eu te acompanho.” Rapidamente Miang dirigiu-se para perto dele. Juntos abriram caminho por entre a multidão que se debandava em vários grupos.
“Achas, Hang, que o príncipe irá levar-me junto”? perguntou excitado. O outro o olhou, detendo os passos por um momento, e levantou a mão, indeciso.
“Isto ninguém pode prever,” foi sua resposta.
“Se tu fosses um de nossos jovens eu não teria dúvida, mas contigo ele tem algo especial em mente. No entanto, receberás tua resposta imediatamente,” acrescentou Hang sorrindo, “lá adiante vejo o príncipe nos aguardando.”

 Em frente a uma grande bonita tenda estava Fong, a cujo aspecto totalmente modificado Miang teve que se acostumar sempre de novo. Não eram somente as suas pomposas vestimentas que tornaram a sua figura extremamente imponente, também não somente a expressão de seu semblante, mas pairava uma altivez sobre o seu antigo companheiro, que parecia excluir qualquer intimidade. Miang sentiu-se incapaz de aproximar-se de Fong da maneira habitual. Extintos pareciam os últimos dias de deliciosa amizade na selvagem região montanhosa. Também agora o jovem aproximou-se com profunda reverência ao que o aguardava e esperou que ele lhe dirigisse a palavra, mesmo que tudo dentro dele o impelia a falar e perguntar. Se tivesse levantado o olhar, deveria ter notado o olhar paternal de Fong sobre ele.
“Miang, mandei chamar-te,” assim iniciou, “porque tenho assuntos importantes para tratar contigo. Como foste informado, eu devo partir amanhã com os meus súditos contra os animais ferozes.”
Interrompendo-se involuntariamente, notou como o semblante de Miang cobriu-se com palidez mortal. “O que tens?” exclamou assustado.
“Meu pai também partiu e nunca mais voltou,” respondeu Miang impetuosamente.
“Isso não é motivo de supor que eu também não retorne,” sorriu Fong amavelmente. “Então ao menos me deixe acompanhar-te,” irrompeu do jovem.”Mas já percebo que queres dizer não. Falaste dos teus súditos. Eu sou o estranho que toleras com bondade, mas do qual tu não necessitas!”
Fong tentou em vão interromper as palavras que brotavam. Somente quando o exaltado parou para respirar, foi-lhe possível dizer com voz firme, amigável: “Estás num caminho errado, Miang, que te levará ao emaranhado de velhos erros. Eu havia te escolhido para guiar o povo na minha ausência. Porém, quem não é capaz de controlar-se a si mesmo, não pode guiar outros.”
Suspirando em silêncio, afastou-se e deixou Miang sozinho, uma presa dos mais conflitantes sentimentos. Decepção, vergonha, arrependimento clamavam no peito de Miang. Teve vontade de fugir para a solidão, sentiu-se, porém, preso a este local, do qual tinha que observar como Lung, um homem mais idoso, prudente, foi chamado pelo príncipe e provavelmente incumbido com a representação. Depois viu os preparativos para a caça e a dor de talvez perder Fong sobrepôs-se a todas as outras vozes.

E com esse medo na alma arrastou-se até a sua tenda e jogou-se sobre o seu leito de peles. Hora após hora passou, ele não o percebeu. Quando olhou ao redor, o breve crepúsculo já havia chegado e a lua quase cheia enviou a sua luz prateada por sobre a paisagem.
Agora a reunião certamente já havia começado. Miang assustou-se, entretanto, consolou-se com o fato de que o príncipe havia recusado a sua participação no grupo. Assim também era supérfluo nos preparativos. Mas a partida dele, queria e precisava ver!
Saiu de sua tenda e esgueirou-se até a tenda de seu antigo companheiro. Esperou por longo tempo, depois, ruídos confusos, vozes, o fungar dos cavalos indicaram o encerramento da reunião. Agora o príncipe deveria aparecer.
Miang queria tentar obter alguma tarefa para o período da ausência. Se pedisse humildemente, certamente Fong não recusaria. Mas o que foi isso? O ruído vindo do local de reunião afastava-se mais e mais. Não havia dúvida, o grupo tinha se formado e estava partindo a galope!
Aniquilado, Miang ficou parado ao lado da tenda, estremecendo de agitação interior. Fong havia partido, talvez para nunca mais voltar! Fong novamente o havia rejeitado! O que havia dito para o nobre zangar-se? Quando, desesperado, se fez essa pergunta, ouviu dentro de si o eco de suas próprias palavras tolas e a resposta severa, repreensiva, do príncipe entremeado à chamada de Hila, como canto de pássaros: “Procura teu erro!”
Envergonhado esgueirou-se novamente para sua tenda, jogou-se de joelhos diante de seu leito e implorou ao Altíssimo por clareza, para reconhecer seu erro e o seu caminho, por força para finalmente trilhar esse caminho!
Por longo tempo permaneceu absorto, nenhum ruído o atrapalhava, de modo que finalmente adormeceu. Pareceu-lhe, então, que viu um homem muito jovem num caminho solitário. Este caminho era estreito, mas de grande beleza em meio a uma paisagem selvagem com todo tipo de perigos iminentes. Às vezes a subida era íngreme, então o caminhante parava, como se tivesse dificuldade de respirar, porém, não olhou para trás. Somente agora Miang percebeu que os olhos do homem estavam fechados. Mas então era surpreendente que esse jovem conseguia caminhar de modo seguro. Ainda enquanto Miang considerava isso, viu o caminhante tropeçar, mas antes que esse pudesse cair, ele foi agarrado de cima por uma mão muito grande, luminosa, que o empurrou novamente sobre o caminho seguro. Isso se repetiu várias vezes. Quando a mão então novamente quis colocá-lo no caminho certo, o homem abanou a cabeça negativamente. Ele começou a apalpar as imediações e fez tentativas de trilhar um caminho diverso do indicado pela mão auxiliadora. Miang ficou impaciente.
“Deixa-te guiar, pois tu mesmo estás cego!” gritou para a figura do sonho. Este, porém, tinha se demorado muito tempo com a procura. Nisso havia perdido o caminho até então trilhado, tinha chegado a um declive úmido, coberto de musgo e escorregou irresistivelmente rumo ao precipício.

Miang acordou com um grito. O que aconteceu? Nitidamente ainda via o jovem resvalar e deslizar pelo caminho escorregadio em direção ao abismo. Ficou com medo. Subitamente sabia que era ele o jovem! O Altíssimo não o havia conduzido até agora, assim como ele o havia visto agora? Ele nunca soube para onde o seu caminho o conduziria, também não o sabia agora. Só uma coisa estava certa. O Altíssimo o mandava conduzir com mão firme. Ele só deveria deixar-se conduzir.
Era isso! Agora caiu-lhe a venda dos olhos. “Deixar-se conduzir,” isto ele tinha que aprender, isto era o mais importante, pois ele não conhecia o caminho até o Altíssimo! Mas como devia fazer isso, se deixar conduzir? “Não ter vontade própria,” murmurou uma voz dentro dele. Sim, o que foi que ele queria? O que não havia estado de acordo com a vontade do Altíssimo?
Então, novamente viu Fong diante de si, Fong, que até agora o havia instruído e conduzido a mando do Altíssimo. Sim, a mando do Altíssimo! Isto Miang havia esquecido. Ele mesmo queria decidir, interferir. E agora? Encontrava-se ele realmente já diante do abismo? Com perigo de precipitar-se?
Calor percorreu as suas veias. Nenhum passo deveria seguir nesse caminho, que o levava ao perigo máximo.
“Ó, Todo Poderoso,” irrompeu dele, “quero tornar-me Teu servo, ajuda-me para que não venha a desviar-me do caminho, que devo trilhar até junto a Ti!”
Não agüentava mais ficar dentro da tenda, correu para o ar livre.
A lua estava no alto do céu, mas a Miang parecia que algo o chamava e o puxava mais longe para a natureza. Era Hila, que o chamava?
Aqui fora estava claro que nem dia. A luz da lua pairava prateada sobre cada pedra, cada palhinha de grama. Em pensamentos profundos caminhava Miang meio inconsciente para diante. De repente, seu pé esbarrou numa pedra saliente. Ele tropeçou, quase caiu. Levantou o olhar fixado no chão. Então viu algo que até então nunca havia visto. Uma figura envolta em luz encontrava-se diante dele, sorriu para ele.
Estupefato Miang olhou para o milagre.
“Quem és tu?” balbuciaram seus lábios.
“Teu amigo,” veio cristalina a resposta.
“Meu amigo? Mas eu não te conheço!”
“Realmente não, Miang?” tinia novamente tão cristalino, tão amável até ele.

Então parecia como se um véu se rasgasse diante de seus olhos. Ele olhou nos olhos da figura e então lhe veio uma recordação, que ainda não conseguia compreender, captar.
“Não continua procurando por ora,” ordenou o desconhecido. “Escuta-me, Miang. Eu sou teu amigo, já lhe disse. O Altíssimo enviou-me para ajudar-te. Diga-me em que posso te ajudar.”
Fervorosamente irrompeu de Miang: “Ó, Todo Poderoso, eu Te agradeço! Maravilhosamente escutaste o meu rogo! Eu Te agradeço!”
Então se dirigiu ao estranho:
“Eu não sei mais o que devo fazer para me tornar um servo do Altíssimo, e mesmo assim sei que devo sê-lo!”
“Tu fazes demais!” disse ele, calando-se novamente.
Perplexo, Miang olhou para ele. Não deveria fazer mais nada? Mas Fong não teve que transportar pedras, a mando do Altíssimo, e, ele não teve que ajudá-lo nesse trabalho, por ordem do Altíssimo?
Parecia que o luminoso lia todos os pensamentos que perpassavam Miang.
“Trabalhar deves, deves movimentar tuas mãos. Muito trabalho te aguarda. Mas deves fazê-lo como servo, em obediência ao teu Senhor, não rebelar-te e querer saber melhor.
Ontem Fong quis confiar-te a condução de sua tribo. Tu, porém, só estavas cheio de medo de que Fong pudesse expor-se ao perigo e nele sucumbir. Procurou medrosamente retê-lo, e mesmo assim, era o seu dever de partir e livrar o seu povo da praga das feras. Não sabias tu que Fong é um servo do Altíssimo e somente atua conforme as Suas ordens? Considera, opuseste-te ao Altíssimo, não a Fong!”
Totalmente perplexo escutou Miang essas palavras. Agora a névoa em seu interior, que tudo tinha encoberto, se afastava. Sentia vergonha.

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16