É Só Deixar-se Conduzir
por
Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf
Sinopse de Fatos Transcorridos: Na decisão de servir o Altíssimo, guiado por gigantes da
natureza, entes invisíveis para muitos na matéria grosseira, o jovem Miang,
após aprender tudo pelo nível de seu primeiro mestre, encontrou Fong,
como segunda etapa de ensino, agora com lições mais duras numa situação de vida
que parecia monótona demais, até descobrir que seu mestre era o príncipe de um
imenso reino, carente no momento de sua presença e direção, para o qual resolveu
voltar...
De todos os lados homens aproximavam-se, cada um tinha deixado
os seus afazeres para ouvir o que o príncipe desejava:
“O
príncipe Fong comunica a vós, ó homens, que é necessário combater os animais
predadores que parecem ter-se multiplicado enormemente, causando grande
prejuízo aos nossos rebanhos.”
Um
murmúrio surdo perpassava as fileiras dos ouvintes.” Apesar de os nossos
pastores terem recebido a ajuda de uma escolta,” continuou o palestrante, “não
lhes é possível defender-se das pilhagens noturnas. Mas o que ainda é pior, nos
chegam notícias de assaltos aos assentamentos em direção ao nascer do sol,
contra os quais as mulheres e crianças são impotentes.” O murmúrio
intensificou-se, exclamações indignadas fizeram-se ouvir, algumas mãos se
ergueram.
“Deve
ser prestado auxílio imediato e uma expedição guerreira deve ser empreendida
contra os bandidos”
Subitamente
levantaram-se as cabeças dos homens, seus membros se aprumaram: uma expedição
guerreira, isto era uma notícia bem-vinda!
“O
príncipe Fong manda convocar-vos, ó homens. Não deveis acompanhá-lo obrigados,
isso deve acontecer voluntariamente. Também não devem participar desse grupo os
anciãos e nem os jovens, pois será um empreendimento sério que exige valentia.
Devem ficar também aqueles cujo cargo assim o exige. Voltem para casa e decidam
quem quer atender ao chamado. Voltem aqui hoje antes do anoitecer.”
O
anunciante deixou a plataforma e foi imediatamente circundado pela multidão
excitada. Cada um parecia ter perguntas: “Em que direção seguiria o grupo, se o
príncipe os acompanharia e quem deveria ser considerado jovem e muitas coisas
mais. Inicialmente o homem deu respostas pacientemente, quando a afluência das
pessoas aumentou, ele se desvencilhou.
“Miang,
onde está Miang,” gritou ele por sobre as vozes agitadas. “O príncipe Fong
chama-te. Eu te acompanho.” Rapidamente Miang dirigiu-se para perto dele.
Juntos abriram caminho por entre a multidão que se debandava em vários grupos.
“Achas,
Hang, que o príncipe irá levar-me junto”? perguntou excitado. O outro o olhou,
detendo os passos por um momento, e levantou a mão, indeciso.
“Isto
ninguém pode prever,” foi sua resposta.
“Se
tu fosses um de nossos jovens eu não teria dúvida, mas contigo ele tem algo
especial em mente. No entanto, receberás tua resposta imediatamente,” acrescentou
Hang sorrindo, “lá adiante vejo o príncipe nos aguardando.”
Em
frente a uma grande bonita tenda estava Fong, a cujo aspecto totalmente
modificado Miang teve que se acostumar sempre de novo. Não eram somente as suas
pomposas vestimentas que tornaram a sua figura extremamente imponente, também
não somente a expressão de seu semblante, mas pairava uma altivez sobre o seu
antigo companheiro, que parecia excluir qualquer intimidade. Miang sentiu-se
incapaz de aproximar-se de Fong da maneira habitual. Extintos pareciam os
últimos dias de deliciosa amizade na selvagem região montanhosa. Também agora o
jovem aproximou-se com profunda reverência ao que o aguardava e esperou que ele
lhe dirigisse a palavra, mesmo que tudo dentro dele o impelia a falar e perguntar.
Se tivesse levantado o olhar, deveria ter notado o olhar paternal de Fong sobre
ele.
“Miang,
mandei chamar-te,” assim iniciou, “porque tenho assuntos importantes para
tratar contigo. Como foste informado, eu devo partir amanhã com os meus súditos
contra os animais ferozes.”
Interrompendo-se
involuntariamente, notou como o semblante de Miang cobriu-se com palidez
mortal. “O que
tens?” exclamou
assustado.
“Meu
pai também partiu e nunca mais voltou,” respondeu Miang impetuosamente.
“Isso
não é motivo de supor que eu também não retorne,” sorriu Fong amavelmente. “Então ao menos me deixe
acompanhar-te,”
irrompeu do jovem.”Mas
já percebo que queres dizer não. Falaste dos teus súditos. Eu sou o estranho
que toleras com bondade, mas do qual tu não necessitas!”
Fong
tentou em vão interromper as palavras que brotavam. Somente quando o exaltado
parou para respirar, foi-lhe possível dizer com voz firme, amigável: “Estás num caminho errado, Miang,
que te levará ao emaranhado de velhos erros. Eu havia te escolhido para guiar o
povo na minha ausência. Porém, quem não é capaz de controlar-se a si mesmo, não
pode guiar outros.”
Suspirando
em silêncio, afastou-se e deixou Miang sozinho, uma presa dos mais conflitantes
sentimentos. Decepção, vergonha, arrependimento clamavam no peito de Miang.
Teve vontade de fugir para a solidão, sentiu-se, porém, preso a este local, do
qual tinha que observar como Lung, um homem mais idoso, prudente, foi chamado
pelo príncipe e provavelmente incumbido com a representação. Depois viu os
preparativos para a caça e a dor de talvez perder Fong sobrepôs-se a todas as
outras vozes.
E
com esse medo na alma arrastou-se até a sua tenda e jogou-se sobre o seu leito
de peles. Hora após hora passou, ele não o percebeu. Quando olhou ao redor, o
breve crepúsculo já havia chegado e a lua quase cheia enviou a sua luz prateada
por sobre a paisagem.
Agora
a reunião certamente já havia começado. Miang assustou-se, entretanto,
consolou-se com o fato de que o príncipe havia recusado a sua participação no
grupo. Assim também era supérfluo nos preparativos. Mas a partida dele, queria
e precisava ver!
Saiu
de sua tenda e esgueirou-se até a tenda de seu antigo companheiro. Esperou por
longo tempo, depois, ruídos confusos, vozes, o fungar dos cavalos indicaram o
encerramento da reunião. Agora o príncipe deveria aparecer.
Miang
queria tentar obter alguma tarefa para o período da ausência. Se pedisse
humildemente, certamente Fong não recusaria. Mas o que foi isso? O ruído vindo
do local de reunião afastava-se mais e mais. Não havia dúvida, o grupo tinha se
formado e estava partindo a galope!
Aniquilado,
Miang ficou parado ao lado da tenda, estremecendo de agitação interior. Fong
havia partido, talvez para nunca mais voltar! Fong novamente o havia rejeitado!
O que havia dito para o nobre zangar-se? Quando, desesperado, se fez essa
pergunta, ouviu dentro de si o eco de suas próprias palavras tolas e a resposta
severa, repreensiva, do príncipe entremeado à chamada de Hila, como canto de
pássaros: “Procura teu erro!”
Envergonhado
esgueirou-se novamente para sua tenda, jogou-se de joelhos diante de seu leito
e implorou ao Altíssimo por clareza, para reconhecer seu erro e o seu caminho,
por força para finalmente trilhar esse caminho!
Por
longo tempo permaneceu absorto, nenhum ruído o atrapalhava, de modo que
finalmente adormeceu. Pareceu-lhe, então, que viu um homem muito
jovem num caminho solitário. Este caminho era estreito, mas de grande beleza em
meio a uma paisagem selvagem com todo tipo de perigos iminentes. Às vezes a
subida era íngreme, então o caminhante parava, como se tivesse dificuldade de
respirar, porém, não olhou para trás. Somente agora Miang percebeu que os olhos
do homem estavam fechados. Mas então era surpreendente que esse jovem conseguia
caminhar de modo seguro. Ainda enquanto Miang considerava isso, viu o
caminhante tropeçar, mas antes que esse pudesse cair, ele foi agarrado de cima
por uma mão muito grande, luminosa, que o empurrou novamente sobre o caminho
seguro. Isso se repetiu várias vezes. Quando a mão então novamente quis
colocá-lo no caminho certo, o homem abanou a cabeça negativamente. Ele começou
a apalpar as imediações e fez tentativas de trilhar um caminho diverso do
indicado pela mão auxiliadora. Miang ficou impaciente.
“Deixa-te guiar, pois tu mesmo estás cego!” gritou para a
figura do sonho. Este, porém, tinha se demorado muito tempo com a procura.
Nisso havia perdido o caminho até então trilhado, tinha chegado a um declive
úmido, coberto de musgo e escorregou irresistivelmente rumo ao precipício.
Miang
acordou com um grito. O que aconteceu? Nitidamente ainda via o jovem resvalar e
deslizar pelo caminho escorregadio em direção ao abismo. Ficou com medo.
Subitamente sabia que era ele o jovem! O Altíssimo não
o havia conduzido até agora, assim como ele o havia visto agora? Ele nunca
soube para onde o seu caminho o conduziria, também não o sabia agora. Só uma
coisa estava certa. O Altíssimo o mandava conduzir com mão firme. Ele só deveria deixar-se conduzir.
Era
isso! Agora caiu-lhe a venda dos olhos. “Deixar-se conduzir,” isto ele tinha que aprender, isto era o mais importante, pois
ele não conhecia o caminho até o Altíssimo! Mas como devia fazer isso, se
deixar conduzir? “Não ter vontade própria,” murmurou uma voz dentro dele. Sim,
o que foi que ele queria? O que não havia estado de acordo com a vontade do
Altíssimo?
Então,
novamente viu Fong diante de si, Fong, que até agora o havia instruído e
conduzido a mando do Altíssimo. Sim, a mando do Altíssimo! Isto Miang havia
esquecido. Ele mesmo queria decidir, interferir. E agora? Encontrava-se ele
realmente já diante do abismo? Com perigo de precipitar-se?
Calor
percorreu as suas veias. Nenhum passo deveria seguir nesse caminho, que o
levava ao perigo máximo.
“Ó,
Todo Poderoso,” irrompeu dele, “quero tornar-me Teu servo, ajuda-me para que
não venha a desviar-me do caminho, que devo trilhar até junto a Ti!”
Não
agüentava mais ficar dentro da tenda, correu para o ar livre.
A
lua estava no alto do céu, mas a Miang parecia que algo o chamava e o puxava
mais longe para a natureza. Era Hila, que o chamava?
Aqui
fora estava claro que nem dia. A luz da lua pairava prateada sobre cada pedra,
cada palhinha de grama. Em pensamentos profundos caminhava Miang meio
inconsciente para diante. De repente, seu pé esbarrou numa pedra saliente. Ele
tropeçou, quase caiu. Levantou o olhar fixado no chão. Então viu algo que até
então nunca havia visto. Uma figura envolta em luz encontrava-se diante dele,
sorriu para ele.
Estupefato
Miang olhou para o milagre.
“Quem
és tu?” balbuciaram seus lábios.
“Teu
amigo,” veio cristalina a resposta.
“Meu
amigo? Mas eu não te conheço!”
“Realmente
não, Miang?” tinia novamente tão cristalino, tão amável até ele.
Então
parecia como se um véu se rasgasse diante de seus olhos. Ele olhou nos olhos da
figura e então lhe veio uma recordação, que ainda não conseguia compreender,
captar.
“Não
continua procurando por ora,” ordenou o desconhecido. “Escuta-me, Miang. Eu sou
teu amigo, já lhe disse. O Altíssimo enviou-me para ajudar-te. Diga-me em que
posso te ajudar.”
Fervorosamente
irrompeu de Miang: “Ó, Todo Poderoso, eu Te agradeço! Maravilhosamente
escutaste o meu rogo! Eu Te agradeço!”
Então
se dirigiu ao estranho:
“Eu
não sei mais o que devo fazer para me tornar um servo do Altíssimo, e mesmo
assim sei que devo sê-lo!”
“Tu
fazes demais!” disse ele, calando-se novamente.
Perplexo,
Miang olhou para ele. Não deveria fazer mais nada? Mas Fong não teve que
transportar pedras, a mando do Altíssimo, e, ele não teve que ajudá-lo nesse trabalho, por ordem do Altíssimo?
Parecia
que o luminoso lia todos os pensamentos que perpassavam Miang.
“Trabalhar
deves, deves movimentar tuas mãos. Muito trabalho te aguarda. Mas deves fazê-lo
como servo, em obediência ao teu Senhor, não rebelar-te e querer saber melhor.
Ontem
Fong quis confiar-te a condução de sua tribo. Tu, porém, só estavas cheio de
medo de que Fong pudesse expor-se ao perigo e nele sucumbir. Procurou
medrosamente retê-lo, e mesmo assim, era o seu dever de partir e livrar o seu
povo da praga das feras. Não sabias tu que Fong é um servo do Altíssimo e
somente atua conforme as Suas ordens? Considera, opuseste-te ao Altíssimo, não
a Fong!”
Totalmente
perplexo escutou Miang essas palavras. Agora a névoa em seu interior, que tudo
tinha encoberto, se afastava. Sentia vergonha.
(continua)
Trecho extraído do livro: Miang
Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou
o Tibete das trevas.
NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA)
No
próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:
O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus
aos Gigantes – 23/09/16
O
Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... –
07/10/16
Servir o Altíssimo Como
Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas –
20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho
– 26/10/16
No Momento certo se
esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação
Imediata – 10/11/16