Quem Procura Encontra
por
Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf
Sinopse de Fatos Transcorridos: Por influência de uma infância
carente e solitária ao lado só de gigantes da natureza, considerados invisíveis
para muitos, decidido a servir o Altíssimo na vida, peregrinava o jovem Miang, tendo
aprendido com seu primeiro mestre, indo depois morar junto de Fong,
que era o segundo, o qual após algumas vivências desagradáveis ensinando-lhe a
realidade da vida: revelou-se um príncipe, cujo reino requeria sua presença,
tendo desta vez um motivo inadiável para se afastar de seu aluno, deveras
inseguro...
Miang
caiu numa introspecção tão profunda que nem se deu conta que estava novamente
sozinho. A alvorada já se aproximava e ele continuava refletindo absorto.
Inconscientemente prosseguira, encontrando-se repentinamente junto ao pequeno
riacho, onde sabia que estava Hila, a ondina. Perpassou-lhe o pensamento –
deveria chamá-la?
Antes
mesmo de chegar a uma decisão, repartiram-se as ondas e o rosto travesso de
Hila apareceu.
“Como
é, servo do Altíssimo, encontraste o teu erro?”
“Sim”
exclamou Miang alegremente. Um peso enorme lhe foi tirado do coração.
“Eu
o vejo,” confirmou Hila, “e fico feliz com isso.”
Ela
acenou para ele e, antes que ele conseguisse responder algo, havia
desaparecido. Agora, porém, Miang não mais se deteve ali. Voltou rapidamente,
rogando em silêncio que lhe fosse mostrado o que tinha que fazer. Ainda não
havia alcançado a sua tenda, quando encontrou um mensageiro, que alegremente
exclamou:
“Que
bom, que te encontro! Trago-te uma mensagem do príncipe Fong. Aqui está ela.”
Postou-se
com as pernas abertas diante de Miang e repetiu devagar e claramente as
palavras, como Fong o tinha encarregado.
“Diga
ao meu filho Miang, que não continue inativo em sua tenda. Ele deve ir e
procurar aquele trabalho que está destinado a ele. Quem
procura seriamente, esse encontra.”
“Entendeste
a mensagem, jovem?” perguntou o mensageiro, e Miang acenou afirmativamente.
“Então está bem.”
Sem
mais uma palavra, o mensageiro deu as costas e prosseguiu seu caminho. Miang,
porém, não sabia bem o que fazer. Onde deveria procurar o seu trabalho? Ele
estava disposto, mas não sabia onde devia começar. Entretanto, o que havia
aprendido esta noite? “Deixar-se conduzir, nada querer sozinho.” Assim ele
queria agir.
Silenciosamente rogou ao Altíssimo:
Silenciosamente rogou ao Altíssimo:
“Altíssimo,
permita que reconheça o que devo fazer!”
Então,
continuou caminhando devagar. Diante de si estava o amplo vale, no qual a tribo
amarela armara as suas tendas. O sol agora já havia nascido e viva atividade
via-se ao redor das tendas. As mulheres assavam pão sobre pedras aquecidas.
Crianças as rodeavam e se deliciavam com o aroma que dali emanava. Muitos dos
homens haviam partido, porém, ainda havia número suficiente. Eles tratavam dos
cavalos, e mais distante, nas verdes encostas, via-se rebanhos de ovelhas com
seus pastores.
Miang
ponderava, indeciso, para onde deveria dirigir seus passos, quando uma
menininha correu ao seu encontro. Estava tão apressada, que esbarrou nele e ele
a amparou em seus braços.
“Para
onde vais com tanta pressa, pequena menina?” perguntou Miang rindo.
Séria,
a pequena respondeu, tirando os seus densos cabelos escuros do rosto: “Devo
buscar ajuda, meu pai está doente. Sente dores, queixa-se e geme.”
“A
quem querias pedir ajuda, pequena?” perguntou Miang.
“Husa,
a anciã, ela possui ervas curativas. Mas agora deixa-me ir embora.”
E
a pequena soltou-se e correu rapidamente até a próxima tenda.
Miang
a seguiu com o olhar. A criança era graciosa e muito séria para sua idade. Não
demorou muito e ela retornou, seguida por uma anciã curvada, que levava uma
sacola na mão. Essa devia ser Husa. Ficando curioso, Miang seguiu as duas até a
tenda, não muito limpa, na qual o pai de A-na, assim chamava a menina, estava
revirando-se no seu leito, gemendo.
Husa
não perdeu muitas palavras. Ordenou A-na a esquentar água. Então preparou um
chá, o qual o homem teve que engolir. Parecia, porém, que também esse chá
medicinal lhe trazia pouco alívio.
Silenciosamente,
Miang havia entrado na tenda atrás da anciã. O aspecto aqui não era bonito.
Havia sujeira por todos os lados. Panos sujos estavam no chão, havia louça com
restos de comida e o ar estava abafado e fumarento. Miang quis recuar
arrepiado, mas uma voz dentro dele disse: “Fique!” Então, permaneceu bem quieto
e observou como a anciã debruçou-se sobre o doente, dando-lhe para tomar o chá
medicinal. Ele engolia, mas não parava de gemer. Entretanto, não foi possível
determinar o que lhe faltava. À pergunta da anciã, onde sentia dores, ele
respondeu queixoso: “Estão em todo meu corpo e me beliscam como os diabos de
fogo.”
“Diabos de fogo?” perguntou Miang admirado e aproximou-se um
pouco. “O que é isso?”
“Ora,
são os pequenos diabos que vivem no fogo e que comem a madeira,” respondeu Husa
calmamente. Para ela, isso não parecia ser algo fantástico. Miang, porém,
admirou-se, ele não sabia o que era um “diabo”. Por isso continuou perguntando:
“E o que são diabos?”
Medrosamente
os dois outros olharam ao redor. “Quieto,” respondeu Husa e pôs o dedo sobre os
lábios. “Isso não se deve falar em voz alta, senão eles vêm e podem nos
prejudicar. Mas vou dizer-te no ouvido, para que possas resguardar-te, jovem
forasteiro.”
E
com voz rouca falou baixinho ao seu ouvido: “Diabos são entes maus, eles tentam destruir as
pessoas.”
Miang
admirou-se. Ele nunca encontrou tais entes.
“E
eles vivem no fogo?” continuou perguntando incrédulo. “Não somente no fogo,”
cochichou a anciã, “estão em toda parte, no ar, na água.”
“Pare!”
exclamou Miang, “na água não vivem entes ruim, isso eu sei com certeza. Eu
tenho visto a bela figura do ente que vive na vossa água! Ela é Hila, e ela
quer bem a nós seres humanos.”
Agora, a vez de admirarem-se era de Husa e do doente, que com essa novidade quase esqueceu suas dores. Também A-na, que timidamente tinha ficado no fundo da tenda, deu um passo para diante. Miang, porém, feliz, sabia de repente: aqui havia o que fazer para ele.
“Posso
sentar-me junto de vós?” perguntou amavelmente, e ambos pediram:
“Sim,
senta-te junto de nós e conta-nos dos entes bons das águas.”
Com
todo prazer Miang começou a contar o que tinha vivenciado com Hila e Hima e
como o ajudaram e o bem que lhe fizeram, pois serviam ao Altíssimo. Boquiabertos,
Hisor, o pai de A-na, e Husa escutavam. Inacreditável era essa notícia e, no
entanto, o forasteiro falava disso com tanta certeza. E quando descreveu como
eram lindas e alegres as pequenas ninfas, estampava-se alegria nos rostos dos
ouvintes.
“Sinto-me
mais aliviado, desde que me contaste isso, forasteiro,” disse Hisor.
“Chamem-me
Miang, este é o meu nome,” pediu o jovem. “Querem ouvir mais dos bons entes,
que são servos do Altíssimo?”
Com
grande alegria Hisor e Husa concordaram. E Miang contou dos enormes gigantes,
de Uru e Muru e de sua fiel ajuda, como o conduziram até o príncipe Fong, e
como são diligentes servindo ao Altíssimo.
O
espanto dos ouvintes aumentava. Tudo era novo para eles, nunca haviam escutado
algo igual. Hisor esqueceu-se de suas dores. Quando um raio oblíquo do sol
entrou na tenda, Husa sobressaltou-se.
“Tenho
que voltar para casa,” exclamou ela. “Mas tu voltarás, Miang?” pediu ela, “e
continuarás nos narrando?”
Miang
prometeu-o com alegria. Aqui, pois, havia encontrado o trabalho que devia
executar. E o mesmo havia sido conduzido até ele, não tinha sido ele que o
desejara.
“Eu
voltarei amanhã, para ver como vai Hisor,” prometeu. E Husa acrescentou
solicitamente: “E eu trarei novas ervas ainda melhores.”
Pois
ela queria estar presente quando Miang contasse.
Já
cedo no outro dia, Miang pôs-se a caminho. Mal podia esperar para continuar o
seu trabalho. Hoje o enfermo estava deitado bem quieto no seu leito. Parecia
que estava melhor.
“Como
te sentes hoje, Hisor?” perguntou Miang amavelmente. E Hisor ergueu-se o melhor
que pôde e disse-lhe contente:
“Então
vieste mesmo, Miang? Como estou contente. Eu receava que te fosses incômodo
visitar-me. Não é bonito aqui,” acrescentou lamentando. “Minha mulher morreu, e
A-na ainda é muito pequena para deixar tudo em ordem.”
Sim,
isto dava para perceber. Timidamente A-na olhava do canto do fogão para Miang.
Ela se envergonhava e pretendia esforçar-se pondo ordem na tenda, pois ela
também queria muito que o forasteiro viesse e contasse.
“Como
é, os diabos do fogo não te beliscaram mais?” perguntou Miang e riu
alegremente.
Este
riso espantou o último resto de medo na alma de Hisor, de que talvez ainda um
diabo pudesse estar na proximidade para prejudicá-lo. Respirou como que
aliviado e juntou seu riso ao de Miang. Como isso fazia bem! Ele sentiu como
estava melhorando novamente.
“Quando
estás comigo, Miang, então não me sinto com medo,” disse ele admirado e olhou
para o jovem. Qual seria o motivo disso? Escutaram passos lá fora e
apressadamente entrou Husa, novamente com uma sacola na mão.
“Já
estás aqui, Miang?” exclamou contente. “Então quero preparar rapidamente o chá
de ervas, para que passem as dores de Hisor, e depois tu continuas contando,
não é?”
E
assim aconteceu, e resposta seguia à pergunta e nova pergunta seguia à
resposta. Miang não sabia o quanto havia para contar dos gigantes e dos
homenzinhos das pedras, de Hila e Hima. O tempo passou voando.
“Agora
deve ser preparada a comida,” disse Husa e, ainda cheia de felicidade sobre o
recém ouvido, tratou de ajudar A-na, que se esforçava a acender um fogo, no
simples local de fogo aberto.
Miang ficou observando, perdido em pensamentos. Como ele era rico, porque o Altíssimo havia aberto os seus olhos para poder ver os servos fiéis, e dessa riqueza ele agora queria dar aos seres humanos. Era isso que o Altíssimo agora exigia dele. Dessa forma ele podia ajudar, servir. Miang estremeceu: Servir? Tornou-se com isso também um servo do Altíssimo? Como uma corrente de fogo perpassou-lhe esse reconhecimento. Quase caiu de joelhos, pelo excesso de felicidade, para agradecer ao Altíssimo.
Soou
então a clara voz de criança de A-na: “Vejam, os diabos do fogo!”
O
fogo ardia resplandecente e, quando Miang olhou, ele também descobriu os
pequenos entes saltitantes nas chamas. Assustada, A-na queria esconder-se atrás
de Husa, porém, Miang pegou-lhe na mão e puxou a criança para a frente.
“Observe,”
disse ele, “como são bonitos! E o que é belo não pode ser mau. Veja, eles
ajudam o fogo para que queime nos aquece e nos prepara os alimentos! Vamos
escutar, o que nos têm a dizer”.
Como
que paralisados, olhavam agora os quatro para as chamas, todos viam as figuras
palpitantes dançando, mas já não sentiam mais medo delas. E a Miang parecia
ouvir um fino tinir vítreo, sons delicados, que se juntaram para formar as
seguintes palavras:
“Também
nós servimos ao Altíssimo, nós estamos felizes que isso nos é permitido! Sirvais-No
vós também!”
Longamente
Miang escutava, até que o fogo se extinguiu, depois se dirigiu aos demais e
contou o que tinha escutado. Surpresa tomou conta dos ouvintes. E Miang não se
cansou em responder todas as perguntas, pois esta vivência causava-lhe também a
maior alegria. Era-lhe permitido servir! Toda a aflição e todas as perguntas e
procuras dentro de si haviam desaparecido; preenchia-lhe uma alegria que fez
estremecer o seu íntimo.
Quando
o sol novamente lembrou Husa de suas obrigações, Miang também queria
despedir-se. Mas Hisor pediu: “Fique mais um pouco, Miang, eu também quero
contar-te algo.”
(continua)
Trecho extraído do livro: Miang
Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou
o Tibete das trevas.
NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA)
No
próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:
O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus
aos Gigantes – 23/09/16
O
Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... –
07/10/16
Servir o Altíssimo Como
Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas –
20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho
– 26/10/16
No Momento certo se
esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação
Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir –
17/11/16