segunda-feira, 2 de julho de 2018

África XV









Nas Florestas da África

Episódio XV

Reparando os Estragos

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, em seu cargo de chefia da tribo, pela sua responsabilidade com a segurança da comunidade passara por momentos de grande tensão, em vista de invasores no local que, felizmente logo foram capturados... 

(continuação)

Depois disso, Bu-anan retraiu-se para a solidão. Ela queria refletir tudo, mais uma vez.
Ela agradeceu aos pequenos por eles terem guiado tão bem Ur-wu. Com isso veiolhe à mente que ele deveria estar presente quando ela solicitasse conselho aos pequenos. Ela mandou chamá-lo e juntos ouviram como estes lhes narravam que os homens pertenciam a um reino bem grande e poderoso, que se encontrava junto a um largo e frutífero rio.
De alguma maneira deveria ter penetrado notícia dos Tuimahs até o soberano de lá, que era ávido por mulheres bonitas e jeitosas, e ao qual, além disso, eram bem-vindos os trabalhos forjados pelos homens.
E para ficar sabendo se essa noticia era verdadeira, ele enviou os espiões. Ser-lhe-ia facílimo, assim acreditava, se apoderar da inculta tribo negra.
Ur-wu cerrou os punhos. Bu-anan apenas sorriu.
“Ele verá como se enganou. Assim como Anu nos auxiliou até agora, da mesma forma Ele continuará a nos auxiliar se permanecermos em seus caminhos. Enquanto mantivermos firme a ligação com Ele, nada poderá nos acontecer.”
Depois ela quis saber o que aconteceu com os U-aus que foram lançados pelos estranhos para dentro da vala de espinhos. Ur-wu não sabia, também os pequenos não podiam falar nada sobre isso, contudo, achavam que outros pequenos entes haviam ajudados os animais.

“Vamos vê-los”, propôs Bu-anan.
Ela caminhou com Ur-wu até a vala. Podia-se ver as marcas da assídua luta. Pedaços quebrados das plantas espinhosas estavam espalhados pelo chão, à direita e à esquerda da passagem as plantas haviam sido quebradas.
Seis fortes e belos U-aus estavam deitados, gemendo sobre esteiras estendidas por mãos cuidadosas. Entre eles esgueirava-se a figura de uma menina de mais ou menos cinco anos. Era Ur-ana, a neta de Ur-wu.
A pequena esforçava-se com todas as forças para arrancar os longos e pontudos espinhos, que, sempre de novo, escorregavam de suas fracas mãos. Ao fazer isso ela consolava os animais de uma maneira cheia de amor.
“Quem te ajudou a tirar os U-aus da vala, Ur-ana?” perguntou Bu-anan admirada, enquanto que Ur-wu interrogava-a ao mesmo tempo, como ela, que do contrário era tão cuidadosamente cuidada em casa, viera parar ali.
A criança olhou com grandes e confiantes olhos para ambos interlocutores e respondeu tudo de uma vez:
“Queridos e pequenos homenzinhos falaram que Ur-ana deveria ir com eles para ajudar os pobres U-aus. Esses homenzinhos ajudaram então os U-aus a saírem da vala e eles se deitaram então sobre as esteiras, que Ur-ana teve que buscar. Apenas um pobre U-au havia se afundado tanto nos espinhos, que não conseguira mais sair para cima. Este morreu rapidamente”, relatou a criança, enquanto duas grandes lágrimas rolavam sobre sua face. “Ele não sentiu mais dor”, acrescentou a pequena, consolando a si mesma.
Profunda comoção se apossou dos adultos, estando a olhar esta criança.

Em Bu-anan, porém, surgiu algo mais. Já a longo tempo ela procurara por uma moça à qual pudesse deixar seu saber quando Anu a chamasse um dia. Contudo, ela havia dirigido seu olhar às grandes. Agora ela encontrara nesta pequena o que procurara.
Ela auxiliou-a a retirar os espinhos e instruiu-a a passar um ungüento refrescante sobre as feridas dos animais. Totalmente por impulso próprio a pequena auxiliar trouxe então recipientes com água, enquanto Ur-wu saiu para buscar mais gente.
Essa gente deveria levar os animais feridos em uma cabana, onde Ur-ana pudesse cuidar deles até que pudessem novamente pular e correr alegremente.
Nesse meio tempo passaram-se dias. Os homens empreenderam uma caçada, mais para percorrer a floresta, a qual não consideravam mais segura desde que os estranhos espiões aproximaram-se da colônia, do que para trazerem presas. Contudo, não encontraram nenhuma pessoa, tão longe quer que fossem.
Então os vigias trouxeram a notícia que os estranhos queriam falar com Bu-anan.
 “Como sabeis isso?” disse a Mãe Branca alegremente. “Eles não sabem falar a nossa língua?”
Agora, também os vigias sorriram.
“Bu-anan, deu-se um milagre: quando os homens perceberam que a sua ira não lhes auxiliava, tentaram nos oferecer dinheiro e pedras para que nós os libertássemos. Contudo, nós fizemos como nos mandastes e não falamos uma palavra com eles. E nesse silenciar aprenderam nossa língua.”
“Isso é bom”, decidiu Bu-anan. “Que eles sejam trazidos amanhã. Mas cobri seus olhos até que estejam diante de mim e não desatai suas amarras. Não se deve confiar neles.”
No dia seguinte os presos estavam diante da Mãe Branca. Resmungando, olhavam para Bu-anan, cujo encanto eles não podiam reconhecer. Eles estavam acostumados a mulheres em vestimentas abarrotadas de preciosidades. As que se vestiam de forma simples eles não davam atenção.
Bu-anan permaneceu calada. Ela podia ver seus pensamentos como se eles os tivessem pronunciado. Por isso não lhe era necessário perguntar. Os homens também ficavam calados por pirraça e obstinação.

(continua)





Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: