Nas
Florestas da África
Episódio
XVII
A Reputação do Inimigo
por
Charlotte von Troeltsch
Sinopse
de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, em
seu cargo de chefia da tribo, por causa da situação embaraçosa com os presos
que foram capturados como espiões, enviara sua tropa de elite ao reino destes
inimigos, como informantes, para poder decidir na diplomacia do caso...
(continuação)
Assim passaram-se
alguns meses, e então os presos pediram mais uma vez para conversarem.
Como da última vez eles
foram trazidos com os olhos vedados e amarrados. Mas se comportaram melhor do
que outrora. Eles encontraram-se com Bu-anan com respeito, o qual era excessivo
para ser verdadeiro. Ele repelia a mulher da mesma forma com a falta de
educação de outrora.
“Teu mensageiro ainda
não voltou, mulher?” perguntou o mais velho.
“Essa pergunta vós
mesmos podeis responder, pois sabeis quão distante é até vosso país”, fora a
resposta de Bu-anan. “Ele partiu no dia seguinte. Eu calculo que ainda deve
demorar mais duas luas cheias até que ele possa estar de volta, se vosso
príncipe deixálo partir logo.”
“O que acontecerá
conosco se nosso soberano não quiser nos libertar?” perguntou outro, e podia-se
notar como essa pergunta já havia preocupado todos eles.
“O que aconteceria em
vosso país com os espiões?” soou a contra pergunta de Buanan.
Os homens
entreolharam-se. O mais jovem, porém, exclamou impetuosamente:
“No nosso país tais
homens não teriam sido presos. Eles teriam sido mortos imediatamente!”
Os outros não aprovaram
visivelmente aquilo que o mais jovem dissera. Mas já que fora dito, todos
concordaram.
“Teríeis preferido que
vos acontecesse isso?” perguntou a Mãe Branca
“Se quiseres nos matar
depois, então talvez nós preferiríamos que tivesse feito isso, pois não
teríamos que esperar tanto tempo por isso”, opinou um deles.
“O que vos acontecerá
depende da resposta de vosso príncipe. Eu mesmo não hesitaria um momento sequer
para libertar meus enviados, se estivesse em seu lugar.”
“Tu és uma mulher, uma
mulher boa”, esclareceu o mais velho. “Tu não conheces nosso príncipe. O que
lhe vale uma vida humana? Ele é cruel e arrogante. Certamente ele não quererá
nos rever, já que não podemos relatar-lhe sobre o que ele queria ouvir.”
“Se sabíeis disso, por
que me deixastes mandar mensageiros a ele?” perguntou Buanan admirada. “Talvez
poderíamos ter-nos compreendido diferentemente. Agora é muito tarde. Agora
precisamos aguardar qual notícia Ur-wu nos trará de volta.”
Não ajudaram em nada
aos homens; eles foram novamente conduzidos de volta para a caverna, onde
podiam ocupar-se com seus desagradáveis pensamentos.
Bu-anan, porém,
refletiu. O que ela deveria fazer com os homens, se de fato o príncipe estranho
enviasse Ur-wu de volta sem resposta? Será que teria sido melhor não enviá-lo?
Mas, no mesmo instante,
lhe tornou- se claro, diante de seus olhos interiores, que havia agido por
ordem de Anu. Os pequenos foram determinados como acompanhantes; teria
acontecido isso se a viagem não fosse correta? Então também seria auxiliado
adiante. Era preciso aguardar
Duas luas haviam se
passado sem que os homens tivessem retornado. Bu-anan consolava a si e as
mulheres dizendo que no caminho eles deveriam ter tido alguma espécie de
atraso.
Mas ainda precisou
passar mais um bom tempo, antes que viesse notícia daqueles que haviam sido
enviados. Essa notícia, porém, foi trazida pelos pequenos.
Ur-ana correu uma
manhã, apressadamente, até Bu-anan para comunicar-lhe:
“Ouça o que os
homenzinhos me disseram, o avô está a caminho. Logo ele chegará!”
“Sabes, minha filha, se
os outros estão com eles?” indagou Bu-anan.
Mas a pequena não sabia
nada sobre isso.
Ainda demorou bastante
tempo, até que os esperados finalmente chegassem. A alegria dos familiares era
grande. Aqueles, porém, que retornavam, haviam vivenciado tanta coisa que não
sabiam por onde começariam com seu relato.
Bu-anan perguntara:
“O príncipe deixara
libertar os estranhos?”
A esta pergunta ela
obteve uma resposta negativa. Isto iria sobrecarregá-la com um peso: o que
faria agora com os presos? Contudo, ela afastou de si com força essa pergunta
opressora. Até agora o auxílio sempre veio, desta vez ele também não faltaria.
Ela apenas esperava,
que a alegria com a chegada dos homens não alcançasse de alguma forma, cedo
demais, os presos, até que pelo menos ela tivesse resolvido o futuro destino
deles. Ela advertiu os vigias para que cautelosamente ficassem calados, mais do
que isso não poderia fazer.
E então vieram as noites, nas quais se relatava e se
perguntava junto ao fogo. Mas eles não conseguiam concluir sobre tudo para
satisfazer a todos.
Ur-wu contou quão bem e
seguramente os pequenos os haviam conduzido. Apesar disso o caminho fora longo
e penoso. Por fim, haviam chegado ao grande e largo rio.
Mas não poderiam
permanecer lá, mesmo ansiando muito por isso. O príncipe residia em um palácio
de verão, que se situava mais alto e estava mais exposto a ventos mais frescos.
Tão logo eles chegaram às regiões habitadas, eles notaram que já despertavam a
atenção.
“Nós não somos negros”,
disse um dos homens, “mas perante o povo, do qual os estranhos se originam, nós
parecemos morenos. Eles são mais avermelhados do que nós...”
“Não, mais amarelos”,
opinou outro.
Eles não conseguiram
chegar a um acordo e se esqueceram totalmente que os estranhos traziam a cor
que eles se esforçavam por descrever.
“Eles se vestem
esplendidamente”, relatava novamente Ur-wu, contudo fora interrompido novamente
pela intercalação:
“Sim, como mulheres. Em
longas vestimentas, eles andavam vagarosamente e cheios de dignidade. Tudo o
que falam deve mostrar igualmente essa dignidade, contudo não é verdade.
Buanan, tu te horrorizarias no meio dessas pessoas!”
“Por isso, estou
contente por não precisar vê-los”, confirmou a Mãe Branca, então pediu: “contem
adiante e deixem as coisas secundárias para mais tarde!”
“Não pudemos ir até o
príncipe, ele não quer nada de gente como nós”, falou Urwu indignado. “O fato
de termos presos seus espiões era-lhe indiferente. Ele mandou-nos dizer: que ele
não poderia atribuir a si nenhuma culpa se os homens foram inábeis. Da próxima
vez ele enviaria outros melhores.”
“Os pequenos nos
aconselharam a não colocar nenhum bracelete, aliás nenhum adorno. Não sabíamos
porque”, relatou um dos outros, “contudo ficamos sabendo logo mais tarde. Os
horríveis criados do príncipe nos olhavam minuciosamente e perguntavam se
sabíamos forjar coisas preciosas.”
“Os pequenos, porém, me
prepararam para essa pergunta e eu disse como me fora ordenado: ‘Nós somos
pessoas pobres, que não podem competir com a suntuosidade desse reino
principesco. ’
E os criados
perguntaram adiante, rindo horrivelmente:
‘Diga-nos, vossas moças
e mulheres são tão bonitas como ouvimos dizer?’
(continua)
Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz).
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +:
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +:
África. (Nas Florestas da África)
Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: