segunda-feira, 16 de julho de 2018

África XVII




Nas Florestas da África

Episódio XVII

A Reputação do Inimigo

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, em seu cargo de chefia da tribo, por causa da situação embaraçosa com os presos que foram capturados como espiões, enviara sua tropa de elite ao reino destes inimigos, como informantes, para poder decidir na diplomacia do caso...   

(continuação)

Assim passaram-se alguns meses, e então os presos pediram mais uma vez para conversarem.
Como da última vez eles foram trazidos com os olhos vedados e amarrados. Mas se comportaram melhor do que outrora. Eles encontraram-se com Bu-anan com respeito, o qual era excessivo para ser verdadeiro. Ele repelia a mulher da mesma forma com a falta de educação de outrora.
“Teu mensageiro ainda não voltou, mulher?” perguntou o mais velho.
“Essa pergunta vós mesmos podeis responder, pois sabeis quão distante é até vosso país”, fora a resposta de Bu-anan. “Ele partiu no dia seguinte. Eu calculo que ainda deve demorar mais duas luas cheias até que ele possa estar de volta, se vosso príncipe deixálo partir logo.”
“O que acontecerá conosco se nosso soberano não quiser nos libertar?” perguntou outro, e podia-se notar como essa pergunta já havia preocupado todos eles.
“O que aconteceria em vosso país com os espiões?” soou a contra pergunta de Buanan.
Os homens entreolharam-se. O mais jovem, porém, exclamou impetuosamente:
“No nosso país tais homens não teriam sido presos. Eles teriam sido mortos imediatamente!”
Os outros não aprovaram visivelmente aquilo que o mais jovem dissera. Mas já que fora dito, todos concordaram.
“Teríeis preferido que vos acontecesse isso?” perguntou a Mãe Branca
“Se quiseres nos matar depois, então talvez nós preferiríamos que tivesse feito isso, pois não teríamos que esperar tanto tempo por isso”, opinou um deles.
“O que vos acontecerá depende da resposta de vosso príncipe. Eu mesmo não hesitaria um momento sequer para libertar meus enviados, se estivesse em seu lugar.”

“Tu és uma mulher, uma mulher boa”, esclareceu o mais velho. “Tu não conheces nosso príncipe. O que lhe vale uma vida humana? Ele é cruel e arrogante. Certamente ele não quererá nos rever, já que não podemos relatar-lhe sobre o que ele queria ouvir.”
“Se sabíeis disso, por que me deixastes mandar mensageiros a ele?” perguntou Buanan admirada. “Talvez poderíamos ter-nos compreendido diferentemente. Agora é muito tarde. Agora precisamos aguardar qual notícia Ur-wu nos trará de volta.”
Não ajudaram em nada aos homens; eles foram novamente conduzidos de volta para a caverna, onde podiam ocupar-se com seus desagradáveis pensamentos.
Bu-anan, porém, refletiu. O que ela deveria fazer com os homens, se de fato o príncipe estranho enviasse Ur-wu de volta sem resposta? Será que teria sido melhor não enviá-lo?
Mas, no mesmo instante, lhe tornou- se claro, diante de seus olhos interiores, que havia agido por ordem de Anu. Os pequenos foram determinados como acompanhantes; teria acontecido isso se a viagem não fosse correta? Então também seria auxiliado adiante. Era preciso aguardar
Duas luas haviam se passado sem que os homens tivessem retornado. Bu-anan consolava a si e as mulheres dizendo que no caminho eles deveriam ter tido alguma espécie de atraso.
Mas ainda precisou passar mais um bom tempo, antes que viesse notícia daqueles que haviam sido enviados. Essa notícia, porém, foi trazida pelos pequenos.
Ur-ana correu uma manhã, apressadamente, até Bu-anan para comunicar-lhe:
“Ouça o que os homenzinhos me disseram, o avô está a caminho. Logo ele chegará!”
“Sabes, minha filha, se os outros estão com eles?” indagou Bu-anan.
Mas a pequena não sabia nada sobre isso.
Ainda demorou bastante tempo, até que os esperados finalmente chegassem. A alegria dos familiares era grande. Aqueles, porém, que retornavam, haviam vivenciado tanta coisa que não sabiam por onde começariam com seu relato.

Bu-anan perguntara:
“O príncipe deixara libertar os estranhos?”
A esta pergunta ela obteve uma resposta negativa. Isto iria sobrecarregá-la com um peso: o que faria agora com os presos? Contudo, ela afastou de si com força essa pergunta opressora. Até agora o auxílio sempre veio, desta vez ele também não faltaria.
Ela apenas esperava, que a alegria com a chegada dos homens não alcançasse de alguma forma, cedo demais, os presos, até que pelo menos ela tivesse resolvido o futuro destino deles. Ela advertiu os vigias para que cautelosamente ficassem calados, mais do que isso não poderia fazer.
E então vieram  as noites, nas quais se relatava e se perguntava junto ao fogo. Mas eles não conseguiam concluir sobre tudo para satisfazer a todos.
Ur-wu contou quão bem e seguramente os pequenos os haviam conduzido. Apesar disso o caminho fora longo e penoso. Por fim, haviam chegado ao grande e largo rio.
Mas não poderiam permanecer lá, mesmo ansiando muito por isso. O príncipe residia em um palácio de verão, que se situava mais alto e estava mais exposto a ventos mais frescos. Tão logo eles chegaram às regiões habitadas, eles notaram que já despertavam a atenção.
“Nós não somos negros”, disse um dos homens, “mas perante o povo, do qual os estranhos se originam, nós parecemos morenos. Eles são mais avermelhados do que nós...”
“Não, mais amarelos”, opinou outro.
Eles não conseguiram chegar a um acordo e se esqueceram totalmente que os estranhos traziam a cor que eles se esforçavam por descrever.
“Eles se vestem esplendidamente”, relatava novamente Ur-wu, contudo fora interrompido novamente pela intercalação:
“Sim, como mulheres. Em longas vestimentas, eles andavam vagarosamente e cheios de dignidade. Tudo o que falam deve mostrar igualmente essa dignidade, contudo não é verdade. Buanan, tu te horrorizarias no meio dessas pessoas!”
“Por isso, estou contente por não precisar vê-los”, confirmou a Mãe Branca, então pediu: “contem adiante e deixem as coisas secundárias para mais tarde!”
“Não pudemos ir até o príncipe, ele não quer nada de gente como nós”, falou Urwu indignado. “O fato de termos presos seus espiões era-lhe indiferente. Ele mandou-nos dizer: que ele não poderia atribuir a si nenhuma culpa se os homens foram inábeis. Da próxima vez ele enviaria outros melhores.”

“Os pequenos nos aconselharam a não colocar nenhum bracelete, aliás nenhum adorno. Não sabíamos porque”, relatou um dos outros, “contudo ficamos sabendo logo mais tarde. Os horríveis criados do príncipe nos olhavam minuciosamente e perguntavam se sabíamos forjar coisas preciosas.”
“Os pequenos, porém, me prepararam para essa pergunta e eu disse como me fora ordenado: ‘Nós somos pessoas pobres, que não podem competir com a suntuosidade desse reino principesco. ’
E os criados perguntaram adiante, rindo horrivelmente:
‘Diga-nos, vossas moças e mulheres são tão bonitas como ouvimos dizer?’

(continua)








Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: