Minhas Vivências em Vomperberg
por Helene Westphal
(continuação)
Nos primeiros dias de nossa prisão preventiva veio meu
irmão, de Viena, para a Montanha. Ele se encontrava em uma viagem de negócios e
como também possuía a nacionalidade americana, tinha mais liberdade do que nós.
Ainda viviam diversos estrangeiros na Montanha, tchecos, holandeses e ingleses
e todos nós escrevemos para nossos consulados e embaixadas, a fim de
apresentarmos queixas contra a prisão preventiva. Meu irmão pôde levar essas
queixas juntamente com suas próprias correspondências, já que ele não fora
revistado. Na noite anterior havíamos combinado todo o necessário com ele.
No dia seguinte, eu fui com ele, disseram-nos no portal,
que deveríamos apresentar-nos à SA de Vomp, também cada carro que descia da
Montanha ou que subia para lá, tinha que apresentar-se lá. Também fizemos isso,
– a mim, pessoalmente, fora me dada uma mulher nazista como escolta. Meu irmão
e eu não iríamos poder conversar nada mais. Felizmente tudo já havia sido
combinado.
Depois da partida do meu irmão, a minha escolta e eu
subimos à Montanha. A mulher nazista estava bem curiosa e fez perguntas
ardilosas. Entre outras coisas ela perguntou se na Montanha poderiam morar
negros e judeus. Eu ouvi então minha voz, que disse: “A senhora pode proibir um
chinês de alegrar-se com uma flor?”
Mais tarde veio uma nova ordem referente ao dinheiro
estrangeiro. Todos deveriam entregá-lo, ou seja, trocá-lo, sob ameaça de pena
de morte. Como eu também tinha dinheiro, apesar de não ser meu, eu o registrei.
Eu tive de ir novamente para Innsbruck, o que devia ser avisado no quartel da
SA. Quando da portaria aqui em cima ligaram para baixo, desligaram sem rodeios,
sem dar permissão. Contudo, o homem da AS, que havia feito a ligação, virou-se
para mim e disse:
“Se a senhora me prometer não empreender nada contra mim,
eu a deixarei ir sob minha responsabilidade.” “Naturalmente, posso prometer-lhe
isso”, respondi. Ele mandou chamar um carro, meu filho e eu pudemos subir nele
e seguir sem termos de parar embaixo. Simplesmente passamos direto. No caminho
para Innsbruck, foi como se um filme passasse à minha frente e foi-me mostrado
o que deveria fazer.
Meu primeiro caminho levava ao advogado que defendia os
interesses da Montanha. Tudo transcorreu às mil maravilhas e pude tratar de
tudo com ele. Ele também se dispôs a trocar o dinheiro estrangeiro e indicou-me
então o caminho exato, para que eu pudesse chegar para ter uma conversa com o Senhor. Segui suas dicas de forma
precisa e todos os caminhos aplainaram-se para mim, também o meu caminho até o Senhor. Ele veio a uma pequena sala, onde eu havia ficado esperando, e
naturalmente Ele se encontrava
triste. Um guarda também havia ficado na sala, de modo que não pudemos falar
nada de especial, eu apenas pude, por meio dessa conversa, estabelecer uma
ligação com Frau Maria e relatar a Ela como o Senhor estava. Eu levei para o Senhor
duas garrafas de seu vinho preferido, mas não sei se Ele também as recebeu. Eu mesma estava, naturalmente, me sentido
bem oprimida por todas essas coisas horríveis que estavam acontecendo. Havia
ficado bem tarde, quando retornamos. Também comprei um grande maço de cigarros
para o homem da SA lá de cima, o qual lhe dei por ocasião do nosso retorno.
Então ouvi seu comentário na Montanha: “Ela é nossa inimiga e presenteou-me com
cigarros!” – No dia seguinte, o advogado veio até Frau Maria e não demorou muito até que a SA se retirasse novamente.
A assombração havia passado e eu acho
que as cartas de queixas haviam conseguido seu objetivo.
As semanas seguintes
transcorreram de forma extremamente simples, já que a SA também havia levado todo
o dinheiro. Meu irmão sabia disso e antes dele ir novamente para a América,
veio mais uma vez até a Montanha e trouxe dinheiro.
continua)
Trecho do escrito Minhas Vivências em Vomperberg