segunda-feira, 23 de julho de 2018

África XVIII





Nas Florestas da África

Episódio XVIII

Golpe de Fuga Fatal

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, na chefia da tribo, com a volta de seus correspondentes externos, vindos do reino originário de seus inimigos mantidos encarcerados na caverna por espionagem, que trouxeram e notificaram durante alguns dias seguidos, como vivia o príncipe local e o povo de lá, ainda tinham certos fatos a mais para contar...

(continuação)

E os criados perguntaram adiante, rindo horrivelmente:
‘Diga-nos, vossas moças e mulheres são tão bonitas como ouvimos falar?’

“A isso eu sabia a resposta certa, a qual um dos pequenos havia me mandado falar”, exclamou um outro orgulhosamente. “Eu me coloquei diante do interlocutor e disse: ‘Sim, elas são muito bonitas. Olhem-me, elas se parecem comigo!’”
Sonoros risos seguiram estas palavras proferidas. Mur-a era o homem mais feio de toda a tribo. Eles imaginavam quão decepcionados os criados ficaram com esta resposta. Apenas um perguntou pensativamente:
“Por que dissestes algo irreal Mur-a? É desonroso para nossas mulheres falar que elas se parecem contigo.”
“Terias achado melhor que eu deixasse os estranhos cobiçosos por nossas mulheres?” foi a rápida contra-resposta.
Agora todos haviam compreendido porque os pequenos haviam lhes sugerido essas respostas.
“O que os criados falaram de tua resposta, Mur-a?” perguntaram.
“Fizeram como vós, riam sem parar. Depois disso o chefe deles falara: “Então nos enganaram. Não vale a pena atacar esses pobres negros. Não possuem preciosidades e suas mulheres parecem pássaros noturnos!”
“Tu não perguntastes Ur-wu o que deveria acontecer com os presos se o príncipe não os quisesse libertar?” interrogou Bu-anan.
“De fato eu fiz isso, mas o soberano mandou me dizer que, se eu não soubesse ouvir, ele me cortaria ambas as orelhas. Ele não queria saber mais nada daquelas inábeis pessoas. Nós poderíamos cozinhá-las e comê-las. Sim, assim ele falara”, acrescentou Ur-wu com ênfase, quando se ergueram exclamações de horror.
O mais importante fora relatado, poderiam ir agora descansar e deixar todo o mais para as noites seguintes.
Os homens contaram então que haviam visto esplêndidos prédios, onde se adoravam vários deuses.

“Estes devem ser os pequenos deuses que tu nos contaste, Bu-anan”, opinaram eles. “Eles chamavam essas construções de pedra, de templo”, retomou Ur-wu a palavra.
“Aqueles que falam com os deuses chamam-se sacerdotes. Um desses sacerdotes me perguntou se nós também adorávamos algum deus. Eu disse: ‘Sim, aquele que está sobre todos os outros!’
‘Como o chamai?’ perguntou o sacerdote adiante.
‘Ele se chama Anu!’ foi minha resposta, sobre a qual o careca, pois os sacerdotes de lá são carecas, acrescentou:
‘Nós o chamamos de Ré’.
Então ele nos levou a um templo de Ré, no qual se encontrava sobre a mesa uma resplandecente imagem do deus.
‘Este não é Anu’, falei para o sacerdote.
Ele queria saber, de onde me vinha essa certeza, então lhe falei que Anu era invisível e que, portanto, também não se poderia fazer uma imagem dele.
‘Ré também é invisível, ele apenas se mostra a alguns que ele especialmente ama. Provavelmente sois tão ínfimos que ele não vos ama e não pode se mostrar a vós’, opinou o sacerdote.
Eu não respondi nada sobre isso, pois os pequenos me advertiram para não falar nem sobre “Bu-anan.”
Bu-anan gostaria de ouvir sobre as mulheres. Os homens asseguraram que a maioria que eles haviam visto, eram feias.
“Elas tem um nariz bem longo e reto e sobre o nariz a cabeça corre para trás até nos cabelos.”
Isso a Mãe Branca não conseguiu imaginar, mas isso também não era importante. Ela queria saber da vida das mulheres, se elas valorizavam a pureza. Contudo, isso os homens não sabiam.
Diversas espécies de animais diferentes eles haviam visto, cujo nome eles não conheciam. Então a saudade havia se tornado tão forte neles que tomaram o caminho de volta para casa.
No decorrer do tempo ainda foi descrito muita coisa que os homens haviam visto e vivenciado em sua grande viagem e especialmente no país estranho.

Bu-anan, porém, levava sua incerteza para com os presos até Anu. Muitas vezes suplicou sem obter resposta. Contudo, em cada íntima concentração de seu pedido se lhe tornava cada vez mais claro, no que se relacionava com aquelas pessoas.
Se ela os libertasse, o que de preferência gostaria de fazer, era possível que os homens contassem a seu príncipe toda sorte de mentiras, apenas para se libertarem da acusação de serem imprestáveis. Não era apenas possível, mas bem certo. Isso não poderia acontecer, pois então os Tuimahs não estariam mais seguros do estranho e astucioso povo, como aquele.
E se apresentasse aos homens a indiferença de seu príncipe e lhes ordenasse que ficassem aqui? Isso seria possível, mas Bu-anan já havia visto o suficiente das duas caras dessas pessoas, para confiar nelas.
Tudo dentro dela clamava: “Mate-os!” e tudo nela defendia-se contra isso.
“Anu que nos ajude!”
Inúmeras vezes subiu o pedido da alma aflita de Bu-anan. Ele ajudou, mas de forma totalmente diferente do que um ser humano poderia ter pensado.
Aos presos o tempo se tornara muito longo. Eles haviam igualmente calculado quando os mensageiros estariam de volta. Quando, porém, não lhes chegou ao ouvido nenhuma notícia da volta deles, resolveram agir. Exatamente nesse dia executaram seu plano.
Do guarda que trazia-lhes comida, arrancaram a arma e se lançaram todos sobre ele, estrangulando-o antes que pudesse soltar um som sequer.
Então cortaram suas cordas, empurraram com indizível esforço a pedra fechando novamente a entrada e esperaram o próximo guarda. Três deles esconderam-se fora da caverna e os outros três aguardavam dentro dela.


(continua)





Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: