Como era antes da Criação?
por Abdrushin
Pergunta: A
Criação teve um começo. Como era então antes desse início? Era Deus então sem
irradiação? Sem atividade?
Resposta: Acha
V. S.ª que sua pergunta o ajudará de alguma maneira em sua própria ascensão
espiritual? Não! Além disso, refere-se a algo que está fora da
Criação, onde a capacidade de compreensão do espírito humano não alcança,
devido à sua constituição. Como criatura, foi-lhe dado um limite. Sempre terá
de permanecer dentro da Criação e esforçar-se para compreendê-la com
acerto! Aí tem, aliás, bastante o que fazer. E se, finalmente, conseguir chegar
até o reino espiritual, terá perdido, com essa ascensão, a pretensão de querer
saber coisas cuja compreensão vai além de sua capacidade. Somente então, em
respeitosa devoção, intuirá a proximidade de Deus, onipotente e todo-poderoso!
Portanto, fique tranquilo com relação a
isso. Quanto mais perfeito V. S.ª se tornar espiritualmente, tanto mais
compreensivo se tornará a seu próprio respeito. Com isso, pouco a pouco
desaparece a presunção causada pela restrição que, hoje em dia, domina
predominantemente o espírito humano. Tornar-se-á paulatinamente cada vez mais
humilde perante a magnitude de Deus, cujo reconhecimento lhe chega de modo
progressivo.
O espírito humano pode se
considerar feliz por esquecer, dessa forma, a sua grotesca mentalidade atual,
pois do contrário teria de envergonhar-se disso eternamente. Sentir-se-ia
ridículo numa visão retrospectiva, com relação à sua atual presunção. Dessa
presunção francamente pueril, proveniente da ignorância, origina-se também o
empenho dos chamados “sabidos” em apresentar a todo o custo o Filho de Deus,
Jesus de Nazaré, como sendo um espírito humano que, a partir da própria humanidade, se
desenvolveu para cima. Sentem-se ainda engrandecidos no reconhecimento
de que Jesus devia ter sido um homem especialmente agraciado e destacado, que
se elevou até o nível de profeta.
Na realidade essas
pessoas sabidas são tão ingênuas, a ponto de não chegarem ao pensamento natural
de que também um enviado do divinal, ao descer para a Terra, tem de aguardar o
amadurecimento do corpo que lhe é estranho, sendo igualmente obrigado a
aprender a se utilizar desse utensílio terreno, antes de poder iniciar a sua
missão. Deverá também saber utilizar o seu cérebro, necessitando para isso de
um determinado tempo, como é de nosso conhecimento, especialmente pelo fato de
um enviado como esse não poder ser classificado entre os médiuns que,
inconscientemente, muitas vezes atuam além da condição de seu próprio espírito.
Tampouco deve ser contado entre os chamados inspirados, como muitos grandes
artistas. Um enviado de Deus, porém, atua conscientemente de si
próprio, já que traz a fonte em si.
Nisso reside também uma
grande diferença na necessidade do desenvolvimento terreno, com isso também a
explicação da incompreensão de muitos seres humanos com relação à vida e à
atuação do enviado de Deus.
E, mesmo assim, reside
nisso nitidamente reconhecível somente a imensa megalomania do espírito humano
imperfeito, que imagina possuir qualidades intrínsecas tais, que permitam uma
evolução até o mais sublime, isto é, pertencer ao mais sublime de tudo o que
existe!
Ele não quer admitir, sob
nenhuma circunstância, que exista algo que não seguiu o
processo de evolução de baixo para cima, mas sim vem de cima, de
uma altura que o ser humano nunca poderá alcançar, nem jamais compreender.
Nisto repousa a tão desprezível e reprovável presunção do espírito humano, que
nem deseja tomar em consideração seriamente tais possibilidades, porque não
pode compreendê-las.
Tampouco lhe vem à mente
que justamente nisso se encontra a prova natural de que se trata de uma altura,
para cuja concepção lhe falta capacidade!
Tão pequeno é o ser
humano, no espírito!
Também na sua pergunta se
encontra qual certa estreiteza, uma vez que pressupõe a Criação
representando tudo, exceto Deus. Quão longe se encontra
com isso da compreensão da verdadeira grandeza de seu Deus!
A Criação, à qual
pertence o espírito humano, é, apesar de sua imensa extensão como Criação,
apenas uma das obras da viva vontade de Deus. Como obra, também tem seus
limites. No infinito, impossível de ser compreendido pelo espírito humano, ela
parece somente como uma partícula de pó; não mais do que uma estrela nesta
Criação!
Paralelamente a esta Criação,
à qual pertenceis vós, espíritos humanos, vibram ainda outras Criações, não
menos imensas, de espécies completamente diferentes. A história da Criação
conhecida dos espíritos humanos, mas em parte ainda não compreendida
corretamente, refere-se unicamente à gênese desta Criação,
isoladamente, da qual os seres humanos podem pressentir somente a mínima parte
ao contemplar as inúmeras estrelas. A história não se refere, de modo algum,
aos efeitos da grande vontade de Deus no todo!
E esta Criação conhecida de vós representa um todo por
si, porém, em sua própria constituição, contribui, por sua vez, somente com uma
pequena parte para a grande harmonia da Criação, representando
nela apenas um elo isolado, com uma missão definida, da qual, no entanto, se
faz sentir, de modo perturbador na harmonia global, uma enfermidade, como o
atual falhar do espírito humano. Por isso a ordem tem de ser restabelecida
agora, mesmo que seja pelo preço da amputação de um membro tão enfermo, se não
puder ser de outra forma.
Procure V. S.ª concentrar-se nesse pensamento, e apenas
conseguirá segurar a cabeça, tomado por uma vertigem.
É melhor que o ser humano, finalmente, aprenda agora
primeiro a se ocupar consigo mesmo e com tudo aquilo que esta Criação
contém, na qual ele se encontra; à qual ele pertence, a qual, unicamente, pode
e deve servir para o seu desenvolvimento. Então, pouco a pouco, se tornará
perfeito como espírito humano, com o que também acabará
o desejo de querer ser algo diferente daquilo que, na melhor das hipóteses,
pode tornar-se... um espírito humano útil!
Como tal, torna-se desnecessário para ele qualquer
pergunta semelhante, porque finalmente reconhece a si mesmo! E com isso vem a
humildade que tanto lhe falta hoje. —
Uma publicação
originalmente de O Chamado (Der Ruf)
Publicação
também no livro: Respostas a Perguntas – 12.8