segunda-feira, 30 de julho de 2018

África XIX







Nas Florestas da África

Episódio XIX

Súbito Revés dos Desígnios

por Charlotte von Troeltsch


Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, com a volta de seus enviados, vindos do reino de origem dos presos na caverna, ouviu durante alguns dias seguidos, como vivia o príncipe daquele povo estranho, com muitos costumes esquisitos quando de repente, soube do inesperado ataque ocorrido pelos encarcerados...


(continuação)


Então cortaram suas cordas, empurraram com indizível esforço a pedra fechando novamente a entrada e esperaram o próximo guarda. Três deles esconderam-se fora da caverna e os outros três aguardavam dentro dela.


Passos se aproximavam da entrada, os dois outros guardas vieram e chamaram por aquele que fora assassinado. Fora combinado que, quando os guardas quisessem deslocar a pedra, o pesado bloco deveria cair sobre eles, de dentro para fora.
Os três na caverna estavam tensos à espreita. Agora, a pedra fora tocada pelo lado de fora! Os três puseram toda a força e empurraram o bloco de pedra.
O grito de muitas vozes foi a resposta. Os dois guardas e vários negros se precipitaram caverna adentro. Em poucos instantes os três presos estavam mortos.
Contudo, ainda puderam ver antes que os mortos massacrados pela pedra não eram os guardas, mas os próprios companheiros, que por algum motivo se colocaram atrás da pedra.
Duas pessoas do povo Tuimah e um negro foram feridos. Deixaram os corpos dos presos mortos no chão e resolveram primeiramente relatar a Bu-anan.
Ela assustou-se com aquilo que os homens tinham para lhe anunciar, mas ao mesmo tempo entrou em sua alma um sentimento de grande alívio. Os estranhos mesmos causaram sua morte. Com isso lhe fora retirada qualquer decisão a respeito deles.
“Tínheis que ter matado os presos?” perguntou ela e obteve a resposta que não teria sido possível diferentemente, se não devessem ser feridos mais Tuimahs.
Ur-wu ordenou que os massacrados pela pedra e aqueles que foram mortos fossem sepultados na caverna. Depois disso ela foi lacrada.


Então houve um longo período de calma. Cheia de paz e de alegria a tribo desenvolvia-se. Ur-ana desenvolvia-se cada vez mais, para alegria de seu avô e para grande sossego de Bu-anan. Então veio um dia em que Ur-wu, o sempre ativo, cerrou os olhos para essa vida. Suas últimas palavras se referiam ao nascimento do Enviado de Deus, o qual ele gostaria tanto de ver.
“Lá em cima poderá ouvir sobre Ele”, prometera Bu-anan consoladoramente.
Ur-wu sorriu feliz, como se já soubesse mais do que ela. Ur-ana tomou a direção da tribo e estava agradecido, por Bu-anan ainda estar a seu lado. Mais do que antes os pensamentos dos Tuimahs giravam em torno do prometido Filho de Deus.
Eles não ousavam mais pedir que Anu o enviasse a eles. Eles apenas ainda pediam para que Anu lhes concedesse a graça de poder vê-Lo.
Uma manhã Bu-anan se retraiu daqueles que a procuravam. Ur-ana deveria auxiliar e conversar com as pessoas em seu lugar, tão bem quanto lhe fosse possível. Ela não sabia a razão pela qual Bu-anan se retraíra para o silêncio, mas ela pressentia que algo de importante lhe seria revelado.
À noite a Mãe Branca chegou inesperadamente junto ao fogo. Ela parecia tão solene que imediatamente todos sabiam que ela tinha urna anunciação das alturas luminosas.
Por um momento deixou que seu olhar passasse sobre as pessoas. Ela conhecia a todos e sabia que profunda impressão lhes causaria aquilo que ela tinha para dizer. Finalmente ela começou:
“Adana esteve hoje junto a mim.”
“Adana!” murmuraram as pessoas e continuavam a olhar cheios de expectativa para Bu-anan. Já fazia tempo que Adana havia trazido urna mensagem.

“Ela anunciou que o Filho de Anu, o Filho de Deus, já se encontra na Terra!”
Um suspiro de decepção, um júbilo suprimido percorreu as fileiras de pessoas. Que maravilhoso! Que triste! Todos eles intuíam ambas as coisas e não conseguiam distinguir qual sentimento era mais forte.
Bu-anan deixou-lhes a vontade. Ela sabia que primeiramente deveria se esclarecer tudo neles, antes que fossem capazes de absorver algo mais. Refletindo silenciosamente a Mãe Branca se encontrava diante deles.
Também nela movia-se uma tempestade de acontecimentos. Agora tornara-se verdade o que fora anunciado: Deus, o Soberano invisível, Criador e Sustentador de todos os Mundos, por causa deste Mundo, separou urna parte de si próprio, para que, por um espaço de tempo, esta parte pudesse viver entre e com as criaturas humanas, as quais no fundo nem mereciam mais a misericórdia de Anu.
As criaturas humanas haviam se tornado más. Bu-anan havia intuído isso já naquela época, quando Ur-wu e os outros trouxeram a noticia do príncipe estranho e de sua corte. Adana, agora, havia-lhe confirmado isso.
Quão sinceramente os Tuimahs se esforçavam para serem servos fiéis de Anu. Aí não havia um que pensasse diferentemente. Mas as pessoas viviam isoladas dentro de sua vala de espinhos. Não chegavam a entrar em contato com nenhuma tentação, com nenhuma crença idólatra. Será que permaneceriam assim tão infantilmente puros, quando outras influências se aproximassem deles?
Então Bu-anan pensara em Ur-wu e seus acompanhantes. Eles haviam estado em contato com algo que lhes era estranho e que não pôde fazer nada a suas almas. Agora ela se alegrava novamente. Ela levantou o olhar.
Neste meio tempo os sentimentos conflitantes haviam se acalmado nos outros. Tensos eles olhavam para sua Mãe Branca, que certamente lhes anunciaria algo mais. E então Bu-anan começou novamente a falar:

“Sim, Adana me revelou que o acontecimento que movimenta o céu e a Terra, já se realizou a um bom tempo. O Filho de Anu, uma parte dele próprio, nascera num corpo humano e fora instruído por seres humanos totalmente puros. Maravilhosos devem ser esses seres humanos que podem servir a um Filho de Deus como mestres e auxiliadores!”
Como Bu-anan silenciara, ousaram perguntar:
“Onde nasceu o Filho de Anu? Ouvistes em qual povo?”


(continua)









Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: