segunda-feira, 25 de junho de 2018

África XIV







Nas Florestas da África

Episódio XIV

Um Ataque Inesperado

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, em seu cargo de chefia da tribo, socorrera um leão que caíra numa vala camuflada com armadilha de proteção da comunidade, tratando-o pessoalmente, na retirada de espinhos, curando seus ferimentos, e ainda deu ordens para que o animal fosse bem alimentado...  

(continuação)

Ao longo de mais alguns dias ela ainda mandou suprir o amarelo com alimento e água, então as feridas haviam sarado, feridas essas que tão dificilmente haviam se cicatrizado, devido ao fato dos espinhos possuírem veneno.
“Agora tu irás para casa, para tua caverna, meu amigo amarelo”, disse Bu-anan quase se lamentando.
O grande animal aproximou-se bem perto dela e passou a juba em seu braço.
“Ele não quer ir embora”, exclamaram os pequenos, “ele não quer ir embora!”
“Então venha à aldeia novamente tantas vezes quanto desejar. Tu não deves entrar; isto você sabe. Mas manda-me um dos pequenos entes, então virei até você.”
No decorrer do dia o amarelo havia desaparecido. Não havia, porém, entre o povo Tuimah nenhum sequer, que tivesse achado melhor matar o amarelo por causa da pele e para uma maior segurança.
Nesse meio tempo, os animais U-au haviam crescido e se tornado muito mansos. Eles se comprimiam ao redor de Bu-anan, com breves latidos de alegria, tantas vezes quanto ela se deixasse ver. Mas também as outras pessoas na aldeia eles conheciam bem e mostravam-lhes confiança.
Os pequenos mestres ordenaram que todos os U-aus dormissem durante o dia, para que à noite pudessem circular do lado de dentro da vala e auxiliar os vigias.
No início havia noites intranquilas. Se algum animal se aproximasse da vala do lado de fora, então estremecia o ar com um u-au de muitas vozes, até que o objeto da irritação fosse embora dali.

Aos poucos, porém, os espertos animais aprenderam, que deveriam somente deixar ouvir seus latidos, quando qualquer coisa tivesse atravessado a vala. Os vigias, porém, realizavam seu dever com muito mais gosto, pois as horas da noite foram encurtadas por causa dos vivazes animais.
Então veio uma noite, na qual ecoou o latido dos animais, assim como os gritos dos homens através do silêncio.
Os homens correram apressadamente para levar auxílio aos companheiros lá fora. Eles encontraram-nos em uma das passagens, onde estranhos procuravam entrar. Os Uaus, porém, se lançavam ao encontro dos invasores e queriam lhes pular na garganta.
Em vão os homens chamavam-nos de volta; pois os desconsiderados invasores empurravam os animais de si, onde alguns caíam nas plantas espinhosas e uivavam muito. Era uma horrível confusão.
Uma ordem de Ur-wu foi o suficiente para chamar e reunir os exaltados animais para dentro do círculo. Ele mesmo, porém, foi em direção à passagem com a arma na mão e acompanhado de um grande número de homens.
Quando os estranhos os avistaram, eles retrocederam. Eles não estavam preparados para um ataque. Ur-wu dirigiu-lhes a palavra para saber o que eles desejavam do povo Tuimah. Eles responderam, porém, sua resposta era incompreensível. Eles falavam uma língua estranha, que parecia brotar lá de trás da garganta.
Então um dos inúmeros pequenos que havia corrido para lá, falou para Ur-wu:

“Não confie neles! Eles intencionam algo de mal. Eles compreendem muito bem vossa língua. Converse ainda com eles. Envie, secretamente, homens para que usem a outra passagem e os cerquem por detrás. São apenas seis estranhos.”
Silenciosamente Ur-wu deu a correspondente ordem e procurava nesse meio tempo conseguir qualquer resposta dos estranhos que lhe fosse compreensível. Eles sentiam-se aparentemente bem seguros e riam interiormente dos tolos Tuimahs.
De repente Ur-wu viu seus homens aparecerem por detrás deles. Com a ordem dita em voz alta:
“Agarrem-nos!” ele próprio avançou com seus acompanhantes ao encontro dos estranhos, os quais não estavam preparados para isso e retrocederam.
Então eles viram-se presos. Nenhum escapou, contudo, também não correu nenhuma gota de sangue.
Ur-wu ordenou que os seis fossem amarrados e que cuidadosamente lhes fossem tiradas todas as armas. Os estranhos defendiam-se desesperadamente, mas precisaram reconhecer que não podiam fazer nada contra a supremacia deles.
Eram grandes, magras figuras de uma pele mais clara e mais amarelada, com cabelos longos, negros e lisos, que pareciam estar engordurados. Suas vestimentas eram coloridas, mas significativamente mais completa do que a do povo Tuimah.
Vigias e U-aus foram elogiados, então os homens seguiram com os seus prisioneiros para a frente da cabana de Bu-anan, que já aguardava.
“Por que vocês vieram?” perguntou aos amarrados.
Ela percebeu através de seus movimentos, que eles tinham compreendido as palavras, mas os homens fizeram de conta como se não tivessem podido decifrar a linguagem e responderam em seu próprio idioma.
Então foi notável que Bu-anan compreendesse exatamente o que os homens falavam, apesar dela jamais ter ouvido o idioma deles.
Não era nenhuma resposta relacionada a sua pergunta, mas sim um desrespeitoso insulto. A resposta era tão feia que a Mãe Branca resolveu não deixar eles perceberem que ela tinha entendido.
Exteriormente calma ela disse:

“Já que vocês se comportam como se não compreendessem minhas palavras, assim vocês serão nossos prisioneiros, até que os vossos deuses iluminem vossas mentes. Então poderemos continuar conversando uns com os outros.”
Um turbilhão de estranhas palavras insultuosas jorrou sobre Bu-anan, que calmamente ergueu a mão e ordenou ao povo Tuimah para que levassem os homens embora.
Tampem-lhes primeiramente a boca que se movimenta demais”, ordenou ela, exatamente porque ela sabia que os estranhos podiam compreender, “e cubram-lhes seus olhos! Eles vieram para nos espionar. Isto eles não devem fazer nem mesmo como prisioneiros.”
“Se, contudo, tu sabes porque viemos por que pergunta mulher?” exclamou um dos homens irado na língua dos Tuimahs.
Bu-anan e com ela todos os presentes não deixaram perceber nenhuma admiração e não deram nenhuma resposta. Os homens foram levados embora, assim como a Mãe Branca ordenara.

(continua)







Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: