Nas
Florestas da África
Episódio
XIV
Um Ataque Inesperado
por
Charlotte von Troeltsch
Sinopse
de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, em seu
cargo de chefia da tribo, socorrera um leão que caíra numa vala camuflada com
armadilha de proteção da comunidade, tratando-o pessoalmente, na retirada de
espinhos, curando seus ferimentos, e ainda deu ordens para que o animal fosse
bem alimentado...
(continuação)
Ao longo de mais alguns
dias ela ainda mandou suprir o amarelo com alimento e água, então as feridas
haviam sarado, feridas essas que tão dificilmente haviam se cicatrizado, devido
ao fato dos espinhos possuírem veneno.
“Agora tu irás para
casa, para tua caverna, meu amigo amarelo”, disse Bu-anan quase se lamentando.
O grande animal
aproximou-se bem perto dela e passou a juba em seu braço.
“Ele não quer ir
embora”, exclamaram os pequenos, “ele não quer ir embora!”
“Então venha à aldeia
novamente tantas vezes quanto desejar. Tu não deves entrar; isto você sabe. Mas
manda-me um dos pequenos entes, então virei até você.”
No decorrer do dia o
amarelo havia desaparecido. Não havia, porém, entre o povo Tuimah nenhum
sequer, que tivesse achado melhor matar o amarelo por causa da pele e para uma
maior segurança.
Nesse meio tempo, os
animais U-au haviam crescido e se tornado muito mansos. Eles se comprimiam ao
redor de Bu-anan, com breves latidos de alegria, tantas vezes quanto ela se
deixasse ver. Mas também as outras pessoas na aldeia eles conheciam bem e
mostravam-lhes confiança.
Os pequenos mestres
ordenaram que todos os U-aus dormissem durante o dia, para que à noite pudessem
circular do lado de dentro da vala e auxiliar os vigias.
No início havia noites
intranquilas. Se algum animal se aproximasse da vala do lado de fora, então
estremecia o ar com um u-au de muitas vozes, até que o objeto da irritação
fosse embora dali.
Aos poucos, porém, os
espertos animais aprenderam, que deveriam somente deixar ouvir seus latidos,
quando qualquer coisa tivesse atravessado a vala. Os vigias, porém, realizavam
seu dever com muito mais gosto, pois as horas da noite foram encurtadas por
causa dos vivazes animais.
Então veio uma noite,
na qual ecoou o latido dos animais, assim como os gritos dos homens através do
silêncio.
Os homens correram
apressadamente para levar auxílio aos companheiros lá fora. Eles
encontraram-nos em uma das passagens, onde estranhos procuravam entrar. Os
Uaus, porém, se lançavam ao encontro dos invasores e queriam lhes pular na
garganta.
Em vão os homens
chamavam-nos de volta; pois os desconsiderados invasores empurravam os animais
de si, onde alguns caíam nas plantas espinhosas e uivavam muito. Era uma
horrível confusão.
Uma ordem de Ur-wu foi
o suficiente para chamar e reunir os exaltados animais para dentro do círculo.
Ele mesmo, porém, foi em direção à passagem com a arma na mão e acompanhado de
um grande número de homens.
Quando os estranhos os
avistaram, eles retrocederam. Eles não estavam preparados para um ataque. Ur-wu
dirigiu-lhes a palavra para saber o que eles desejavam do povo Tuimah. Eles
responderam, porém, sua resposta era incompreensível. Eles falavam uma língua
estranha, que parecia brotar lá de trás da garganta.
Então um dos inúmeros
pequenos que havia corrido para lá, falou para Ur-wu:
“Não confie neles! Eles
intencionam algo de mal. Eles compreendem muito bem vossa língua. Converse
ainda com eles. Envie, secretamente, homens para que usem a outra passagem e os
cerquem por detrás. São apenas seis estranhos.”
Silenciosamente Ur-wu
deu a correspondente ordem e procurava nesse meio tempo conseguir qualquer
resposta dos estranhos que lhe fosse compreensível. Eles sentiam-se
aparentemente bem seguros e riam interiormente dos tolos Tuimahs.
De repente Ur-wu viu
seus homens aparecerem por detrás deles. Com a ordem dita em voz alta:
“Agarrem-nos!” ele
próprio avançou com seus acompanhantes ao encontro dos estranhos, os quais não
estavam preparados para isso e retrocederam.
Então eles viram-se
presos. Nenhum escapou, contudo, também não correu nenhuma gota de sangue.
Ur-wu ordenou que os
seis fossem amarrados e que cuidadosamente lhes fossem tiradas todas as armas.
Os estranhos defendiam-se desesperadamente, mas precisaram reconhecer que não
podiam fazer nada contra a supremacia deles.
Eram grandes, magras
figuras de uma pele mais clara e mais amarelada, com cabelos longos, negros e
lisos, que pareciam estar engordurados. Suas vestimentas eram coloridas, mas
significativamente mais completa do que a do povo Tuimah.
Vigias e U-aus foram
elogiados, então os homens seguiram com os seus prisioneiros para a frente da
cabana de Bu-anan, que já aguardava.
“Por que vocês vieram?”
perguntou aos amarrados.
Ela percebeu através de
seus movimentos, que eles tinham compreendido as palavras, mas os homens
fizeram de conta como se não tivessem podido decifrar a linguagem e responderam
em seu próprio idioma.
Então foi notável que
Bu-anan compreendesse exatamente o que os homens falavam, apesar dela jamais
ter ouvido o idioma deles.
Não era nenhuma
resposta relacionada a sua pergunta, mas sim um desrespeitoso insulto. A
resposta era tão feia que a Mãe Branca resolveu não deixar eles perceberem que
ela tinha entendido.
Exteriormente calma ela
disse:
“Já que vocês se
comportam como se não compreendessem minhas palavras, assim vocês serão nossos
prisioneiros, até que os vossos deuses iluminem vossas mentes. Então poderemos
continuar conversando uns com os outros.”
Um turbilhão de
estranhas palavras insultuosas jorrou sobre Bu-anan, que calmamente ergueu a
mão e ordenou ao povo Tuimah para que levassem os homens embora.
Tampem-lhes
primeiramente a boca que se movimenta demais”, ordenou ela, exatamente porque
ela sabia que os estranhos podiam compreender, “e cubram-lhes seus olhos! Eles
vieram para nos espionar. Isto eles não devem fazer nem mesmo como
prisioneiros.”
“Se, contudo, tu sabes
porque viemos por que pergunta mulher?” exclamou um dos homens irado na língua
dos Tuimahs.
Bu-anan e com ela todos
os presentes não deixaram perceber nenhuma admiração e não deram nenhuma
resposta. Os homens foram levados embora, assim como a Mãe Branca ordenara.
(continua)
Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz).
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +:
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África. (Nas Florestas da África)
Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: