segunda-feira, 9 de julho de 2018

África XVI






Nas Florestas da África

Episódio XVI

Com Galhardia no Comando

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, em seu cargo de chefia da tribo, pela sua responsabilidade com a segurança da comunidade, também decidia sobre a situação dos presos que foram capturados como espiões estrangeiros, invasores do local... 

(continuação)


Bu-anan já queria dar novamente a ordem para que levassem os presos embora, então o mais velho deles resolveu-se finalmente a falar. Mal humorado ele falou:
“Não há homem nessas miseráveis cabanas? Todos eles ficam escondidos atrás da saia de uma mulher? Onde está o chefe da tribo?”
Bu-anan ficou calada. Este não era o jeito de fazê-la falar. Novamente o silêncio perdurou por um longo tempo, então um outro disse:
“Nós não estamos acostumados a falar com mulheres!”
Um leve sorriso franziu os lábios de Bu-anan:
“Isso estou vendo, pois do contrário teríeis mais respeito. Vós tendes maus costumes, estranhos.”
Então o terceiro bramiu:
“Com qual direito julgas nossos costumes, mulher?”
“Com direito dobrado: a partir do direito do vencedor sobre o derrotado e, mais ainda, a partir do direito da mulher pura!”
Eles pareciam quase constrangidos. Assim não chegariam adiante. Dessa mulher irradiava uma elevação como eles jamais vivenciaram. Se apenas soubessem o que deveriam dizer.
Então Bu-anan lhes disse:
“É bom que noteis, estranhos, quão pouco podeis conseguir com a maneira assim começada. Dai respostas verdadeiras para minhas perguntas, então poderemos ver o que será feito convosco.”
Novamente eles se olharam. O olhar significava: cuidado, não trair o motivo por que viemos e de onde nos originamos.
Essa precaução fora desnecessária, a esperada pergunta não foi feita.
“Tendes algo a reclamar de vossa prisão?” perguntou Bu-anan.
Eles estavam tão surpresos que não encontraram nenhuma resposta. Finalmente, um deles se animou e assegurou que as cavernas eram grandes e arejadas, e que também tinham tochas suficientes para iluminá-la.

“Recebeis comida suficiente?” foi a próxima pergunta. Também isso eles responderam afirmativamente.
“Então não há nenhum motivo para que não podeis ficar aqui por mais algum tempo”, fora a resolução inesperada de Bu-anan.
“Eu enviarei mensageiros para vosso príncipe para lhe informar que seus espiões estão presos aqui. Ele deverá dizer como quererá libertar-vos. Até lá tereis de ter paciência.”
A surpresa dos homens foi tão grande, que esqueceram que esperavam por outra resolução.
“De onde sabes de nosso príncipe?”
“Quem te disse que viemos como espiões e não como comerciantes pacíficos?”
“Como teu mensageiro encontrará nosso país que fica tão longe?”
As perguntas precipitavam-se uma atrás da outra. Aos estranhos parecia incompreensível que Bu-anan falasse com tal tranquilidade sobre aquilo que eles ocultavam dela.
E essa admiração fez com que perguntassem novamente:
“És uma feiticeira?”
“Não sei o que é isso”, respondeu Bu-anan.
“Uma mulher que está em ligação com poderes extra-materiais”, veio a rápida resposta.
“Eu sou a serva do Senhor dos Mundos”, disse Bu-anan, e uma enorme dignidade vibrava através de suas palavras.
Então os homens se calaram e deixaram-se levar, sem resistência, de volta à prisão.
Mal estavam fora de alcance para ouvirem, os homens Tuimahs que estavam presentes, não conseguiram se conter. Suas vozes soavam em confusão uma após a outra. Eles sabiam, sim, que Bu-anan recebia seu saber do alto, eles sabiam que ela era a melhor e mais pura mulher da Terra, mas tão elevada, tão celestial como a pouco, nem mesmo eles jamais tinham visto sua Mãe Branca. Alguns deles ajoelhavam-se diante dela.

Ela se esquivou amigavelmente, mas com determinação.
“Agradecei a Anu”, disse ela, “que auxiliou Sua serva. Agora precisamos pensar em enviar mensageiros para o príncipe desses homens. Como essa gente entende nossa língua, assim vós também podereis fazer-vos entender por eles. Quem entre vós quer ousar seguir o distante caminho sob a condução dos pequenos?”
Todos se apresentaram. Quando Bu-anan achava que algo era certo, não havia o que pensar.
Ela determinou que Ur-wu ao lado de mais três e alguns negros deveria ir. Ur-wu podia se entender com os pequenos, ele era o chefe da tribo e era o mais apropriado para isso.
Já no dia seguinte os homens partiram.
Bu-anan havia instruído Ur-wu a seguir em tudo o conselho dos pequenos, não apenas no que se referia ao caminho a ser tomado, mas muito mais no que se referisse ao príncipe estranho. Anu havia dotado um dos pequenos com especial sabedoria, Urwu poderia entregar-se à sua condução.
Durante o tempo que Ur-wu precisaria estar distante, Bu-anan determinou seu filho, Ur-an, para chefe dos homens. Era muito bom que ele, o qual deveria mais tarde dirigir toda a tribo, já pudesse se exercitar agora, enquanto Bu-anan ainda estivesse aí para aconselhá-lo.
Ela própria mantinha Ur-ana bem próxima de si para formar a alma da criança.
A pequena compensava-a ricamente o menor esforço e com alegria aprendia tudo o que a Mãe Branca lhe ensinava. Suas perguntas comprovavam que ela se ocupava interiormente de forma contínua com tudo o que via e ouvia de Bu-anan.

(continua)






Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: