Sal
da Terra
por
Susanne Schwartzkopff
Mateus
5, 13
Vós
sois o sal da Terra. Mas se o sal se tornar insípido, com
que há de se salgar? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado
pelos homens.
✡
Em seu sermão da
montanha, cuja anunciação feita de uma elevação é simbólica, Jesus inseriu nas
bem-aventuranças fortes apoios para nós, seres humanos, nos quais podemos nos
apoiar em todos os tempos. Ele dirigiu essas palavras às muitas pessoas que haviam
se reunido ali em torno Dele.
Então Ele voltou-se
para seus discípulos, que estavam assentados aos seus pés e falou-lhes com as
significativas palavras: “Vós sois o sal
da Terra”.
Como sempre Ele deu uma
nova verdade em forma de imagem, a qual se cunhava indissoluvelmente na memória
e a qual também estimulava sua receptividade, muito mais do que uma palavra
usual. Uma imagem nós observamos de todos os ângulos, sempre de novo, até que a
tenhamos pesquisado bem, até que se tenha tornado nossa propriedade. Uma
palavra nos escapa novamente de forma fácil.
As imagens e parábolas de Jesus estão cheias de um profundo sentido. É
necessário tempo e silêncio para que possamos compreendê-las. Assim também os
discípulos devem ter levado consigo a sentença “sal da Terra” e refletido sobre
ela até compreenderem seu profundo sentido.
Como seria nossa vida
sem o sal, esse tempero simples e modesto, a nós tão evidente e
necessário?
Plantas, animais, bem
como os seres humanos necessitam dele para a construção e manutenção de seus
corpos. Ele é essencial à vida.
E eles, os discípulos,
também deveriam ser sal - sal da Terra?
Eles também seriam
necessários para a vida da Terra?
Certamente eles devem
ter levantado o olhar, admirados, quando isso lhes veio à mente. Deve tê-los
estremecido: sem sal não há comida.
Ele dá o tempero, o gosto, ele exalta a qualidade da comida. Se uma refeição
tiver que nos agradar o paladar, então ela deve ser temperada com sal. Se não
tivéssemos mais nenhum sal, então teríamos que adoecer. E – nós devemos ser
sal?
Qual é a comida que devemos temperar e tornar saborosa para
a Terra?
Os discípulos de Jesus
estavam acostumados que Ele lhes esclarecesse fenômenos e leis espirituais com
suas parábolas e imagens. Portanto, a comida que Ele determinara seus
discípulos como um complemento necessário, deveria ser de espécie
espiritual.
Como, porém - seriam
eles necessários para tornar essa comida acessível aos seres humanos? A palavra
de sua boca, da boca de Jesus, já não era tão clara, tão convincente e
arrebatadora, de forma que não precisasse mais de seus auxílios para torná-la
compreensível às criaturas humanas?
Com essas perguntas
devem ter surgido aos discípulos algumas recordações de acontecimentos que eles
vivenciaram junto: como o Filho de Deus
se retraíra para o silêncio e como deixara os insistentes seres humanos a cargo
dos discípulos. Como o fogo de Pedro, a prontidão cheia de amor de André e a
profunda compreensão de João auxiliaram tantas pessoas a compreenderem a
Verdade que se lhes tornara tão estranha. A palavra
humana que, conforme sua espécie estava bem mais próxima deles, era-lhes
mais compreensível do que a Palavra de
Deus.
Os discípulos nessas
oportunidades teriam sido o “sal”?
Teria Jesus, por fim,
lhes oferecido essas oportunidades para que se tornassem sal da Terra?
Assim deveria ser. Ele
havia experimentado se eram capazes, havia lhes ensinado isso de forma
despercebida e sem que isso se lhes tornasse consciente.
Hoje, porém, nessa hora
Ele havia pronunciado isso, havia lhes dado urna incumbência - pois se tratava de uma - e a sentença “sal da Terra”
havia-lhes repentinamente revelado sua finalidade e lançado sua luz ainda num
futuro mais distante. Pois sem dúvida Jesus também havia pensado no tempo em
que Ele não mais estaria junto deles. Então, também nesse tempo eles deveriam
ser sal para os outros, principalmente aí.
Sal
é sempre sal, ele tempera e cumpre sua finalidade.
Se, contudo, faltar, então a comida se torna insípida e sem sabor, e não a
queremos mais.
Exatamente assim
aconteceria com a Palavra de Deus. Se
os discípulos não adicionassem seu sal, então ela se retiraria cada vez mais
dos seres humanos, até que por fim se afastasse totalmente. O mediador
faltaria, aquele que prepararia o alimento espiritual para todos.
Com essa finalidade o
Filho de Deus ensinou e instruiu seus discípulos. Para serem mediadores, pontes
para a humanidade, mediadores que ela necessitava em sua fraqueza. Com esse fim
sua presença os havia fortalecido diariamente, devido a isso ainda receberiam,
após o seu falecimento, a força do Espírito Santo.
No dia do Sermão da
Montanha Jesus havia instituído seus discípulos em seus cargos, o qual era
público a todos e do qual ninguém poderia se excluir.
“Vós sois, não deveis primeiramente tornar-vos, pensai nisso em todo o
futuro, é a vossa missão!” Isso residia nas breves palavras! A Palavra da Verdade necessitava deles
como auxiliadores.
A Verdade está por toda
a parte, não apenas sobre nós em alturas distantes e inalcançáveis. Ela está ao
nosso lado, à nossa frente, em torno de nós. Ela nos é revelada pela natureza
em milhares de imagens. Vivências e consequências de nosso agir expressam sua
clara linguagem. Elas falam: Essa é a Verdade, examinai-a, aprendei através
dela.
Mas raramente ainda
compreendemos sua linguagem. De fato, a Verdade se encontra por toda parte, mas
nós precisamos de alguém que a interprete para nós, alguém que nos seja “sal”. Que seja mais conhecedor, mais sábio,
que veja mais do que nós. Seres humanos que nos possibilitem compreender a
Verdade, pois eles são seres humanos como nós.
Poucos grãozinhos de
sal perpassam uma grande quantidade de alimento. Assim também, comparando-se
com a grande quantidade de seres humanos, apenas
poucos escolhidos foram necessários para manter viva e retransmitir a
doutrina de Jesus. A força do sal puro é tão grande que ele pode preparar
muitas coisas.
Assim é quando o sal é
sal.
Mas Jesus entrelaçou
uma séria advertência em sua incumbência aos discípulos: o sal não deve se tornar insípido.
Se isso acontecer,
então se estragará para sempre, pois - o sal não pode ser ressalgado, não pode
ser recuperado. Só pode ser lançado fora e pisado como imprestável e inútil. -
Que grave seriedade!
Se os discípulos
deixassem de ser sal, então não retransmitiriam mais de maneira correta a
Verdade para outrem, não cumpririam sua missão. Teriam se mostrado imprestáveis
para o Reino de Deus. E algo que é
imprestável não é tolerado dentro dele.
Aqui é pronunciada uma
verdade, perante a qual nós, seres humanos, gostamos sempre de nos esquivar, a
verdade que um dia pode haver um “tarde demais”, do qual não há um
retorno.
Assim como um corpo
morto não pode se encher de vida novamente, também o sal estragado não pode se
tornar de novo um bom sal.
Nenhum milagre pode
devolver novamente sua determinação. Perdeu sua vida. Velai, adverte Jesus
aqui.
Não negligenciai vossa
missão, cumpri aquilo de que fostes
incumbidos.
Apenas na vigilância o
conseguireis. Permanecei como um bom sal, não vos tornais indolentes.
Quanto não repousa na
sentença “sal da Terra”. Os discípulos não a esqueceram; fora esboçada também
para nos advertir.
Pois não devemos nos
contentar em reconhecer aí apenas uma incumbência para os discípulos de Jesus -
nós também podemos nos tornar sal para nossos semelhantes. Podemos temperar e perpassar nosso ambiente com
alegria, contentamento e gratidão e, com isso, tornar a vida mais alegre e
mais frutífera.
E como o sal penetra
totalmente uma comida, podemos também tentar compreender amplamente nosso
próximo e não julgá-lo unilateralmente.
Apenas quando chegarmos
a ver mais do que apenas a parte exterior, quando tivermos nos tornado mais
justos aí, mais observador, mais pacífico, teremos contribuído com uma parte
para que o sal de nossa compreensão
produza paz.
Com isso também
aproximaremos mais da Verdade, e “sal” tem sempre a ver com a Verdade.
Quantas vezes um único
ser humano já fez com que tudo se voltasse para a Verdade com sua ardente
vontade, ajudando-a a romper onde milhares se encontravam com a indolência do
deixar-se levar, pois “é assim”.
Sua coragem pessoal,
sua prontidão, sua ardente convicção os tornara sal da Terra, sal que impôs a
Verdade a despeito de todos os obstáculos.
Assim a escravidão fora
abolida contra a oposição de seus usufrutuários, assim certo poeta ou homem do
Estado ergueu destemidamente sua voz a favor da Verdade e fez valer sua
opinião. Pois ele era sal, tinha a
coragem de ser sal!
Que não nos possa
faltar coragem para sermos sal da Terra na hora certa. Isso pertence como
pré-condição para um mundo melhor sobre a Terra.