O Prefeito de Vomperberg
por Otto Ernst Fritsch
Descrevo aqui as Palavras do Senhor, infelizmente apenas de lembrança e por isso somente de acordo com o sentido, mas, segundo minha convicção, reproduzidas com grande fidelidade:
(continuação)
⑱ O Senhor disse-me que
meu pai, na época de Cristo, foi o capitão romano que liderava a tropa que
levou Cristo ao Gólgota e que tinha que comandar a execução. Foi o mesmo
capitão romano que, abalado e surpreso pelo acontecimento colossal – já que ele
não absorveu o acontecimento apenas de forma terrena, mas também espiritual –
exclamou depois do assassínio: “Em verdade, em verdade, este era o Filho de Deus!”
Depois
de seu reconhecimento, este capitão romano, ao falar outrora estas palavras,
foi ligado ao grande acontecimento da Luz que abrange mundos e, por isso,
também com a atuação de Abdrushin. Minha mãe e eu, muitos anos antes de
encontrarmos a Mensagem do Graal, éramos buscadores e havíamos conhecido várias
linhas espirituais: Lorber, antroposofistas, teosofistas, ateístas, mórmons,
etc. Lemos o Talmud, ocupamo-nos com o Corão e com a ciência cristã e os
Testemunhas de Jeová, mas em parte alguma encontramos a Verdade por nós
ansiada, aquela completa, sem lacunas, sem possibilidades de contestação.
Finalmente, estudamos também o espiritismo e o ocultismo. Estas
duas correntes não foram condenadas na Mensagem do Graal, como muitos
portadores da Cruz e também pessoas de fora pensam, mas a crítica dirige-se
contra a dependência, a ignorância e a vaidade das pessoas, que não conseguem
fazer nada com esta ajuda espiritual e, muitas vezes, até mesmo arriscam-se
muitas vezes em grandes perigos inúteis. No espiritismo e no ocultismo também
acontece a transmissão de mensagens muito surpreendentes. Cavaleiros,
apóstolos e muitos discípulos, por exemplo, foram conduzidos ao Graal através
destas mensagens ou através de mensagens de espíritos do Além. Também meus pais
e eu trilhamos este caminho em 1931. No nosso círculo espírita em Wiesbaden, um
espírito que foi uma vez uma princesa indiana, preparou-nos gradativamente, em
várias sessões, para a recepção da Mensagem do Graal. Textualmente ela nos
disse certo dia: “Quando a lua arredondar-se onze vezes, vocês irão receber uma
notícia que irá mudar tudo, de uma só vez!” E realmente, depois de passado o
tempo previsto, em 16 de setembro de 1931, minha mãe e eu tomamos conhecimento
da Mensagem do Graal e do Filho do Homem. Eu me decidi espontaneamente em
viajar imediatamente até Vomperberg e permanecer ali para sempre. Mas, por
algum motivo, meu pai não queria saber nada da Mensagem do Graal. O casamento
de meus pais, que já durava quase 30 anos e era feliz e harmônico, sofreu com
isso grandes tensões e dificuldades. Minha mãe até disse com toda a seriedade:
“Se tu me dificultares o caminho que eu considero como certo, então nossos
caminhos separam-se”. Então meu pai leu a Mensagem e reconheceu bem rapidamente
que o portador desta Palavra não era um homem comum. Em fevereiro de 1932,
também meu pai solicitou por escrito a Cruz do Graal. No início de maio, ele
fez então uma visita a Vomperberg e pediu uma entrevista com Abdrushin.
Assim
como meu pai, em sua encarnação anterior, foi o primeiro a reconhecer
publicamente: “Em verdade, em verdade, este era o Filho de Deus!”, assim, nesta vida terrena, ele também foi o
primeiro espírito humano que não mais chamou Abdrushin de “Abdrushin”, ou
o Senhor Bernhardt, ou como alguns faziam, de “Mestre”, mas abalado, ele disse
foi: “Senhor”. − Desde então, o
tratamento “Senhor” para o portador
da Mensagem do Graal passou a ser usual entre os portadores da Cruz, os quais,
também nas conversas que mantinham entre si, sempre falavam do Senhor.
Como
meu pai ocupava uma convocação elevada e de grande responsabilidade na proximidade
do Senhor, e como ele também
pressentiu de forma imediata esta convocação em seu íntimo, ele pediu: “Senhor, será que eu também poderei
ficar para sempre nas proximidades do Senhor?”
Este confirmou e disse: “Isso depende unicamente
do senhor”. Apesar de meu pai ter acabado de comprar uma mansão muito
bonita no Kurpark em Wiesbaden e de tê-la arrumado completamente, ele se
decidiu por permanecer para sempre junto com sua esposa em Vomperberg. Como o
número de portadores da Cruz aumentava de mês a mês e, por consequência, havia
cada vez mais correspondência comercial, requerimentos e trocas comuns de
correspondência, meu pai foi imediatamente introduzido nas atividades de
“administrador”. Em 30 de maio de 1932, ele não somente recebeu o selamento, mas também ao mesmo tempo sua
convocação, o que, pelo que sei, ocorreu então pela primeira vez. ¾
Certo
dia, o Senhor disse ao meu pai, o
qual, mais ou menos de acordo com o sentido, contou então conforme adiante: que
a nova construção somente poderia ser realizada por Ele, o Senhor, e a partir daqui de cima, de Vomperberg. Assim como para um
ser humano é muito honroso ser o prefeito de Berlim ou de Nova Iorque, assim
meu pai seria o prefeito da comunidade que se formava aqui em cima.
Ele não deveria menosprezar esta tarefa, pois ela seria grande. − O Senhor escreveu, abaixo da foto que Ele
lhe presenteou, as seguintes palavras, que ainda ressaltam o que foi dito
acima: “Qualquer serviço para o Santo Graal é grande e, em seu valor, supera a
compreensão humana”. Mesmo não tendo ele, o Sr.
Fritsch, tarefas grandes e abrangentes a realizar aqui, assim como o prefeito
de Nova Iorque ou de qualquer outra grande cidade, ainda assim tudo o que
partisse da Montanha seria muito maior em sua importância espiritual do que a
maior tarefa terrena em qualquer parte desta Terra.
Devido
à incompreensão sobre os acontecimentos espirituais, muitos portadores da Cruz
muitas vezes gracejavam ou zombavam carinhosamente, chamando meu pai de “Senhor Prefeito”. Em 08.11.1932, muitos
portadores da Cruz parabenizaram meu pai pelo seu aniversário e, como ele era
bem humorado, brincalhão e aberto para cada brincadeira, assim como um cidadão
típico da região do Reno, as pessoas que o congratularam chegaram numa marcha
meio carnavalesca e o cumprimentaram de “Senhor
Prefeito”.
No
domingo, depois de 08 de novembro, na Casa de Devoção, o Senhor deu-nos a todos uma séria advertência, que atingiu o nosso
coração. As palavras do Senhor, eu
não sei mais dizer de forma acertada, mas elas testemunharam uma grande dor
sobre o fato de que nós teríamos transformado em algo ridículo o que somente era
sério e de grande importância espiritual, mesmo que nós, pequenos portadores da
Cruz, não pudéssemos ver isso. O quanto éramos broncos mostrou-se através do
fato de, a princípio, nem mesmo compreendermos esta advertência ao pensarmos:
“Por que não podemos fazer uma brincadeira de vez em quando e sermos
descontraídos?” Não havíamos reconhecido uma tarefa espiritual em sua real
importância, porque terrenalmente ela não trazia honrarias e, em seu aspecto
externo, realizava-se em âmbitos bem modestos. Aqui mais alguns pensamentos a
respeito:
Quem viveu naquela época na Montanha, pôde ver e
reconhecer sempre de novo, que todos nós, sem exceção, não estávamos aptos a
compreender as orientações, as recomendações, os mandamentos e as palavras do Senhor, sim, nem mesmo pressenti-las em
seu verdadeiro significado espiritual. O esforço de muitos portadores da Cruz,
de inteirar-se da Mensagem, era sincero, então por que estes malogros, que tão
facilmente podem ser motivo de desânimo? Eu o esclareço para mim com a ajuda de
uma comparação: Quando uma pessoa, depois de uma farta refeição, está
plenamente satisfeita, então ela não está mais em condições de ingerir outros
alimentos, mesmo que estes sejam da melhor qualidade. Nós, portadores da Cruz,
que chegamos à Montanha na década de trinta, ainda estávamos – vistos pela Luz
– plenamente repletos, não somente com coisas erradas que trazíamos dentro de
nós há milênios, mas também com as coisas erradas que havíamos absorvido desde
crianças, na casa paterna, na escola, etc. Encharcados de erros como uma
esponja molhada, ainda não estávamos prontos para receber o novo daquela forma
como era necessária. Somente de forma gradativa podia ocorrer uma modificação
em direção a algo melhor. Na medida em que, através de lutas internas e através
do anseio por reconhecimento e pela verdadeira humanidade tornamo-nos humildes
e largamos mão do errado, principalmente do circular dos nossos pensamentos em
torno do nosso pequeno eu, somente nesta medida conseguimos penetrar, passo a
passo, na Mensagem, estando então preparados para absorver o alimento
espiritual que aqui nos é oferecido. Mas ainda existe mais outra dificuldade,
pois não estamos acostumados a processar este alimento tão nutritivo e por isso
precisamos primeiro tomar em pequena quantidade, não devemos sobrecarregar
nossa capacidade de absorção. O estudante do ensino fundamental ainda não
consegue compreender o conteúdo do estudante do ensino médio e este, por sua
vez, não o do estudante do ensino superior. Este fato ficou bem evidente para a
maioria dos portadores da Cruz por diversas vezes através da própria vivência.
Quando, por exemplo, ouvimos ou lemos novamente uma dissertação da Mensagem
depois de certo tempo, então esta, por ocasião de um maior amadurecimento, atua
de forma totalmente diferente do que da última vez e nós descobrimos até mesmo
sentenças e pensamentos que antes nunca havíamos pensado ter lido ou ouvido,
porque seu significado repentinamente se ilumina e se nos torna consciente.
(continua)
Extraído (em continuação) da Cópia de um manuscrito de Otto-Ernst Fritsch