Conceito humano e vontade de Deus
Pergunta: A dissertação “Conceito humano e vontade de Deus na lei da
reciprocidade” faz surgir em mim
a sensação de que ela tenha sido escrita com sangue do coração. Ela sensibiliza
a minha simpatia. Seria impertinente perguntar se o conteúdo reproduz,
em parte, vivências próprias do autor?
Resposta: A pergunta não é impertinente, e eu não tenho nenhum motivo para temer uma
resposta franca. Sim, sou eu próprio! E com relação à verdadeira justiça e
injustiça, bem como à moral atrofiada, olho com legítimo orgulho por sobre
todos aqueles que com isso me causaram sofrimento, e ainda muito mais também
por sobre aqueles que hoje sempre o tentam novamente! Minha dissertação “Conceito
humano e vontade de Deus na lei da reciprocidade” não foi
apenas imaginada ou composta, mas seu conteúdo foi realmente vivenciado por mim
mesmo. Eu poderia adicionar ainda muita coisa, e trazer para isso, como
ilustrações importantes, sofrimentos suportados sempre de novo por
incompreensão e por pessoas com sentimentos baixos, essas, porém, deveriam
provocar uma revolta tão justa contra muita coisa e contra muitos, que prefiro
me abster disso, pois, no Além e, em parte, também já aqui, cada ser
humano tem que aguardar ele próprio, em todo caso, incontestavelmente aquilo que
ele semeou!
Olhai em
vossa volta com olhos límpidos! Com repulsa podereis ver muita escória diante
de vós, que se esconde sob o ouro falso da nobreza simulada. Exercitai-vos em
olhar através do caráter lisonjeador e palavras hábeis até o fundo
verdadeiro. Diante de tal olhar, a pele aparentemente bem branca, pura,
cobre-se com erupções cutâneas repugnantes, e aquele que se apresenta como
puro, mostra-se então como o mais impuro e inútil dentre muitos.
Pois existem
pessoas que se esforçam penosamente em mostrar externamente, de modo
extravagante, sempre o manto de total honestidade, distinção e também correção.
Repentinamente, porém, julgam ter que mostrar, por qualquer motivo, sagrada
indignação contra uma pessoa, a qual, por inveja ou ciúme, acreditam ter que
prejudicar de alguma forma. Em ingênua ilusão própria se fazem crer, que isso,
absolutamente, não é um prejudicar maldoso, desprezível como de outra pessoa, o
que tem por consequência um pesado carma, e procuram com tal procedimento
abominável ainda gabar-se orgulhosamente com a mentira, de que se trata de um
amor ao próximo repentinamente desperto, evidentemente, apenas para
isso, que antes nunca existia, de “causar prejuízo” ao pessoalmente odiado.
Nisso, porém, esquecem de manter a sua capa penosamente fechada e reviram-se em
seus procedimentos alegremente na mais repugnante sujeira e lama, mostrando que
a eles isso é absolutamente familiar, que a sua necessidade interior até os
impele a isso.
Com isso
revelam a todos os demais de modo nu e cru o seu verdadeiro interior, enquanto
eles, em ilusão própria, procuram fazer crer que eles, que se prestam de tão
boa vontade e até entusiasmadamente a ser ferramenta das trevas, somente servem
ao bem e que querem mostrar sujeira aparente. Os infelizes são, então,
facilmente reconhecíveis a cada pessoa perspicaz como depravados e manchados,
apenas não a si próprios!
E essa
cegueira pesa como a maior maldição sobre a humanidade! É, em seus efeitos para
o Além, de um horror assustador. “Os carregados de maldição” é a
denominação bem correta. Mas não expressa nem uma fração daquilo que de horror
abriga em si.
Que séria
exigência já está contida nas palavras de Cristo, quando ele diz: “Não atentai
para o argueiro no olho de teu irmão, mas olhai a trave no teu próprio olho!”
Buscadores,
examinai com seriedade as atitudes dos seus próximos em relação às intenções!
Depois olhai então para eles, encontrarás em muitos, atrás de uma máscara
dissimulada, logo também o verdadeiro rosto desfigurado, que
desperta repugnância em vós e profunda tristeza, porque talvez oferecestes a
muitos deles sentimentos puros e verdadeiro humanismo! Deus queira que a época
da verdadeira purificação inicie em breve, perante a qual a hipocrisia dos
fariseus não pode subsistir, os quais agora servem como o melhor solo de
ancoragem dos poderes mais escuros.
Chamo aqui especialmente ainda a atenção para a dissertação já publicada
há anos: “A luta”.
Para
amadurecer internamente e, nisso, examinar as minhas dissertações quanto à sua
aplicabilidade, seria bom se o buscador sério tirasse às vezes algo de
seu próprio vivenciar e, aprofundando-se nele, fizesse a
tentativa de desmembrá-lo, utilizando as indicações em minhas dissertações.
Nisso, ele aprenderá a ver, isto é, aprenderá a compreender como
esses acontecimentos estão pendurados, semelhante a nós, no tecido
fino-material, como os fios correm para frente e para trás, bem como para todos
os lados e vindos de lá. Surge aos poucos um quadro vivo, que permite uma visão
clara, e com isso também um discernimento totalmente diferente, que muitas
vezes deve desviar muito das concepções existentes.
Exige algum
esforço, e todo começo é difícil, principalmente nisso, porém, a recompensa no
final é imensa! —
Abdrushin