Dos Mistérios da Atuação de Deus:
O Amparo de Troia
por um convocado
De fraqueza, Péricles
havia caído de joelhos sob a poderosa pressão da luz. Ele tremia, estava branco
e gelado. A força do anjo anunciador havia sido demais para ele.
Mas mesmo assim
uma pergunta soou de sua boca:
“Mas como
devemos encontrar a luz, senhor?”
“Tu a verás na
hora de sua chegada. Uma pomba branca irá pairar sobre a casa!”
O hálito do luminoso tocou-o e
ele desapareceu no nada diante de seus olhos.
E houve grande
movimento no mundo. Péricles o percebia. Seus delicados órgãos de observação se
aguçaram ainda mais. Ele, que sempre estivera estreitamente ligado à natureza,
sentia o vivificar das plantas e dos animais. Era como se todos os seres se
espreguiçassem, se aprumassem e se esforçassem para o alto, no novo brilho. O
sussurar nos ares se intensificou, o murmúrio nos rios e nas fontes aumentou de
forma extraordinaria.
Como uma clara e
delicada via láctea, formou-se um brilho no céu, até embaixo na Terra.
De modo bem
especial, misterioso, sim, respeitoso, esta corrente de luz tocou a sua alma.
Ele falava livremente
disso aos seus companheiros, mas estes olhavam para o céu e não conseguia
reconhecer nada. Contudo, eles diziam confiantes:
“Deve ser assim,
se é Péricles quem diz.”
Ele se preparou
para a vinda da grande luz sobre a Terra.
Os pastores
acreditaram nele, mas não refletiam a respeito. Eles também não sentiam aquela
grande alegria que só é dada ao espírito que se encontra desperto e preparado
para o amor de Deus. Eles aguardavam para ver o que aconteceria. – Uma raposa que
atacasse a manada, ou uma ovelha doente poderia chamar muito mais a sua
atenção.
Péricles sentiu
isso. Ele não estava surpreso por causa disso e se calou. Mas quanto mais
silenciava, tanto mais intensamente ele sentia todas as elevadas forças do Além
que se aproximavam dele.
Ele olhou para
baixo, para a cidade adormecida, que se encontrava numa delicada neblina
noturna. Archotes em chama tremulavam em algumas casas e portões – os precursores
da noite. No leste o azul profundo já havia dado lugar a uma escuridão sem cor;
no oeste, porém, ainda estava claro no céu e uma listra vermelha emoldurava o
mar.
Todos os enteais
haviam desaparecido. Contudo, para ele era como se reluzisse um brilho, uma luz
dele mesmo, como de uma lâmpada. Ele olhou em volta, pois achava que um dos
seus companheiros havia se aproximado com uma luz. Mas não era isso. Ele reuniu
seus pensamentos e lançou-se ao chão, pois seu coração estava transbordante – e orou. Esta
solução silenciosa lhe fez bem; tornou-se-lhe claro, que ele estava esperando
por algo, por alguma coisa grandiosa, que o arrebataria no espírito de forma
poderosa. Ele se lembrou novamente do mensageiro de Deus.
Como ele havia
dito? “Eu sou o mensageiro de Deus!” Mas de qual Deus ele havia falado? Quando
ele se encontrava sentado assim tão quieto e pensativo, desprendido e cheio de
confiança, cheio de humildade, uma voz perpassou-o de forma nítida e clara:
“Só existe um Deus! Nós todos
O servimos, somos apenas efeitos de Sua vontade.”
Era assim que
soava do alto, dos ares.
“Nós tecemos na
Sua lei, mas a luz que agora vem a ti, esta provém Dele”.
Ele sentiu
vertigens, pois tudo isso lhe era tão novo.
O
céu naturalmente se envolvera com a noite; as estrelas brilhavam como nas
noites úmidas pela chuva, quando um vento quente soprava, limpando o céu. Havia um suave pesadume sobre a terra
que exalava um cheiro úmido.
Então foi como
se uma corrente de chamas luminosas descesse do céu! Em apenas um segundo, a
região inteira estava mergulhada na luz branca. Péricles quis fechar os olhos,
mas eles permaneceram arregalados como que obrigados.
E ele viu uma
Pomba branca e brilhante acima de si, ela trazia uma rosa dourada no bico. Seu
vôo era um deslizar silencioso. Ela desceu sobre o castelo de Príamos e
desapareceu.
O pastor se
levantou, deixou o seu rebanho e apressou-se para a cidade, para contar o fato
ao rei.
Um júbilo soava
em sua alma como o badalar de sinos:
“Existe somente um Deus, mas a luz, que agora vem até ti, esta vem Dele!”
(continua)
Editora Der Ruf“ G.m.b.H. Munique – 1934