Dos Mistérios da Atuação de Deus:
A Bravura de Maria
por um convocado
Branco como
cristal e irradiando de forma transparente, como um grande diamante, assim
reinava o Rei Parsival sobre o elevado assento dourado luminoso. De sua cabeça,
que portava o elmo prateado com a coroa, resplandecia a Pomba. Seus olhos eram
claros como ouro e a abundância de seus cabelos de luz alcançava até os
seus ombros. Nas mãos,
transparentes como alabastro, ele segurava a espada.
À sua direita
estava sentada Maria em vestes resplandecentemente brancas. Irmingard, porém,
seguida de um grupo de amáveis mulheres, saiu de uma sala à esquerda do grande
salão, descendo sobre degraus largos e luminosos.
Em suas mãos
erguidas, ela trazia a taça luminosa, que, ajoelhando, ela ofereceu ao Rei do
Santo Graal.
Nisso soava como
coros de sinos e sons de órgãos. O soar se propagava, embora em ondas incontáveis,
e sempre novas correntes da mais pura luz seguiam estas ondas.
Os amplos salões
de colunas estavam repletos de grupos incontáveis de espíritos irradiantes. Em
todo este brilho e este som da luz, reinava adoração bem-aventurada a Deus
através do Burgo sagrado.
E uma nova, mais fortalecida e
bramante vibração da luz dourada fluía para lá, enviada do mistério de Deus com
as palavras do Pai:
“Que assim aconteça!”
E desceu a mão
de Deus sobre a cabeça do Filho e separou o amor da justiça. E sobre os ombros
de Maria se deitou um manto de um maravilhoso preto irradiante.
Maria
incandescia igual à luz da taça sagrada nas mãos de Irmingard. De cima fluía a
força do Pai e Maria colocou suas duas mãos sobre o Santo Graal. Ela orava.
Inflamando-se, a
luz branca de sua coroa se intensificou, semelhante a um ramo de rosas
cintilantes. A Rainha primordial aproximou-se dela, envolvendo-a ainda mais
firme em seu manto, cuja constituição só tem seu efeito protetor na força dos
cumprimentos. Ao baixar para a materialidade da Criação, o manto se modifica
sempre na espécie correspondente, necessária para a proteção de Maria.
Pois o amor oriundo da justiça é tão puro que sem invólucro ele jamais poderia
subsistir na materialidade, na corrente dos mundos escuros. Ele sempre seria
atacado e obscurecido pelo mal oriundo de Lúcifer.
A oração de
Maria ao Senhor intensificou-se até a força máxima. Como línguas de chamas
sagradas os espíritos bem-aventurados encontravam-se em torno de seu Rei
Parsival. Maria continuava a orar e, lentamente, sobre os raios que o
Lírio Puro enviava para baixo, no querer de sua própria espécie, de plano a
plano, Maria desceu em oração gradativamente à Terra! —
Em cada um dos planos ela
provocava um forte afluxo de força luminosa. Como se fossem preenchidos com
nova vida, era assim que os puros Criados intuiam a passagem do amor celeste. —
—
No
tempo destes acontecimentos vivia na Terra, nas proximidades de Tróia, um
pastor solitário: Péricles. Ele tinha o dom de poder ver e ouvir muitas coisas
com o espírito, que permaneciam ocultas aos outros.
A noite já
descia sobre Tróia; nas campinas reinava silêncio. As ovelhas e as cabras se
reuniam e todas encontravam o seu lugar. Elas respiravam baixinho, como se
estivessem ouvindo atentamente. As flautas ecoavam apenas de modo fraco, só
para dar a saudação noturna aos pastores espalhados por ali. E também já
apareciam as primeiras estrelas brilhantes no céu noturno. A alma de Péricles ficou silenciosa e
solene.
Para ele era
como se do oriente longínquo se aproximassem, cada vez mais claros, exércitos
por sobre as montanhas, rios, florestas; como se ele ouvisse um cantar jubiloso
de vozes, algo que ele nunca tinha ouvido antes.
Então ele se
sentiu, repentina e delicadamente tocado em sua fronte, como que por delicados
e frescos dedos, e então levantou o olhor. Ofuscado, porém, ele teve de fechar
os olhos. Apenas depois de alguns momentos receosos ele pode reconhecer
nitidamente, que diante dele, num resplendor irradiante, encontrava-se um belo
jovem dirigindo-lhe a palavra. Mas a voz era tão enorme e poderosa, que devido
ao seu bramir, ele mal podia assimilar o sentido do que era dito.
“Eu sou um mensageiro de
Deus!”, falou o luminoso. “Eu vos anuncio uma grande alegria. Vá, Péricles, e
diga a todos que querem crer: nasce uma luz sobre Tróia! Se reconhecerdes esta
luz, então ela vos dará a abundância da vida. Se, porém, não a reconhecerdes, ficareis entregue à morte!”
(continua)
Editora Der Ruf“ G.m.b.H. Munique – 1934