segunda-feira, 3 de setembro de 2018

África XXIII







Nas Florestas da África

Episódio XXIII

Sob Incêndio Devastador

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, sob a situação da tribo rendida, a mercê de estranhos invasores, decidiu negociar com o chefe do bando: todas as preciosidades tidas como o maior tesouro de seu povo...

(continuação)

“Nós também precisamos buscar as coisas que determinamos para o Filho de Anu?”
Com o rosto voltado para trás Bu-anan confirmou. Era-lhe muito difícil e, contudo, tinha que ser assim. Ela sentia isso muito bem.
Aí irrompeu de um dos homens:
“É indiferente que percamos tudo, se pudermos ficar para que o Filho de Anu nos encontre, quando Ele vier.”
Essa frase ajudou a todos, a realizar o mais difícil. Sem se cansar arrastavam para lá tudo o que possuíam de preciosidades.
Quando a última peça se encontrava à frente do estranho, que examinava com um olhar admirado os produtos, de uma habilidade que ultrapassava em muito a capacidade de seu povo, ecoou de repente gritos de pavor:
“Está queimando! Fogo, fogo!”
Era verdade. Despercebidamente uma das cabanas devia ter se incendiado. O vento levava as chamas dançantes de uma cabana à outra. Antes que se pudesse pensar em salvação, mais da metade das cabanas estava pegando fogo.
Aí não restava outra coisa senão, mais do que depressa, sair pela passagem e se refugiar na floresta.
Daí o homem com pele de tigre havia chamado seus guerreiros e mandou-lhes que levassem cuidadosamente os tesouros que se encontravam no chão para a floresta.
Bu-anan, porém, saiu correndo com gritos de pavor:
“Os U-au!” em direção as grandes cabanas, onde os animais estavam presos e uivavam e vociferavam.
Logo, mais homens estavam ao seu lado e rolavam a grande pedra para o lado. Impetuosamente os animais saíram pela abertura e se precipitaram sobre os estranhos.

Foi necessário o maior esforço dos homens para chamá-los de volta. Os estranhos já haviam pego as armas para se defenderem contra os animais, que pensavam ser selvagens.
Admirados, porém, olhavam como as feras obedeciam aos homens. Alguns dos homens levaram-nos para a floresta e se colocaram junto deles até que se acalmaram.
Todos os Tuimahs puderam se salvar, nenhum morreu nas chamas. Contudo a aldeia foi totalmente consumida pelo fogo. Como surgira o fogo?
“Qual de vós ateou fogo nessas cabanas?” perguntou o estranho com os olhos ardentes.
Os guerreiros encararam seu olhar e ficaram calados.
“Falem, eu quero saber a verdade! Não somo assassinos e incendiários!” bramia o chefe.
Aí Bu-anan foi até ele, tendo a mão de uma mulher que chorava.
“Não te zangues com tua tropa, homem-tigre”, disse ela. “Eles são inocentes. Esta aqui e algumas outras, num medo cego, jogaram fogo nas cabanas. Elas preferiam serem queimadas, a caírem em vossas mãos. A fé delas em Anu foi muito pequena”, acrescentou ela amargamente.
Cada vez maior se tornava a admiração do estranho. Que mulher era essa! E quem era Anu, de quem ela falava incessantemente. Sobre isso ele deveria interrogá-la mais tarde. Agora tinha que agir.
“Escute”, falou ele a ela, “eu não queria vos levar junto. Agora, porém, vossas cabanas estão queimadas e não tendes mais um lar. Venham comigo! Devereis poder viver, como estais acostumados, apenas tereis que trabalhar pelo vosso sustento e fazer adornos e tecidos para as nossas mulheres. Quereis fazer isso?”
Ur-an saltou à frente.
“Melhor não ter um lar, mas ser livre!” exclamou ele, e pôde-se perceber que os homens eram de sua opinião. Também os estranhos guerreiros compreenderam seu intuir.
Bu-anan, porém, ergueu a mão.

“Esquecestes o que Anu nos mandara dizer?” indagara ela. “Quando vier aquele com pele de tigre, segui-o! Anu mesmo determinou que sigamos com ele. Por isso deixou que nossas cabanas se consumissem pelo fogo, pois até eu havia esquecido sua ordem e queria negociar nossa liberdade com o estranho. Mais tarde suplicaremos pelo perdão de Anu.
Agora, porém, eu digo:
Anu, Deus, estamos preparados para realizar Tua Vontade como Teus servos! Outorga-nos a força para isso, nós próprios não a temos!”
Como de costume, ao orar Bu-anan havia estendido os braços horizontalmente, parecia indescritivelmente belo. Os estranhos guerreiros, sobretudo seu chefe, olhavam impressionados para esses seres humanos, que lhes pareciam como seres de um outro mundo.
Respeitosamente o homem-tigre aproximou-se de Bu-anan e lhe perguntou:
“Estais prontos? Então partiremos.”
Ela já queria concordar, então um pensamento sacudiu-lhe: os negros!
Se todos eles partissem, os negros não teriam mais nenhum alimento, pois não estavam acostumados a manter-se a si próprios, e algumas de suas vinte mulheres também haviam falecido a pouco. Além disso, eram exatamente esses homens que realizavam os trabalhos forjados mais bem feitos. Eles não deveriam ficar para trás!
Tudo isso Bu-anan falou ao chefe, que ouvia admirado. Novamente ele teve que pensar:
“Que mulher! No meio da própria necessidade ainda pensa nos outros. O povo tinha razão em chamá-la de Mãe.”


(continua)









Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +:    



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