Nas
Florestas da África
Episódio
XXII
Uma Nova Invasão
por
Charlotte von Troeltsch
Sinopse
de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca” por
suas anunciações sobre a vinda do filho de Anu inspirou incontida devoção
espiritual na tribo, ocasionando atitudes de fé entre todos, exageradas,
inconcebíveis, a ponto de provocar descuido pela segurança local...
(continuação)
“Os animais pressentem
algo de ruim!” exclamou ele. “Será que inimigos atravessaram nossa vala?”
Aí soou também vozes
femininas.
“Venham, homens, o
inimigo está ali!”
“Para a vala!” gritou
Ur-an e pegou sua faca do chão.
Contudo, era apenas sua
faca de comer e trabalhar, mas era melhor do que nada. Também os outros não
tinham nenhuma arma consigo, mas todos se lançaram na direção de onde vinham os
gritos.
E então eles viram:
Homens invadiam a
colônia! Homens que eram totalmente diferentes deles e de seus vizinhos. Eles
penetraram pela passagem mais larga, pegaram as mulheres e as moças e olhavam
para as baixas cabanas. Era mais curiosidade que os impelia do que desejo de
conquista.
Ur-an, porém, via
apenas os inimigos e se precipitava com os seus sobre eles.
Agora os intrusos se
posicionaram para defesa. Mas antes que começasse a luta corporal, soou três
vezes o claro e ecoante grito de coruja. Os Tuimahs abaixaram as facas
levantadas e correram para a cabana de Bu-anan.
Os estranhos, admirados
pelo resultado do grito de coruja, queriam lançar-se atrás deles, mas uma
palavra de seu chefe manteve-os parado. Agora eles rodeavam-no.
Ele era um grande e
imponente homem com o semblante claro, sobre o qual pareciam alternar-se sol e
tempestade. Sua roupa, em contraste com a roupa dos Tuimahs, era extraordinariamente
suntuosa. Seda colorida envolvia estreitamente os membros, mas de tal forma que
não impedia nenhum movimento do elástico corpo. Sobre essa roupa pendia uma
pele especialmente bela de tigre.
“Permanecei calmos
aqui, até que eu vos chame!” disse ele para sua tropa. Era uma grande tropa de
guerreiros, aparentemente bem treinados, com muitas e boas armas.
Enquanto eles se
colocavam em grupo e esperavam calmamente, ele foi com poucos e longos passos
até onde os desarmados Tuimahs se comprimiam em frente a cabana de Bu-anan e de
pé escutavam Assustada pelos gritos e pelo alvoroço ela se esgueirara para fora
de sua cabana e reconhecera imediatamente que aquilo que lhe fora revelado no
dia anterior já acontecia: inimigos invadiram o domínio dos Tuimahs. suas
palavras.
Agora ela precisava
falar, pois não deveria haver derramamento de sangue! Quando eles ouviram seu
chamado de coruja e haviam corrido até lá, ela lhes falou de forma alta e
clara, mesmo sua figura estando oscilando de emoção:
“Ouvi a ordem de Anu,
povo: Quando homens invadirem vosso domínio, homens chefiados por um grande
homem com pele de tigre, então não vos lançai para a defesa! É da Vontade de
Anu que vós o seguis. Se não fosse assim então ele vos poderia proteger, assim
como fizera outrora quando os espiões haviam invadido.”
Ela parou, o falar
tornou-se-lhe difícil. Como ela havia lutado por força, desde ontem, para
compreender o incompreensível. Eles deveriam abandonar a aldeia? Eles deveriam
ir como prisioneiros? Era esta a Vontade de Anu? No que eles haviam falhado,
para que Ele os castigasse tão duramente!
Também os homens não
conseguiram compreender, aquilo que lhes era dito.
“Devemos nos entregar
aos estranhos sem nos defender?” “Devemos abandonar nossas cabanas?” “Isto
jamais pode ser a Vontade de Anu!”
“Desde quando vós não
acreditais mais em mim?” perguntou Bu-anan tristemente.
“Nós acreditamos em ti!
Perdão! Isso é tão terrivelmente difícil para nós!” exclamaram todos como
crianças arrependidas.
Com grandes olhos
admirados o estranho na pele de tigre olhava para esses fortes homens, que se
deixaram conduzir pela suave voz de uma mulher. Uma beleza singular era própria
à mulher. Onde ele já havia visto algo semelhante? Ele encarava a mulher.
Então ela o notou, ele,
que estava parado imóvel não longe dela. Um movimento de sua mão chamou-o ao
seu lado no círculo de seu povo. Ele obedeceu e já pensava involuntariamente:
“Agora eu também já a obedeço! E se for uma
armadilha?”
“Estranho!” dirigiu-lhe
a mulher a palavra, enquanto elevava os olhos para os seus. Que olhos profundos
e vivazes eram aqueles!
“Estranho, eu não sei
porque invadiste nossa aldeia. Se pensas em capturar presas, então saiba que te
daremos voluntariamente o que possuímos. Se tu e teus guerreiros quiserem se apoderar
de nós, mulheres e moças, saibas que Anu não o permitirá. Nós próprios não
ergueremos nenhuma mão, pois Ele ordenou que não deveria cair nenhuma gota de
sangue.”
O estranho estava
admirado. Assim, nenhuma mulher ainda havia-lhe falado. Assim, jamais homens
haviam se submetido.
Por que, afinal, ele
havia invadido? Ele estava com seus guerreiros em uma expedição guerreira e ao
mesmo tempo para caçar, então o claro caminho através do espinheiro havia
chamado sua atenção e ele havia entrado por ele. Este caminho, porém, havia-o
conduzido para uma aldeia conservada bem limpa, na qual muitas moças e mulheres
bonitas estavam trabalhando.
Então os homens vieram
correndo, acompanhados por uma gritaria sobre-humana, que lembrava a feras.
Assim havia sido. Ele não queria absolutamente nada dessa gente. Será que
deveria retirar-se novamente?
Mas eles mesmos
haviam-lhe oferecido algo para que ele lhes deixasse livres. Ele seria um tolo
se não aproveitasse!
“Fique calma, tu,
bela”, queria ele falar, mas alguma coisa nos traços de Bu-anan impediu-lhe
fizesse isso. Ele utilizou então a palavra “mulher”.
“Fique calma, mulher,
não queremos nos aproximar nem de ti nem das outras mulheres e moças. Mas mande
trazer aqui o que queres nos dar, para deixarmos que vocês continuem morando
sossegados aqui.”
Ele falara em uma
língua que se diferenciava apenas um pouco da língua dos Tuimahs. Todos podiam
compreendê-lo. Apesar disso ninguém se mexeu, antes que Buanan desse o sinal
para isso. Ela voltou-se para Ur-an que havia se achegado próximo a ela.
“Providencie que as
coisas que estão prontas na forjaria sejam trazidas, e tu, Urana, providencie
que as esteiras e os tecidos, os cintos e as vestimentas solenes que se
encontram na cabana de provisões, sejam trazidas para cá.”
Ur-ana ousou fazer uma pergunta:
“Nós também precisamos
buscar as coisas que determinamos para o Filho de Anu?”
(continua)
Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz).
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +:
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África. (Nas Florestas da África)
Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: