Zanoni
por Edward Bulwer-Lytton
Livro Terceiro
Capítulo III
Namoro Enigmático
“In faith, I do not love thee with mine eyes:”
Shakespeare.
“Por minha fé, não te amo com os
meus olhos”.
No dia seguinte, ao meio-dia,
Zanoni foi ver Viola; e seguiu visitando-a frequentemente; e estes dias
pareceram à jovem uma época especial, separada do resto de sua vida.
Todavia, Zanoni não lhe falou
nunca na linguagem de lisonja ou de adoração, que estava acostumada a ouvir.
Talvez mesmo a frieza deste homem, que era, contudo, tão afável, aumentava-lhe
o seu encanto. Ele lhe falava com freqüência do passado dela, e Viola apenas se
surpreendia (agora nunca mais lhe vinha o pensamento de terror) ao ver quantos
pormenores de sua vida eram conhecidos de Zanoni.
Ele fazia muitas perguntas e
observações a Viola a respeito do seu inesquecível pai e gostava de ouvi-la
cantar algumas daquelas tempestuosas árias da esquisita música de Pisani, cujos
sons pareciam extasiá-lo e fazê-lo cair numa espécie de doce abstração.
– A ciência para os sábios - dizia Zanoni - é
talvez o mesmo que era a música para seu pai. A sua imaginação necessitava um
campo muito vasto; tudo estava discorde com as finas simpatias que ele sentia,
com as harmonias que, dia e noite, elevavam a sua alma ao trono do céu. A vida,
com suas ruidosas ambições e suas paixões rasteiras, é tão pobre e de tão baixo
nível! Pisani sabia criar, de sua própria alma, a vida e o mundo que sua alma
necessitava. Viola, você é a filha daquela vida, e será, portanto, habitante
daquele mundo.
Em suas primeiras visitas, Zanoni
nunca falou de Glyndon; porém, veio o dia em que a ele se referiu. E era tão
grande o domínio que este homem chegou a adquirir sobre o coração da jovem que,
apesar deste assunto desgostá-la sensivelmente, refreou o seu sentimento e
escutou em silêncio.
– Prometeu-me - disse Zanoni - que seguiria
os meus conselhos; pois bem, se eu agora, Viola, lhe disser que a aconselho a
aceitar a mão desse estrangeiro e partilhar com ele a sorte, e se ele lhe
propuser, não se recusará a dar-lhe a mão?
Viola reprimiu as lágrimas que
lhe invadiam os olhos e, depois de um instante, com um estranho prazer mesclado
de dor, - com o prazer de quem sacrifica seu coração a outrem que neste coração
domina, - respondeu, com voz desfalecida:
– Se é capaz de mandá-lo, então.
– Fale - disse Zanoni.
– Disponha de mim como lhe agrada, -
respondeu a jovem com infinita tristeza.
– Viola, - disse Zanoni, com voz trêmula, - o perigo
que não estará agora em minha mão evitar, se aproxima cada hora mais, se
permanecer mais tempo em Nápoles. Dentro de três dias, a sua sorte deverá estar
decidida. Aceito a sua promessa. Antes da última hora desse terceiro dia,
suceda o que suceda tornarei a vê-la aqui, em sua casa. Ate então, adeus!
(continua)
Os capítulos deste romance fazem parte da coleção do G +: Zanon
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