Dos Mistérios da Atuação de Deus:
Discórdia a Partir de Troia
por um convocado
E aconteceu que o
pastor foi ter com Príamos e lhe contou, o que
de tão maravilhoso lhe havia sucedido.
Príamos o ouviu
atentamente. Em seu modo claro e bondoso, ele deixou o pastor contar tudo. Mas
ele mesmo era um homem de existência terrena prática, para poder compreender
toda profundidade desta vivência.
Ele sabia: os
pastores são um povo maravilhoso por si mesmo. Ele acreditava de fato neles e
já tinha ouvido muitas coisas boas sobre a sabedoria de Péricles. Mas como era
simples, ingênuo e estava preenchido com as preocupações da existência terrena,
ele se preocupou pouco com aqueles fenômenos finos e meditativos da alma.
“Tu trouxeste
uma mensagem no mesmo momento em que nasceu minha filha, Péricles. A criança
deve estar sob proteção especial dos deuses. Outra coisa o gênero humano não
entende. Queremos fazer fielmente o que é certo, então também estaremos
servindo aos deuses. O que é eterno tem tempo até para depois da morte.”
Então foi como
se uma tempestade se levantasse no espírito do pastor:
“Acautela-te,
Príamos! Reflita, atenta a cada uma das minhas palavras; pois elas pesam muito.
Não fui eu quem as falou,
mas o mensageiro de Deus e ele não vem por causa de pequenas coisas do
dia-a-dia. Não penses apenas na proteção divina para a criança, lembra também
das palavras ameaçadoras que acompanham sua anunciação: “Nasce uma luz sobre Tróia!
Se reconhecerdes esta luz, então ela vos dará a abundância da vida. Se, porém, não a reconhecerdes,
então encontrareis a morte!”” – Ameaçadora soou a voz do pastor.
Nesta hora
iniciou-se, vibrando, o prosseguimento do curso de um poderoso destino da
humanidade, mas os seres humanos não perceberam nada disso.
Péricles não
encontrava sossego. Ele andava pela cidade, ia ter com os pastores, os
camponeses, largava o seu rebanho, por causa da palavra do anjo. Ele se
aproximou dos pescadores, pois estes deviam levar a notícia pelo mar afora,
para as ilhas. Ele visitava os comerciantes que aportavam na praia de Tróia,
para que também eles levassem a mensagem do anjo através dos mares.
Mas a rainha
Hekuba, a mãe da menina, não quis permitir isto. Primeiro veio dela uma ordem
para que houvesse silêncio, a fim de não incitar o povo. Depois, Péricles foi
ameaçado e da terceira vez, ele foi expulso do país.
Péricles
caminhava aflito pela cidade de Tróia e sacudia o pó de seus pés; deixou até
mesmo na beira da praia suas peles para os pés.
“Diga a Hekuba: O destino de Tróia provará que a mensagem do anjo não é uma mentira, mas as palavras se cumprirão, se vós não vos modificardes: Se, porém, não reconhecerdes esta luz, ficareis entregue à morte!”
Descia uma nuvem escura e
pesada, anunciando desgraça sobre Tróia; enquanto que a única pessoa, em quem o
grão de verdade germinava, abandonava o país. —
A humanidade restringida, não
deu atenção aos chamados de sabedoria de Kassandra. Por isso tinha que vir a
queda de Tróia, junto com o falhar da geração inteira.
(continua)
Editora Der Ruf“ G.m.b.H. Munique – 1934