Eu sou o Senhor, teu Deus!
Onde estão os seres humanos que realmente colocam em prática este
mais alto de todos os mandamentos? Onde está o sacerdote que o ensina de modo
puro e verdadeiro?
“Eu sou o Senhor, teu Deus, tu não deverás ter
outros deuses a Meu lado!” Essas palavras são dadas de modo tão claro, tão absoluto,
que nem deveria ser possível um desvio! Também Cristo apontou reiteradamente
para isso, com grande clareza e severidade. Tanto mais lastimável é, pois, que
milhões de pessoas passem por isso desatentamente, aderindo a cultos que se
acham em brusca oposição a esse mais alto de todos os mandamentos. O pior em
tudo isso é que desrespeitam esse mandamento de seu Deus e Senhor com crédulo
fervor, na ilusão de honrar a Deus e de Lhe ser agradável nessa manifesta
violação de Seu mandamento!
Este grande erro só pode persistir dentro de uma
crença cega, onde qualquer exame é excluído; pois crença cega nada mais
é do que falta de reflexão e preguiça espiritual de tais pessoas, que, tal como
os preguiçosos e dorminhocos, procuram evitar, o quanto possível, o despertar e
o levantar, pois acarreta obrigações, cujo cumprimento temem. Qualquer esforço
lhes parece um horror. É, pois, muito mais cômodo deixar outros trabalharem e
pensarem em seu lugar.
Todavia, quem deixa que os outros pensem em seu
lugar dá-lhes poder sobre si, rebaixa-se ele próprio a criado e torna-se assim
dependente. Deus, no entanto, deu ao ser humano uma força de livre resolução,
deu-lhe a faculdade de raciocinar, de intuir e, para tanto, terá de receber,
evidentemente, como prestação de contas, tudo aquilo que essa faculdade de
livre resolução acarreta! Com isso, Ele queria criaturas humanas livres,
não criados!
É triste quando um ser humano, por preguiça,
torna-se terrenalmente escravo, mas terríveis são as conseqüências
quando ele espiritualmente se desvaloriza de tal maneira, que se torna
um adepto bronco de doutrinas que contradizem os mandamentos precisos de seu
Deus. Nada lhes adianta se procurarem abafar os escrúpulos, que aqui e acolá
despertam, com a desculpa de que, enfim, terão de arcar com a maior
responsabilidade aquelas pessoas que introduziram enganos nas doutrinas. Isso
em si já está certo, mas, além disso, cada um, individualmente, ainda é
especialmente responsável por tudo aquilo, que ele próprio pensa e faz.
Integralmente, nada disso lhe pode ser perdoado.
Aquele que não põe em prática as faculdades do
intuir e do raciocinar a ele presenteadas, em toda amplitude que lhe é
possível, torna-se culpado!
Não é pecado, mas dever, que cada um, com o
despertar da maturidade, quando assume plena responsabilidade por si mesmo,
também comece a refletir sobre aquilo que até aí lhe foi ensinado. Não podendo
colocar suas intuições em consonância com alguma coisa disso, então também não
deve aceitá-lo cegamente como certo. Com isso apenas se prejudica a si próprio,
como em uma compra malfeita. O que não lhe é possível manter por convicção,
deve deixar; pois do contrário seu pensar e seu atuar tornam-se hipocrisia.
Aquele que omite isto ou aquilo de realmente bom,
porque não pode compreendê-lo, de longe ainda não é tão abjeto como aqueles
que, sem convicção, aderem a um culto que não compreendem totalmente. Todo o
atuar e pensar proveniente de tal incompreensão é vazio, e de tal vacuidade não
pode resultar, por si só, nenhum efeito recíproco bom, porque na vacuidade não
se encontra nenhuma base viva para algo de bom. Assim torna-se uma
hipocrisia, que equivale a uma blasfêmia, porque com isso procura-se enganar a
Deus com algo que não existe. Ausência de intuições vivas! Isso torna aquele
que age dessa maneira desprezível, um expulso!
Os milhões de seres humanos, pois, que
impensadamente dão apreço a coisas que contrariam manifestamente os mandamentos
divinos, não obstante algum eventual fervor, encontram-se incondicionalmente
manietados e totalmente excluídos de uma escalada espiritual.
Somente a convicção livre é viva, e, por
conseguinte, pode também criar algo vivo! Uma tal convicção, porém, só pode
despertar mediante análise rigorosa e profundo intuir. Onde houver a menor
incompreensão, sem se falar em dúvida, nunca pode surgir convicção.
Somente o compreender pleno e sem lacunas
equivale à convicção, a qual unicamente possui valor espiritual!
Francamente é doloroso presenciar, quando nas
igrejas as multidões se persignam, curvam-se e ajoelham-se irrefletidamente.
Tais robôs não devem ser contados entre as pessoas que raciocinam. O sinal da
cruz é o signo da Verdade, e com isso um signo de Deus! Carrega-se de culpa
aquele, que se utiliza desse signo da Verdade, enquanto ao mesmo tempo o seu
íntimo, no momento da prática, não é verdadeiro em todos os sentidos, se todas
suas intuições não estão totalmente sintonizadas com a absoluta Verdade. Para
tais pessoas seria cem vezes melhor que deixassem esta persignação,
reservando-a para momentos em que tenham toda sua alma sintonizada com a
Verdade, portanto, com isso também com o próprio Deus e Sua vontade; pois Deus,
seu Senhor, é a Verdade.
Porém, é idolatria e transgressão
aberta do mais sagrado de todos os mandamentos de seu Deus, quando prestam
honras a um símbolo, as quais cabem somente a Deus!
“Eu sou o Senhor, teu Deus, tu não deverás ter
outros deuses a Meu lado!”, está dito expressamente. Conciso, nítido e claro,
sem permitir sequer o mínimo desvio. Também Cristo apontou de forma bem
especial para essa observância necessária. Propositalmente e de maneira
significativa denominou-a, justamente perante os fariseus, de lei suprema,
isto é, aquela lei que em circunstância alguma deve ser quebrada ou de alguma
forma alterada. Essa designação diz, ao mesmo tempo, que todas as outras coisas
boas e todas as outras crenças não podem ganhar valor total, se essa lei suprema
não for cumprida de modo integral! Que tudo até depende disso!
Contemplemos então, por exemplo, totalmente
livres de preconceitos, a veneração da custódia! Encontra-se nisso, em muitas
pessoas, uma contradição ao mandamento claro e supremo.
Espera o ser humano que seu Deus desça para essa
hóstia transmutável, como explicação para o fato de que ele presta a ela
honrarias divinas? Ou que Deus, com a consagração de tal hóstia, seja forçado a
descer? Uma coisa é tão inimaginável quanto a outra. Tampouco, porém, pode ser
criada uma ligação direta com Deus mediante uma tal consagração; pois o caminho
para lá não é tão simples nem tão fácil. Por seres humanos e por espíritos
humanos ele, aliás, nem pode ser percorrido até o fim.
Se, pois, uma pessoa se prostra diante de uma
figura esculpida em madeira, uma outra diante do Sol e uma terceira diante da
custódia, então cada uma peca contra a suprema lei de Deus, desde que veja
nisso algo divino, portanto, o próprio Deus vivo e, por isso, espere disso
imediata graça e bênção divinas! Em tal errada pressuposição, esperança e
intuição encontrar-se-ia a verdadeira transgressão, idolatria aberta!
E tal idolatria é praticada muitas vezes com
fervor pelos adeptos de muitas religiões, mesmo que de maneiras diversas.
Cada pessoa que exercita seu dever de raciocinar
sincero, oriundo de suas faculdades, terá de aí ficar em dúvida, a qual
só conseguirá abafar temporariamente e de modo forçado mediante o erro de uma
crença cega, assim como um vadio negligencia seus deveres cotidianos pelo sono
da indolência. A pessoa sincera, porém, intuirá impreterivelmente que terá de
procurar em primeiro lugar clareza em tudo quanto se lhe deva tornar
sagrado!
Quantas vezes Cristo explicou que os seres
humanos deviam viver conforme seus ensinamentos, a fim de auferir lucro
disso, quer dizer, portanto, a fim de poder chegar à escalada espiritual e à
vida eterna. Na expressão “vida eterna” já se patenteia a vivacidade
espiritual, mas não a indolência espiritual. Com a indicação para o viver
conforme seus ensinamentos, ele advertiu, expressa e nitidamente, a
respeito de uma aceitação bronca desses ensinamentos, por ser errado e inútil.
Um vivenciar, naturalmente, pode se dar sempre
apenas através da convicção, jamais de modo diferente. Convicção, no entanto,
condiciona plena compreensão. Compreensão, por sua vez, um refletir intenso e
um examinar próprio. Deve-se avaliar os ensinamentos com as próprias intuições.
Disso se depreende, por si só, que uma crença cega é totalmente errada. Tudo
quanto é errado, porém, facilmente pode levar à ruína, à decadência, jamais,
contudo, à escalada. Escalada equivale à libertação de toda pressão. Enquanto
existir ainda algures uma pressão, não se pode falar de uma libertação ou
redenção. O incompreendido, porém, é uma pressão que não se desfará
antes que o lugar da pressão ou lacuna seja afastado pela compreensão plena.
Crença cega equivale sempre à incompreensão,
portanto, jamais poderá ser convicção e, conseqüentemente, não pode trazer
nenhuma libertação, nenhuma redenção! Pessoas que se restringiram na crença
cega não podem ser vivas espiritualmente. Igualam-se aos mortos e não têm
nenhum valor.
Se uma pessoa começa a raciocinar direito, a
acompanhar serena e atentamente todos os acontecimentos, coordenando-os de modo
lógico, então chegará por si mesma à convicção de que Deus, em Sua pureza
perfeita e de acordo com Sua própria vontade criadora, não pode chegar à
Terra!
A absoluta pureza e perfeição, portanto,
justamente o divinal, exclui uma descida à matéria. A diferença é grande demais
para que, aliás, seja possível uma ligação direta, sem que se leve exatamente
em conta as necessárias transições, que condicionam as espécies enteais e
materiais, que se encontram de permeio. O levar em conta dessas transições, no
entanto, apenas pode se efetivar pela encarnação, como se deu com o Filho de
Deus!
Mas como este agora “retornou ao Pai”, portanto,
de volta à sua origem, assim também ele se encontra outra vez no divinal,
estando por isso de idêntico modo separado do terrenal.
Uma exceção nisso significaria uma torção da
divina vontade criadora e isso, por sua vez, manifestaria uma falta de
perfeição.
Como, porém, a perfeição é inseparável da
divindade, não resta nenhuma outra possibilidade a não ser que também Sua
vontade criadora seja perfeita, o que tem de ser considerado equivalente a
imutável. Se os seres humanos fossem igualmente perfeitos, cada um devia e
podia, pela natureza da coisa, andar sempre exatamente no mesmo caminho do
outro.
Somente imperfeição pode permitir
diversidades!
Exatamente em cumprimento às perfeitas leis
divinas é que é tirada ao Filho de Deus, depois do “retorno ao Pai”, bem como a
Este mesmo, a possibilidade de estar pessoalmente na materialidade, portanto,
de descer à Terra. Não sem encarnação, de acordo com as leis da Criação!
Por essas razões, toda adoração divina de
qualquer objeto material na Terra tem de equivaler à transgressão da lei
suprema de Deus; porque unicamente ao Deus vivo podem ser prestadas honras
divinas, e Este não pode estar presente na Terra, justamente devido à Sua
divindade.
Por sua vez, porém, o corpo de matéria grosseira
do Filho de Deus, devido à perfeição de Deus em Sua vontade criadora, tinha de
ser igualmente puramente terreno, não devendo, por isso, ser denominado
ou considerado como divino. *(Dissertação Nº 58: Ressurreição do corpo terreno
de Cristo)
Tudo o que está em contradição a isso demonstra
logicamente dúvidas na absoluta perfeição de Deus, e deve, por
conseguinte, ser também errado! Isso é incontestavelmente uma medida infalível
para a verdadeira fé em Deus.
Algo diferente é com o puro simbolismo. Cada
símbolo cumpre sua finalidade boa de modo estimulante, enquanto for seriamente
considerado como tal; pois sua contemplação ajuda muitas pessoas a uma
meditação maior e mais concentrada. Para muitos será mais fácil, ao contemplar
os símbolos de sua religião, dirigir seus pensamentos para o Criador sem
turvação, não importando com qual nome Ele lhes é compreensível. Seria,
portanto, errado duvidar do elevado valor das práticas religiosas e do
simbolismo, é indispensável, tão-só, que aí nada chegue ao ponto de adoração e
veneração de objetos materiais.
Uma vez que o próprio Deus não pode chegar à
Terra, à matéria grosseira, cabe unicamente ao espírito humano subir o caminho
até o espírito-enteal, do qual se origina. E a fim de mostrar esse caminho,
desceu algo do divino mediante encarnação, porque somente no divinal
encontra-se a força primordial, da qual pode fluir a Palavra Viva. Mas o ser
humano não deve supor que algo de divino permaneceu na Terra, a fim de que cada
pessoa, tão logo lhe surja o desejo, possa imediatamente ser absolvida de modo
bem especial. Para a obtenção da absolvição encontram-se as leis férreas de
Deus na Criação, e somente o incondicional cumprimento das mesmas pode
trazer absolvição! Oriente-se segundo elas, quem quiser chegar às alturas
luminosas!
Ninguém deve comparar o Deus perfeito com um
soberano terreno, que em seu critério imperfeito e humano pode efetuar atos
arbitrários de anistia, através de sentenças proferidas pelos seus juízes de
igual espécie. Algo assim não é possível na perfeição do Criador e de Sua
vontade, una com Ele!
O espírito humano precisa finalmente se acostumar
ao pensamento de que ele mesmo tem de se movimentar e de modo bem
enérgico, a fim de obter absolvição e perdão, e nisso finalmente cumprir seu
dever que indolentemente negligenciou. Ele deve animar-se e trabalhar em si
próprio, se não quiser cair nas trevas dos condenados! Dever confiar no seu
Salvador significa confiar nas palavras dele. Tornar vivo pela ação o que ele
disse! Nada de diferente consegue ajudar! De nada lhe adianta a crença
vazia. Crer nele não significa outra coisa senão dar-lhe crédito.
Irremediavelmente perdido está todo aquele que não trabalha diligentemente para
alçar-se por aquela corda que lhe foi colocada na mão pela Palavra do Filho de
Deus!
Se a criatura humana quiser realmente ter seu
Salvador, tem de finalmente cobrar ânimo para a vivacidade e atividade espiritual,
as quais não visam exclusivamente vantagens e prazeres terrenos, e tem de se
esforçar para cima, ao encontro dele. Não pode arrogantemente esperar que este
baixe até ela. A Palavra oferece-lhe o caminho para lá. Deus não corre atrás da
humanidade, mendigando, quando ela forma uma imagem errada Dele, afastando-se
por isso e seguindo caminhos errados. Tão cômodo não é. Mas como tão absurda
concepção alojou-se em muitas pessoas, devido à compreensão errônea, a
humanidade, antes de tudo, terá de aprender novamente a temer seu Deus,
ao reconhecer na reciprocidade inevitável de uma crença cômoda ou morta que a
vontade Dele se encontra firme na perfeição e não se deixa torcer. Quem não se
adaptar às leis divinas será ferido ou mesmo triturado, conforme terá de
suceder por fim aos que se entregam a tais idolatrias, prestando honras divinas
ao que não é divino! O ser humano tem de chegar ao reconhecimento: o
Salvador o aguarda, mas não o busca!
A crença, ou, mais acertadamente dito, a ilusão,
que a maior parte da humanidade traz hoje em si, tinha de falhar,
conduzindo até mesmo à miséria e à ruína, por ser morta, e não conter em
si verdadeira vida!
Assim como Cristo, outrora, purificou o templo
dos vendilhões, do mesmo modo, antes de tudo, os seres humanos devem ser
fustigados, a fim de saírem de toda a indolência de seu pensar e intuir em
relação ao seu Deus! Continue, pois, dormindo sossegadamente, quem outra coisa
não quiser, e refestele-se comodamente no almofadão macio da auto-ilusão de que
seja acertado pensar bem pouco e de que cismar finalmente seja pecado.
Horroroso será o seu despertar que se encontra mais próximo dele do que
presume. De acordo com a sua preguiça ser-lhe-á então medido o quinhão!
Como pode uma pessoa que crê em Deus, que
refletiu sobre Sua essência e Sua grandeza, que sabe, acima de tudo, como a
vontade perfeita de Deus se encontra na Criação na forma de leis da natureza
atuantes, esperar que lhe possam ser perdoados os seus pecados mediante
qualquer penitência, imposta de modo absolutamente contrário a essas leis
divinas de imprescindível reciprocidade. Mesmo ao Criador isso não seria
possível; porque as leis da Criação e da evolução emanadas de Sua perfeição
trazem em seus efeitos, por si só e atuando de modo totalmente natural,
recompensa ou castigo pelo amadurecer e colher de boa ou má semeadura do
espírito humano, com inamovível justiça.
Seja o que for que Deus queira, cada um de Seus
novos atos de vontade tem de conter em si, sempre de novo, a perfeição, não
pode, portanto, apresentar o mínimo desvio com relação aos atos de vontade
anteriores, pelo contrário, deve estar em conformidade com estes em todos os
sentidos. Tudo, mas tudo mesmo, tem de seguir, sempre de novo, os mesmos
caminhos, devido à perfeição de Deus. Um perdão diferente daquele obtido pelo
cumprimento das leis divinas, que residem na Criação e pelas quais cada
espírito humano terá de passar obrigatoriamente no seu percurso, se quiser
chegar ao Reino de Deus, é, pois, coisa impossível, portanto, também qualquer
perdão direto.
Como pode uma pessoa, raciocinando um pouco,
esperar quaisquer variações? Seria, sim, uma diminuição expressa de seu Deus
perfeito! Quando Cristo, em sua existência terrena, disse a este ou àquele:
“Teus pecados te estão perdoados”, isso estava absolutamente certo; pois no
rogar sincero e na fé firme encontra-se a garantia de que a respectiva pessoa
passaria a viver no futuro de acordo com os ensinamentos de Cristo, e dessa
forma teria de encontrar o perdão dos pecados, porque se colocaria assim
de acordo com as leis divinas da Criação, não procedendo mais contra as mesmas.
Quando, pois, uma pessoa impõe penitência a
outrem, segundo critério próprio, a fim de então declarar seus pecados como
saldados, está iludindo dessa forma a si e aos que dela solicitam auxílio, não
importando se consciente ou inconscientemente, e coloca-se, sem escrúpulos,
muito acima da própria divindade!
Se os seres humanos, pois, finalmente quisessem
considerar seu Deus de modo mais natural! Ele, cujos atos de vontade
criaram a natureza viva. Dessa maneira, porém, em sua crença cega e ilusória,
fazem Dele somente uma imagem ilusória, Dele, que é tudo, menos isso.
Justamente na perfeição natural ou naturalidade perfeita, como fonte primordial
de todo o existir, como ponto de partida de tudo quanto é vivo, a magnitude de
Deus é tão colossal e inconcebível para um espírito humano. Mas nos
ensinamentos de muitas doutrinas encontram-se freqüentemente torções e
complicações forçadas, pelo que qualquer fé pura é desnecessariamente dificultada
ao ser humano e às vezes se torna de todo impossível, porque nisso tem de
faltar-lhe qualquer naturalidade. E quantas contradições inacreditáveis estão
contidas em várias doutrinas!
Trazem, por exemplo, freqüentemente, como
pensamento fundamental, a onisciência e perfeição da vontade e da Palavra de
Deus dela originada! Nisso, porém, naturalmente, deve se encontrar também uma imutabilidade
indesviável, nem sequer por um fio de cabelo, porque perfeição não é de se
imaginar diferentemente. No entanto, as atuações de muitos representantes de
religiões demonstram dúvidas a respeito da própria doutrina, visto
encontrarem-se em direta contradição com a mesma, negando suas bases
fundamentais evidentemente pelos atos! Confissões auriculares com subseqüentes
penitências, por exemplo, o comércio de indulgências por dinheiro ou orações
que devem resultar em imediato perdão de pecados, e outros costumes similares a
estes, constituem, pois, analisando-se serenamente, uma negação da vontade de
Deus, que repousa nas leis da Criação. Quem não dirige os pensamentos, de modo
saltitante, para coisas flutuantes inconsistentes, outra coisa não encontrará
nisso senão uma absoluta diminuição da perfeição de Deus.
É totalmente natural que a errônea pressuposição
humana de poder oferecer perdão aos pecados, e outras investidas semelhantes
contra a perfeição da vontade divina, tinha de levar a grosseiros excessos.
Quanto tempo perdurará ainda a tolice de supor que se possa fazer negócios tão
sujos com o Deus justo e Sua imutável vontade!
Se Jesus, como Filho de Deus, disse outrora aos
seus discípulos: “A quem perdoardes os pecados, àqueles eles serão
perdoados”, então isso não se referia a um direito de atuação geral e
arbitrária.
Isso até teria sido equivalente a um
desmantelamento da vontade divina na inamovível força dos efeitos recíprocos,
que, atuando vivamente, encerram em si recompensa e castigo com justiça
incorruptível, isto é, divina e, portanto, perfeita. Uma interrupção
consentida.
Isso Jesus jamais poderia e nem teria feito, ele
que veio para “cumprir” as leis, não para derrubá-las!
Com essas palavras referia-se ele ao fato
inerente à vontade do Criador e de acordo com as leis de que uma pessoa pode
perdoar a outra pessoa aquilo que de mal lhe foi feito por
esta pessoalmente! Ela, como sendo a atingida, tem o direito e o poder de
perdoar aquilo; porque com o perdão sincero será quebrada, desde já, a ponta do
carma que, do contrário, infalivelmente teria se formado para a outra na reciprocidade,
tirando-lhe desde logo a força, sendo que nesse processo vivo encontra-se
também, simultaneamente, real perdão.
Isso, contudo, também só pode partir da
própria pessoa atingida em relação ao causador ou autor, não de outra forma.
Por isso reside tanta bênção e libertação no perdão pessoal, desde que este
seja intencionado e intuído de modo sincero.
Uma pessoa não diretamente participante fica
excluída dos fios da reciprocidade, pela natureza da coisa, e também não pode
interferir de modo vivo, isto é, eficiente, por não estar ligada. Apenas intercessão
lhe é possível em tais casos, cujo efeito, no entanto, permanece dependente do
estado anímico das pessoas diretamente envolvidas nos respectivos casos. Ela
própria terá de permanecer de fora, também não pode, por isso, proporcionar
perdão. Isso repousa exclusivamente na vontade de Deus, que se manifesta
nas leis de justas reciprocidades, contra as quais Ele próprio jamais agiria,
porque, provenientes de Sua vontade, são perfeitas desde o início.
Reside na justiça de Deus que, seja o que for que
aconteça ou tenha acontecido, só o prejudicado pode perdoar, na Terra ou
mais tarde no mundo de matéria fina, senão o ímpeto da reciprocidade terá de
atingir o causador, com cuja efetivação a culpa terá sido, então, de fato
liquidada. Mas essa efetivação proporcionará, concomitantemente, o perdão do
atingido, de alguma maneira, que está entrelaçada na efetivação, ou o atingido
com esta. Não é possível de outra forma, uma vez que os fios de ligação
permanecem insolúveis até aí. Isso não é vantagem apenas para o causador, mas
também para o atingido, visto que este, sem a concessão do perdão, tampouco
poderia chegar-se de todo à Luz. A inflexibilidade teria de impedi-lo disso.
Assim, ser humano algum consegue perdoar pecados
alheios, pelos quais não seja ele, pessoalmente, o atingido. A lei da
reciprocidade ficaria sem ser influenciada por tudo aquilo que não esteja
entrelaçado nisso por um fio vivo, o qual somente pode ser gerado por aquele
que é diretamente atingido. Unicamente a correção é o caminho vivo para o
perdão *(Dissertação Nº 6: Destino)!
“Eu sou o Senhor, teu Deus, tu não deverás ter
outros deuses a Meu lado!” devia permanecer marcado como que com letras de fogo
no espírito de cada ser humano, como proteção natural contra toda e qualquer
idolatria!
Quem realmente reconhece Deus em Sua sublimidade
deve intuir como blasfêmia todas as atuações divergentes.
Uma pessoa pode e deve visitar um sacerdote, a
fim de buscar ensinamentos, contanto que este esteja deveras apto a
dá-los a ela. Se, porém, alguém exigir diminuir a perfeição de Deus por meio de
qualquer ação ou modo errôneo de pensar, então ela deve afastar-se dele; pois
um servo de Deus não é simultaneamente um plenipotenciário de
Deus, que pudesse ter o direito de, em Seu nome, exigir e conceder.
Também nisso existe um esclarecimento bem natural
e simples que, sem circunlóquios, indica o caminho certo.
Um plenipotenciário de Deus, pela natureza da
coisa, nem pode ser um ser humano, a menos que tenha vindo diretamente do
divinal, portanto, que traga em si próprio algo divino! Unicamente nisso pode
haver pleno poder.
Como, porém, o ser humano não é divino, então
também é impossível que possa ser um plenipotenciário ou representante de Deus.
O poder de Deus não pode ser transferido a ser humano nenhum, porque o poder
divino reside exclusivamente no próprio divinal!
Esse fato lógico, em sua simplicidade absoluta e
também de modo natural, exclui totalmente qualquer escolha humana de um
substituto terreno de Deus, ou a proclamação de um Cristo. Qualquer
tentativa nesse sentido terá de receber impresso o cunho da impossibilidade.
Por conseguinte, em tais assuntos, nem pode
entrar em consideração uma escolha ou aclamação por criaturas humanas, mas
apenas um envio direto do próprio Deus!
As opiniões humanas a esse respeito não são
decisivas. Estas, pelo contrário, conforme todo o acontecido até agora,
estiveram sempre longe da realidade, não se harmonizando com a vontade
de Deus. Para os que pensam é inconcebível, com que aumento doentio os seres
humanos procuram sempre de novo ultrapassar seu real valor. Eles que, em sua
mais elevada perfeição espiritual, apenas conseguem alcançar o degrau mais
baixo do consciente no eterno espírito-enteal! No entanto, justamente hoje,
um grande número de seres humanos terrenos, em suas intuições, pensamentos e
esforços, nem sequer se diferencia muito dos animais desenvolvidos ao máximo, a
não ser por um grande intelecto.
Tal qual insetos, esvoaçam e formigam em
confusão, como se valesse, em fervorosa lufa-lufa e correria, alcançar o alvo
máximo. Tão logo, porém, seus alvos forem examinados mais de perto e com maior
atenção, mostra-se logo o vazio e a nulidade desse febril esforço, que
realmente não é digno de tal dedicação. E do caos dessa balbúrdia eleva-se a
presunção desvairada de poderem escolher, reconhecer ou recusar um enviado de
Deus. Nisso haveria uma avaliação daquilo que eles jamais seriam capazes de
compreender, se Aquele, que se acha mais acima, não se inclinar para eles, tornando-se-lhes
compreensível. Faz-se alarde agora por toda parte da ciência, do intelecto e da
lógica, e aceita-se nisso os mais grosseiros paradoxos, que se encontram em
tantas correntes contemporâneas.
Para milhares não adianta desperdiçar palavras a
esse respeito. Acham-se de tal maneira imbuídos de seu saber, que acabaram
perdendo toda a capacidade para raciocinar sobre algo com singeleza e de modo
simples. Destinam-se somente àqueles que ainda conseguiram conservar suficiente
naturalidade para desenvolver uma sadia capacidade de discernimento própria,
tão logo lhes seja dada a linha direcional para tanto. Àqueles que não se
juntam cegamente uma vez a esta, outra vez àquela corrente da moda, para em
seguida e de idêntica maneira abandoná-la rapidamente ante a primeira dúvida
manifestada por ignorantes.
Não é preciso muito para, numa reflexão serena,
chegar ao reconhecimento de que de uma espécie não pode se originar uma outra,
a qual não tem nada em comum com a primeira. Para se verificar isso, bastam os conhecimentos
mais elementares das ciências naturais. Uma vez, porém, que as ramificações das
leis da natureza no mundo de matéria grosseira promanam da fonte primordial
viva de Deus, claro se torna que elas devam ser encontradas com idêntica e
inabalável lógica e inflexibilidade também no caminho ulterior em direção a
Ele, até mais puras e mais claras ainda, quanto mais próximas se encontrarem do
ponto de partida.
Tampouco o espírito humano pode ser transplantado
para um animal na Terra, para que, com isso, um animal vivo deva se tornar um
ser humano, tampouco pode algo divino ser implantado em um ser humano. Jamais
poderá desenvolver-se algo diferente do que aquilo que a origem trouxe
consigo. A origem até permite, no desenvolvimento, diferentes tipos e formas de
composição, como se pode conseguir por meio de enxerto de árvores ou por
cruzamento nas procriações, mas mesmo os resultados mais extraordinários terão
de permanecer dentro das matérias básicas constituídas pela origem.
Uma mistura entre ser humano e animal pode se
manter apenas dentro dos limites dos corpos grosso-materiais, por estes
terem a sua origem na mesma materialidade. Não pode ser estabelecida uma ponte
entre a origem interior do ser humano e a do animal. *(Dissertação Nº 49: A
diferença na origem entre o ser humano e o animal)
É impossível introduzir ou tirar algo que esteja acima
da própria origem, o que nela, portanto, não estava contido, como ocorre com a
diferença entre a origem espiritual do ser humano e a do divinal. *(Dissertação
Nº 51: Espírito)
Cristo, como Filho de Deus, veio do
divino-inenteal; ele trazia o divinal em si da sua origem. Ter-lhe-ia sido
impossível, porém, transferir esse divinal vivo a um outro ser humano, que
apenas pode promanar do espírito-enteal. Conseqüentemente, também não podia dar
plenos poderes a ninguém para ações que competem unicamente ao divinal,
como por exemplo o perdão dos pecados. Este apenas pode ocorrer como
conseqüência dos efeitos recíprocos que se equilibram exatamente nos
fundamentos da vontade divina que se encontra na Criação, na qual a
justiça imutável do Criador vive por si na perfeição, inapreensível ao espírito
humano.
Uma procuração de plenos poderes do Filho de Deus
ante os seres humanos podia referir-se, portanto, apenas àquelas coisas que, de
acordo com a origem do espírito humano, fossem humanas, jamais ao divinal!
Evidentemente, também a origem do ser humano
pode, enfim, ser reconduzida de modo lógico até Deus, mas ela não está no
próprio Deus, mas sim fora do divinal, por isso o ser humano
descende apenas indiretamente de Deus. Nisso está a grande diferença.
Plenos poderes, como, por exemplo, os que
competem ao cargo de um administrador, poderiam existir apenas, por si,
na mesma origem imediata. Isso pode ser facilmente compreensível a cada
um, porque um plenipotenciário deve possuir todas as capacidades do outorgante
desses poderes, a fim de poder atuar no lugar dele em uma atividade ou em um
cargo. Um plenipotenciário, portanto, devia vir diretamente do divino-inenteal,
como o foi Cristo.
Se, apesar disso, uma pessoa empreender isso,
mesmo que de boa fé, resulta, novamente, pela natureza da coisa, que sua
destinação não pode ter nenhum valor de grande alcance e nenhuma vida, a não
ser puramente terrenal. Aqueles, porém, que vêem nela mais do que isso
incorrem em um erro, que só depois do falecimento tornar-se-lhes-á claro como
tal e que os faz perder todo o seu tempo terreno para uma ascensão. Ovelhas
perdidas, que seguem um falso pastor.
Como esta lei suprema: “Eu sou o Senhor, teu
Deus, tu não deves ter outros deuses a Meu lado”, assim também as outras leis
são mui freqüentemente violadas e não observadas devido à incompreensão.
E, contudo, os mandamentos na realidade outra
coisa não são do que a explicação da vontade divina, que se encontra na Criação
desde os primórdios, e da qual não se pode desviar nem pela espessura de um fio
de cabelo.
Como se torna tolo, sob essa consideração, o
princípio de tantos seres humanos, contrário a cada pensamento divino e a
qualquer perfeição, de que “um fim justifica os meios”! Que confusão
absurda isso não teria de ocasionar nas leis da vontade divina, se pudessem ser
assim alteradas. Quem puder formar pelo menos uma pequena noção de perfeição, a
esse não restará outra coisa a não ser rejeitar de antemão tais
impossibilidades. Tão logo uma pessoa procure formar uma imagem certa da
perfeição de Deus, então isso poderá servir-lhe como guia indicador e
para melhor compreensão de todas as coisas na Criação! O saber da perfeição
de Deus e o fato de tê-la sempre em mente são a chave para a compreensão da obra
de Deus, à qual também pertence o próprio ser humano.
Então reconhece a força imperiosa e a severa
advertência da sentença: “Deus não se deixa escarnecer!”. Em outras palavras:
Suas leis se cumprem ou se efetuam imutavelmente. Ele deixa funcionar as
engrenagens, conforme as ajustou por ocasião da criação. Um homúnculo nada
alterará nisso. Se tentar, o máximo que pode conseguir é que todos aqueles que
o seguirem cegamente sejam dilacerados juntamente com ele. De nada lhe adianta,
se acredita de modo diferente.
Auferir bênçãos só poderá aquele que se ajustar
por completo na vontade de Deus, que sustenta a Criação em Suas leis da
natureza. Mas isso só consegue quem as conhece acertadamente.
As doutrinas, que exigem crença cega,
devem ser condenadas como mortas e, portanto, prejudiciais; somente aquelas
que, como Cristo, conclamam para o tornar-se vivo, isto é, para o
raciocinar e analisar, a fim de que possa surgir a convicção da verdadeira
compreensão, proporcionam libertação e redenção!
Somente a mais condenável irreflexão pode supor
que a finalidade da existência do ser humano consista, principalmente, na
correria visando a obtenção das necessidades e dos prazeres corpóreos, para,
por fim, mediante alguma forma exterior e palavras bonitas, deixar se libertar
sossegadamente de toda a culpa e das conseqüências de suas negligências
indolentes na vida terrena. O percurso pela vida terrena e o passo para o Além,
por ocasião da morte, não são como uma viagem cotidiana, para a qual se precisa
comprar a passagem apenas no último momento.
Com tal crença o ser humano duplica sua
culpa! Pois qualquer dúvida na justiça incorruptível do Deus perfeito é
blasfêmia! A crença no perdão arbitrário e fácil dos pecados, no entanto, é
um testemunho evidente da dúvida na justiça incorruptível de Deus e de
Suas leis, mais ainda, confirma diretamente a crença na arbitrariedade de Deus,
o que equivaleria à imperfeição e à deficiência!
Pobres crédulos, dignos de lástima!
Ser-lhes-ia melhor permanecer ainda ateus, então
poderiam encontrar sem impedimentos e mais facilmente o caminho que presumem já
ter.
Salvação reside apenas em não reprimir
medrosamente os pensamentos que nascem e a dúvida que com isso desperta em
tantas coisas; pois nisso se manifesta o sadio impulso pela Verdade!
Lutar com a dúvida, porém, é o analisar, ao qual
tem de se seguir, indiscutivelmente, a condenação do lastro dogmático. Só mesmo
um espírito inteiramente liberto de toda a incompreensão consegue se elevar,
alegremente convicto, às alturas luminosas, ao Paraíso!
Dissertação nº 53 da obra: Na Luz da
Verdade – Abdrushin – edição 1931
Pela
leitura desta dissertação de Abdrushin, concomitantemente se faz necessário
também mais a leitura desta outra, extraída do mesmo livro:
Os
Dez Mandamentos de Deus
Primeiro
Mandamento
Eu sou o Senhor teu Deus! Tu não deverás ter outros deuses ao meu lado!
Quem for capaz de ler corretamente estas palavras, nelas
certamente já verá o julgamento de muitos que não observam este mais nobre de
todos os mandamentos.
“Tu não deverás ter outros deuses!” Muitos
imaginam muito pouco sob estas palavras. Tornam-nas demasiadamente fáceis para
si mesmos! Imaginam entre os idólatras certamente em primeiro lugar somente
aquelas pessoas que se ajoelham diante de uma fileira de figuras de madeira,
onde cada uma representa um determinado deus, pensam talvez também nos
adoradores do diabo e semelhantes transviados, aos quais, na melhor das
hipóteses, referem-se com compaixão, contudo, não pensam aí em si mesmos. Olhai
calmamente para vós próprios e examinai-vos, se talvez também fazeis parte
dessas pessoas!
Um possui um filho, que lhe significa de fato
mais que tudo, pelo qual seria capaz de qualquer sacrifício, e que o faz
esquecer tudo o mais. Outro coloca os prazeres terrenos acima de tudo e, mesmo
que tomado da melhor boa vontade, não seria capaz de privar-se deles por motivo
algum, se uma tal exigência lhe fosse apresentada, que lhe permitisse livre
decisão. Um terceiro, por sua vez, ama o dinheiro, um quarto, o poder, um
quinto, uma mulher, outro, honrarias terrenas, e todos, em última análise, em
tudo isso somente... a si mesmos!
Isso é idolatria no mais verdadeiro sentido.
Disso adverte o primeiro mandamento! Proíbe-a! E ai daquele que não o cumpre ao
pé da letra! Tal transgressão traz como conseqüência imediata que tal ser
humano sempre terá de permanecer preso à Terra, quando passar para o reino de
matéria fina. Na realidade, porém, é ele mesmo que se prendeu à Terra, pelo
pendor por algo nela existente! Fica assim impedido de continuar a ascensão,
perde o tempo a ele concedido para esse fim e corre o perigo de não sair a
tempo do reino de matéria fina, numa ressurreição deste para o reino luminoso
dos espíritos livres. É arrastado então para a inevitável decomposição de toda
a materialidade, que serve de purificação para o ressurgimento desta e
de sua nova formação. Isso, porém, é para a alma humana a morte fino-material e
espiritual de toda a conscientização pessoal e, com isso, também o
aniquilamento de sua forma e de seu nome para toda a eternidade!
Desse terrível acontecimento deve proteger a
observância do mandamento! É o mais nobre dos mandamentos, porque é o mais
imprescindível para o ser humano! Infelizmente, o ser humano tende, com
demasiada facilidade, a entregar-se a algum pendor, que por fim o escraviza!
Aquilo, porém, que ele deixa constituir-se num pendor, transforma assim num
bezerro de ouro, que coloca no lugar mais alto e, com isso, também como falsa
divindade ou ídolo ao lado de seu Deus e, muitas vezes, até acima Dele!
Desses “pendores”, infelizmente, existem demais,
que o ser humano criou para si, e dos quais ele se apropria de muito bom grado
e na mais absoluta despreocupação! O pendor é a predileção por algo terreno,
conforme já citei. Desses, existem naturalmente ainda muitos mais. Quem, porém,
adquire um pendor, este “pende”, como já indica acertadamente a palavra. Pende
assim no que é grosso-material quando chega ao Além para prosseguir no seu
desenvolvimento, e não consegue libertar-se facilmente, fica, portanto,
impedido, retido! Pode-se chamar isso também de maldição, que fica pesando
sobre ele. O acontecimento é o mesmo, pouco importando como venha a ser
expresso.
Se, porém, na sua existência terrena, colocar
Deus acima de tudo, não apenas na sua imaginação ou por meio de palavras, mas
no intuir, portanto, de modo verdadeiro e legítimo, com respeitoso amor, que o
prende como a um pendor, então ele através da ligação continuará a esforçar-se,
no mesmo efeito, imediatamente para cima, quando chegar ao Além; pois leva
consigo a veneração e o amor a Deus, que o sustenta e o conduz por fim até a
Sua proximidade, ao Paraíso, à Criação primordial, à morada dos espíritos
puros, libertos de todos os fardos, e cuja ligação conduz somente à Verdade
luminosa de Deus!
Atentai, pois, estritamente à observância deste
mandamento. Assim ficareis preservados de muitos golpes do destino de
espécie desfavorável, para cujo resgate poderia não vos restar mais tempo
suficiente!