Apenas de Lembrança
por Otto Ernst Fritsch
Descrevo aqui as Palavras do Senhor, infelizmente apenas de lembrança e por isso somente de acordo com o sentido, mas, segundo minha convicção, reproduzidas com grande fidelidade:
⑤ Foi a última vez com o Senhor em Kipsdorf. O Senhor estava indizivelmente
triste, interiormente oprimido e pesaroso. Foi na sua sala de jantar. Antes
disso, nós havíamos feito um passeio mais longo, no qual o Senhor deu-me a
conhecer que Ele deixaria esta Terra; mas, na comparação, não compreendi bem o
que Ele quis dizer (o Senhor não gostava que as pessoas mais próximas a Ele
ficassem em pé enquanto Ele ia e vinha pela sala, por isso eu estava sentado,
enquanto Ele andava para lá e para cá). Quase desesperado interiormente, o
Senhor disse: “Mas o que foi que eu fiz de errado que todas as pessoas ficam
escuras e feias quando estão perto de mim?”
Eu estava horrorizado e desesperado com a imensa
tristeza do Senhor (quase todos os altos convocados, cavaleiros, apóstolos e
discípulos tinham-No abandonado!). Dos aproximadamente 800 portadores da Cruz
que haviam reconhecido a Mensagem até 1938, quase todos haviam se escondido
covardemente em seus esconderijos depois que o Senhor foi preso. E, os poucos
que ainda ficaram do Seu lado e acreditavam Nele, só ousavam expressar-se sobre
isso no seu círculo de amizades e junto aos de mesma índole. E com esta total
destruição de Sua obra, o Senhor, como ser humano, também não conseguia,
interiormente, chegar a uma conclusão. Por isso Seu clamor desesperado. Pelas
conversas anteriores e por essas palavras agora desesperadas do Senhor, eu
próprio encontrava-me tão desesperado, que não sabia o que devia responder a
isso. Em profunda oração, supliquei a Deus por auxílio. Levantei, olhei nos
olhos do Senhor e disse sorrindo: “Senhor, isso é tão fácil de esclarecer. Se o
Senhor se sentasse o dia inteiro sob o sol escaldante, o Senhor também teria
uma insolação. Foi mais ou menos assim que aconteceu conosco, seres humanos!” O
Senhor, abalado, pegou nos meus ombros e disse-me: “Venha, caro senhor Fritsch,
sinto muito por ter deixado seu coração tão pesado. Vamos subir à nossa sala e
falar de outras coisas”. O Senhor sempre sofreu devido à falta de amor que os
portadores da Cruz – com exceção de alguns poucos – demonstravam entre si
durante anos. (“Quero reconhecer que sois meus discípulos, pelo fato de amardes
uns aos outros!”)
⑥ No meu último passeio com o Senhor em Kipsdorf, que durou mais
ou menos duas horas, o Senhor falou muito especialmente sobre o futuro
desenvolvimento na Alemanha, na Europa e na Terra. Mas tudo o que Ele dizia
estava repleto de uma indizível tristeza. Era como uma despedida. Um pouco
antes do Schweizer Hof (assim se chamava a casa onde o Senhor passou os últimos
anos de Sua vida; a casa era propriedade do industrial Sr. Giesecke, um
discípulo do Senhor, que tinha um especial amor e fidelidade a Ele), eu disse
ao Senhor: “Na verdade, eu ainda teria uma pergunta, a qual já me ocupa há anos
e a qual muitos outros portadores da Cruz também não encontram resposta. Gostaria
muito de perguntar-Lhe, mas temo que esta pergunta deixe o Senhor ainda mais
triste do que já está”.
O
Senhor ficou parado, cheio de amor olhou-me nos olhos e disse: “Pode
perguntar!” − Minha pergunta foi: “Senhor, como é que Frau Maria e a Srta.
Irmingard acreditam tão facilmente em tudo o que os mentirosos e caluniadores
dizem? Isso nem eu, nem os outros portadores da Cruz podemos
compreender”. ¾
O Senhor silenciou por algum tempo e então,
sorrindo baixinho, disse: “No início eu também cometi erros! Frau Maria e Srta.
Irmingard estão assumindo uma missão que não estava prevista para elas. Eu
não vou voltar mais ao Tirol. Diferente é com Frau Maria e com a Srta.
Irmingard, que vão voltar novamente para lá. As duas elevadas senhoras serão
colocadas agora numa difícil missão que é tão grande que mal poderão dar
conta. Eu conduzirei a construção a partir do Burgo e deixarei que os
convocados venham de tempo em tempo a mim”. − Então o Senhor calou-se
durante longo tempo. A tristeza, o desespero e a melancolia eram tão imensos,
eu estava como que paralisado e não conseguia falar nenhuma palavra, embora
muitas coisas se passassem dentro de mim, principalmente as aparentes contradições
(“conduzir a partir do Burgo”: O Burgo do Graal deveria ser construído na
Montanha! E mesmo assim, o Senhor dizia que não voltaria ao Tirol, Ele deixaria
os convocados virem a Ele de tempo em tempo – tudo me era tão
incompreensível...) Foi como a hora do Gólgata, uma hora tão difícil como nunca
tinha vivido, nem nunca vivi depois. Retornamos então silenciosamente para
casa, onde prosseguimos com a nossa conversa na sala de jantar.
Extraído (continuação) da Cópia de um manuscrito de Otto-Ernst Fritsch