Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas VI
Sobre a vida dos Celtas – VII
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Anteriormente: Seabhac Habicht, sob estado mediúnico
permite de própria voz, que Nuado, como Mensageiro do Pai Eterno, acuse severamente de pessoa maligna, justamente Taig, seu ferrenho rival, o qual o
ameaça de forma constrangedora e perigosa, em plena solenidade da comunidade
celta...
Então Meinin suplicou por proteção àquele que
havia partido tão despreocupadamente...
Depois disso, ela ficou tranquila. Ambas as
mulheres chegaram e deixaram-se instruir. Juntamente com o movimentar dos fios,
fluíam as palavras. Meinin entendia
habilmente expressar de tal forma aquilo que intuía, de modo que também a mesma
coisa se tornava clara às outras. Ela falava sobre o Pai Eterno e sobre os
reinos luminosos lá em cima, nos quais seus servos luminosos atuavam.
— “Existem também servas?” quiseram as
mulheres saber.
E Meinin
contou a respeito de Brigit, a
graciosa, que se esforçava incessantemente a favor das mulheres terrenas. Ela
contou, contudo, também sobre o séquito do mal do malvado Lug, sobre Morrigu,
Macha e Bud as mulheres ruins, que incitavam os homens a ações
malévolas.
— “Refleti”, ela relatava, “essas mulheres
até vão junto quando os homens saem para guerrear. A um elas prestam seu
auxílio, ao outro elas procuram aniquilar. Quem, porém, de manhã ora ao Pai
Eterno, contra estes elas são impotentes. Sim, se o homem que elas atacam,
dissesse pelo menos no mesmo momento o Sagrado Nome, então elas teriam que
deixá-lo.”
— “Já vistes alguma vez tais criaturas
horrendas?” perguntou Sile (sua
cunhada) horripilada.
Meinin negou. “Quando a gente ora elas não chegam à nossa
proximidade. Uma casa, na qual se clama ao Pai Eterno, elas evitam.”
— “Mas Brigit
mostra-se a ti?” quis a outra mulher saber.
Meinin calou-se. Isto era o seu mais íntimo segredo, sobre tal
coisa não se falava.
E enquanto as mulheres ficaram a trabalhar
tecendo o dia inteiro, Seabhac
cavalgava alegremente pela floresta. Ao meio-dia ele descansou com seus
acompanhantes sob um velho e grande carvalho. O descansar sob essa tal árvore
trazia felicidade. Antes de ele tocar a comida que havia levado junto, agradeceu
ao Pai Eterno por aquela dádiva. Assim era costume. Seabhac, porém, intuía realmente o agradecimento que seus lábios
falavam habitualmente.
Eles haviam encontrado uma pista, a qual
seguia.
Cruzando, também havia outras pistas. Cada
um dos três seguiu, então, uma delas. Eles queriam permanecer perto um dos
outros para que pudessem ouvir o chamado recíproco e não notaram quão longe se
afastaram. Eles já haviam deixado anteriormente os cavalos em uma cabana na
floresta.
Seabhac avançava pela mata densa, por onde não havia um caminho,
então, de repente, um chamado impediu o seu andar. Erguendo o olhar ele
percebeu Taig diante de si, cujo
rosto estava desfigurado de raiva.
— “Eu bem que pensei que tu dirigirias
teus passos nesta direção!” exclamou ele triunfantemente. Agora você vai ver o
que significa ter-me como inimigo. Pois eu não acredito naquela charlatanice. Tu
próprio falaste aquelas sábias palavras,
dizendo ter sido Nuado. Eu, porém,
não me deixo zombar impunemente!”
— “Retira o que tu disseste e deixa-me
passar” exclamou Seabhac. “Eu também
sou teu chefe e te ordeno para que não sobrecarregue mais culpa sobre tua
alma.”
— “Pode deixar as palavras sonantes, pois
além de nós dois, ninguém as ouve, sendo elas, por isso, supérfluas” zombou Taig.
Ao mesmo tempo ele retrocedeu alguns passos,
a fim de poder jogar melhor a curta lança de caçar.
— “Taig,
cuidado!” gritou Seabhac, de
repente, muito horrorizado. “Olha atrás de ti!”
O opositor que julgou ser o medo da morte
aquele grito desesperado e achando tratar-se de uma grande astúcia a exigência
para se virar, riu brevemente.
— “Tu deves tomar cuidado!” exclamou ele,
sentindo-se então arrancado do solo e antes que Seabhac pudesse impedir, uma grande ursa havia retirado a vida do
homem. Rugindo e resmungando ela pôs-se a despedaçar a vítima bem-vinda, a fim
de levar uma parte da mesma para sua caverna. Era justamente a época em que os
ursos tinham filhotes.
Então Seabhac
poderia ter subjugado a ursa, mas ele estava tão agradecido a ela e aos deuses
por ter sido salvo, que não lhe fez nada. Ao contrário, falou suavemente para
ela: “Eu te agradeço, ursa. Sem você seria eu que estaria agora estirado ao
chão.”
Ela nem sequer olhou para ele e partiu com
sua carga dali. Então um grito de seu servo chamava por ele, convidando-o a
sair daquele local horrendo. Apressadamente ele foi ao encontro do som e
encontrou os dois em luta com um grande urso, o qual eles não conseguiam se
apoderar. Sua chegada custou a vida ao animal.
Enquanto eles levavam a caça para a cabana, Seabhac lhes contou o que havia
ocorrido e voltou com os servos no local que ele havia anteriormente deixado.
Eles deveriam ver com os próprios olhos que Taig não havia morrido por mãos humanas. De fato ele não tinha
muitos amigos na tribo, mas seus irmãos talvez fossem suspeitar de Seabhac, que teria se livrado de seu
opositor no silêncio da floresta.
No retorno para a aldeia, os três ainda
conseguiram abater toda a sorte de pequenos animais selvagens, de modo que
chegaram abastecidos ao lar ricamente.
Agradecida Meinin saudou o esposo. Agradecida pela proteção que os deuses
haviam prestado segundo a vontade do Pai Eterno. Quando, então, os dois
trocaram suas vivências, mostrou-se que a hora que a ursa aparecera, deveria
ser o mesmo momento em que Meinin
orava.
Mais tarde ela relatou que havia se passado
uma grande inquietação na aldeia, pois pai Padraic
havia ido embora. Ninguém sabia que ele havia se afastado de onde os druidas
moravam, contudo ninguém conseguia encontrá-lo. Os druidas haviam perguntado de
cabana a cabana, mas aparentemente em vão.
Seabhac caminhou para detrás da cabana onde se encontrava lenha
amontoada. Estava intencionado buscar lenha para a fogueira, a fim também de ficar
sozinho por alguns instantes. Ele queria perguntar ao luminoso se deveria
juntar-se aos outros na procura por Padraic.
A resposta soou: “Amanhã.”
Por isso ele levantou na manhã seguinte bem
cedo, preparou-se com toda a sorte de materiais e caminhou para a aldeia dos
druidas. Lá ele encontrou homens pálidos e perturbados: Padraic não havia retornado e nem sido encontrado.
Ele perguntou se os sacerdotes queriam sair
mais uma vez para procurar. Quando eles afirmaram que sim, ele se juntou a
eles. Sua maneira confiante vivificou a todos. Ao serem interrogados, eles contaram
que Padraic depois da festa havia
ficado como que perturbado. Ele havia se retraído ainda mais para a solidão,
havia muitas vezes falado alto consigo mesmo e rejeitado por dias a se
alimentar. Por isso eles haviam achado bom, que sempre ficasse em sua
proximidade um dos sacerdotes mais jovens. E apesar dessa vigilância o velho
druida havia desaparecido.
— “Nós procuramos por toda a parte, não
sabemos mais onde podemos procurá-lo” relataram-lhes.
Então, Seabhac
chamou-lhes a atenção para o fato, de que bem próximo dali se encontrava uma
caverna de urso abandonada, a respeito da qual Padraic lhe falara uma vez, sendo talvez o local para procurá-lo.
Eles pediram então ao chefe para que
mostrasse o caminho para lá. Agora todos estavam convictos que Padraic seria encontrado lá. A intuição
deles também não lhes iludiu. Na caverna, o druida superior se encontrava
deitado, aparentemente dormindo com o semblante pacífico. Quando, porém, eles
se curvaram sobre ele sentiram o frio que partia de seus membros.
O coração havia parado de bater. Permaneceu
oculto a todos, porque o líder deles havia procurado esta solidão; se fora
porque ele havia notado que iria morrer; ou se a morte havia chegado a ele
durante o sono.
Eles ergueram-no e o levaram para casa. Ele
deveria ser sepultado segundo o antigo costume dos druidas. Então o mais velho
dos sacerdotes pediu a Seabhac que
viesse no dia seguinte à cerimônia do sepultamento. Ele também devia convidar
alguns dos mais nobres. Depois disso eles se separaram.
Ao caminhar de volta para casa todos os
pensamentos de Seabhac giravam em
torno do Padraic falecido. Por que
ele havia falecido de forma tão estranha? Será que também ele não deveria ficar
sabendo nada mais a respeito?
Dentro dele soou: “A noite.” Então ele sabia
que Nuado ou Gobban lhe traria esclarecimento à noite. Por isso, quando todos
dormiam, ele saiu de sua cabana e dirigiu-se ao local de devoção. Suavemente
murmuravam as copas das árvores, no céu moviam-se algumas nuvens, apenas um
pouco claras, pela lua minguante.
“É uma boa noite para o caçador selvagem”
pensou Seabhac. Contudo ele logo se
aprumou por causa desse pensamento. “O caçador selvagem não é ninguém mais do
que um servo do Pai Eterno.” Chegando no local das pedras, Seabhac ergueu as mãos e começou a orar por esclarecimento e pelo
que deveria acontecer agora. Ele sabia que havia chegado o momento em que ele
deveria associar-se aos druidas. E tudo dependia de que isso acontecesse da
forma certa.
Quando ele deixou seus braços abaixarem, Nuado
encontrava-se diante dele.
(continua)
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Muirne: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos.
Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem
o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos
ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é
padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa
tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.