Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XII
Sobre a vida dos Celtas –XIII
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Anteriormente: A tribo sob o
comando de Seabhac Habicht se destacara por um desenvolvimento espiritual
no período sem precedentes, com povos celtas de todos os lugares, vindo estudarem
com os druidas da região; que a princesa Meinin
também até surpreendeu, ao anunciar sensitivamente, a vinda promissora do Filho
do Pai Eterno, para o auxílio da criatura humana, carente de luz, decaída...
Meinin silenciou novamente. Ela tremia de comoção interior. De
forma totalmente forte ela vivenciava novamente o que havia podido ver. E
aquilo que vibrava tão poderosamente nela, arrebatou os ouvintes com grande
força. Eles encontravam-se como que em um encanto sagrado. Aqui e acolá alguém
erguia os braços como que em oração para o céu, mas ele não sabia disso.
Nenhum barulho fazia-se ouvir quando a
princesa começou novamente:
— ❝Então, logo se realizará
o que fora resolvido no mais sagrado amor, em uma incompreensível misericórdia.
Logo chegará a época em que o eterno Filho do Pai Eterno, uma parte Dele
próprio, irá descer à Terra. Os céus anunciá-lo-ão, as estrelas contarão a
respeito do que irá acontecer. Todos os seres humanos devem saber que o Filho
de Deus se juntará à eles.
Aí as árvores e as flores inclinar-se-ão em
devoção. As águas ficarão em silêncio por um instante, abaladas pelo indizível
acontecimento. Depois, murmurando, elas anunciarão o que ocorrera. Os animais
louvarão o Pai Eterno com o seu agir. Todos os servos luminosos apressar-se-ão
para difundir a notícia, transbordando em júbilo e louvor.
E os seres humanos? Quem pode dizer o que os
seres humanos farão, cegos e deturpados como são? Quem quer imaginar quanto
tempo irá demorar até que os seres humanos compreendam a incomensurável graça
do Pai Eterno?
Ó vós, seres humanos! Preparai-vos para
receber o Filho de Deus! Onde quer que Seus pés sagrados pisem sobre a Terra,
vós podeis recebê-Lo. Aguardai em trêmula alegria, com uma existência grata e
humilde, pois a vinda acontece por causa de vós. Orai ao Pai Eterno e falai:
— “Pai Eterno, Tu nosso Senhor sagrado, nós
Te agradecemos por Tua bondade e graça. Nós somos muito fracos para
compreendê-las, mas nós as veneramos. Tu queres enviar Teu sagrado Filho como
anunciador aos seres humanos. Prepara nossos corações para que nós O
reconheçamos e O sirvamos. Esta é a única maneira como nós podemos lhe
agradecer. ❞
Meinin silenciou. Sagrado estremecimento pairava sobre as
pessoas reunidas, que ainda permaneceram por curto tempo juntas. Depois Donald disse com uma voz suave, a qual
não lhe era habitual: “Deixai-nos ir e vivenciar em silêncio aquilo que agora
nos fora presenteado.”
De mãos dadas com Seabhac, Meinin deixou o
local de devoção. Ambos estavam profundamente comovidos para proferirem
palavras, mas um fluxo da mesma intuição perpassava-os.
Durante
dias pairava como que ainda um sagrado encanto por sobre toda a tribo. Os
alunos de outras tribos, porém, ansiavam que Meinin fosse até eles e lhes anunciasse também tal semelhante
coisa.
— “Isto vós deveis fazer” falava Donald em concordância com Nuado. “Vós não podeis exigir da
delicada princesa esta longa viagem. Ide, cada um de vós à vossa pátria e
anunciai o que vos foi permitido ouvir. Depois podeis retornar novamente, cada
um de vós, ou enviar outro em vosso lugar. A escola aqui sempre estará aberta
para todos os Celtas que tiverem vontade pura.”
Eles ainda fizeram uma tentativa, a fim de
incitar Donald a ir junto, mas ele
permaneceu firme e esclareceu-lhes apenas ainda que, esta era a maravilhosa
missão, para cada um deles individualmente, levar aquela alegre mensagem à sua
tribo.
No mesmo dia, então, todos partiram e a
aldeia dos druidas ficou vazia. Todos sentiram falta dos alegres jovens.
Estranho pareceu-lhes não ter agora nada mais o que ensinar. Então Nuado chegou com uma nova missão. Eles
deveriam, por algum tempo, sair de seu isolamento e se misturar entre o povo.
Eles deveriam instruir o povo, de modo a aproveitar, a trabalhar e a cuidar
melhor o solo. Eles, os druidas, já faziam isto a muitas gerações, mas nunca
haviam pensado que os homens do povo poderiam trabalhar o solo da mesma forma
que eles. Eles também deveriam incitar-lhes para que tivessem melhores cuidados
com as cabras e ovelhas. De forma pobre vivia o povo. Seria bom se se
difundisse o certo estado de bem-estar, apenas até em certa quantidade, para
aliviar a preocupação referente ao pão de cada dia e tornar livre os
pensamentos por coisas melhores. Muitas capacidades belas ficavam estagnadas
porque as pessoas não tinham nenhum tempo para elas.
Apenas bem poucos druidas não seguiram essa
ordem com alegria e exatamente esses poucos podiam ficar para trás, a fim de
prover a aldeia com jardins e o gado. Eles obtiveram o que eles próprios
desejaram, mas depois notaram que haviam escolhido a pior parte. Enquanto os
demais, depois de passado o tempo determinado pelo Pai Eterno, retornavam
preenchidos de alegria e felicidade, se refrescando no pensamento referente às
bênçãos que eles puderam transmitir, caso alguns haviam se entediado, se
aborrecido e envelhecido além do devido. Donald
não silenciou a esse respeito falando-lhes que eles próprios eram os culpados
por esse estado. Ele lhes mostrou que o ser humano sempre age mal quando ele
quer antepor sua própria vontade à vontade do Pai Eterno. Agora eles haviam
vivenciado isso e não esqueceriam tão rapidamente.
Aos
poucos os alunos retornavam novamente. Alguns dos mais velhos voltavam de novo,
a maioria das tribos, entretanto, enviavam novas pessoas, pois achavam que
seria ideal quanto mais gente pudesse aprender. Então, deu-se um novo impulso
para a escola. Também a escola de Meinin
experimentou algo novo. Os jovens haviam contado em suas tribos a respeito da
possibilidade de instrução para as moças. Agora as tribos enviavam muitas de
suas moças com os jovens para que Meinin
as instruísse. Ela aceitou as moças com prazer. Seabhac mandou construir uma escola semelhante à dos alunos.
Novamente estes puderam participar no trabalho de construção, o que uniu todo o
grupo, a princípio estranho entre uns aos outros. Até que a construção
estivesse de pé os jovens tinham que dormir ao ar livre, pois as moças
utilizavam os quartos da casa da escola.
Com o decorrer de tudo a pequena princesa Brigit completara sete anos de idade.
Ela era a imagem da bela mãe, mas não era bela apenas por fora. Sua jovem alma
levava uma vida rica e Meinin
observava alegremente como surgia na filha uma auxiliar, sim, provavelmente
também sua sucessora.
Os irmãos amavam a irmãzinha acima de tudo.
Sobretudo, porém, era seu irmão Pieder
de 12 anos que compreendia Brigit em
cada comoção. Muitas vezes eles imaginavam que tudo eles gostariam de fazer
pelo povo, quando se tornassem adultos. O pai surpreendeu-os, uma vez, na
ocasião em que faziam tais planos e perguntou de bom humor: “Alegras-te pelo
tempo em que tu te tornarás príncipe?”
— “Pai” exclamou o rapaz fervorosamente “não
me deixe tornar príncipe! Cuimin é
mil vezes mais apropriado do que eu para isso. Eu quero me tornar druida como Donald. Deixa-me ser o sucessor dele.”
— “Isto não está em minhas mãos Pieder”
disse o pai seriamente. “Eu posso tornar Cuimin príncipe, se eu ver que ele é
apropriado para isso. Eu posso deixar que tu te tornes druida, mas druida
superior é o Pai Eterno quem deve te nomear, pois isto eu não posso.”
— “Se tu me deixares tornar druida, então
tudo o mais virá por si mesmo” exclamou Pieder confiante.
— “Tu não pensas pouco a respeito de ti”
retrucou o pai.
Então o rapaz corou e disse suavemente:
“Perdão pai, por isso tem de parecer assim. Eu sei através de um mensageiro
luminoso que o Pai Eterno me escolheu para ser druida superior. Já há muito
tempo nós sabemos disso, eu e Brigit,
por isso que agora nos sobrevêm isso de forma totalmente natural.”
Então Seabhac não falou nada mais contra
isso, contudo, à noite perguntou a Nuado que mensageiro luminoso falava com seu
filho. Nuado informou-lhe:
— “É um dos servos do Pai Eterno, abaixo de
mim. Ele tem a incumbência de preparar o espírito deste rapaz para a missão que
um dia o homem terá de cumprir. Cuimin
tornar-se-á um bom príncipe, assim como Muirne
havia pressentido. Também ela, às vezes, podia olhar no futuro e ela havia
visto que um filho com nome de Cuimin seria teu sucessor. Por isso ela não
compreendeu que tu desses um outro nome para o teu primogênito, do que aquele
opinado por ela.”
— “E Fionn?” perguntou o príncipe, que
possuía um amor especial por esse rapaz alegre e bem dotado.
— “Também Fionn receberá sua missão. Como
portador da Verdade ele irá a outros povos, bem ao norte, no gelo e na neve e
lhes anunciará a respeito do Pai Eterno. Mas isso irá despertar em sua alma. Tu
não deves desempenhar nenhuma influência sobre ele. Deixai-o aprender assim
como os outros.”
(continua)
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo
Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos
ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é
padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa
tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.