Morrer e Tornar-se
por August Manz
“O movimento existe em todas as espécies da Criação, desde o Puro Espiritual até a Matéria Grosseira, o mistério da pulsação para o morrer e o tornar-se segundo as Leis Primordiais Eternas da Criação.” – Assim o Filho do Homem nos revelou. O movimento é chamado de mistério – algo que não pode ser compreendido pelo espírito humano -, porque o ser humano nunca pode compreender algo que se situa acima de sua origem, porque ele jamais estará em condições de assimilar algo que tenha seu ponto de saída no Divinal e porque o início primordial do movimento reside no próprio Deus. Isto nos foi revelado de forma clara pela Mensagem na dissertação “A Vida”.
Lá está escrito:
“Deus, a
Luz viva, a Força viva não pode evitar irradiações.
... Essa irradiação, contudo, é para a Luz um efeito evidente. ... A
intensidade da irradiação é, pois, nas proximidades da Luz, evidentemente mais
forte, de maneira que ali não pode haver nenhum outro movimento senão o
absoluto e rigoroso movimento para a
frente, que reside na irradiação.”
E assim nos é ilustrada a esfera Divina, a qual é
eterna junto com o próprio Deus. E nesta esfera o movimento é algo eterno. Esse
movimento Divino vem, portanto, para a Criação, reside como base da Criação.
Pois
“Somente
quando Deus, em Sua
Vontade , emitiu a grande expressão: “Faça-se a Luz!” as
irradiações se lançaram além do limite até então desejado, para o espaço sem
Luz, trazendo movimento e calor.”
O incondicional lançar-se para a frente, o
movimento, que reside na irradiação da Luz equivale a uma pressão
contínua e inimaginável. Por meio da atuação conjunta desse lançar-se para a
frente e a atração, que reside igualmente na força viva, portanto, no próprio
Deus, surge – como nos é revelado adiante -
um movimento circular de forma elíptica, no qual a enorme pressão da
irradiação imediata havia diminuído. Através disso surgiu, por sua vez, um leve
resfriamento e disso em certo sedimento.
E assim são formados os reinos ou
planos individuais da Criação um após o outro. Pois o movimento criador da
força impulsionante da irradiação continua sempre
e sempre de novo atuando e, na atuação
conjunta com a atração, surge um movimento circulante. E através dos sedimentos
desenvolve-se um plano elipticamente circulante após o outro.
O movimento oriundo da Luz Primordial
perpassa assim toda a Criação, atua em toda a Criação. O espírito humano,
porém, só pode compreender e assimilar as formas de manifestação do
movimento, só pode observar e constatar como ele se mostra e como atua.
Contudo, tem de lhe permanecer um eterno mistério, o que ele é: a sua
essência oriunda do Divinal, ele jamais poderá abranger.
Como principal forma de manifestação que o ser
humano pode compreender e assimilar, podemos citar os altos e baixos do
desenvolvimento na Criação, a contínua criação, o semear, o amadurecer, o
colher e o fenecer, que é efetuado pelo movimento. Pois o movimento é a pulsação
desse gigantesco “morrer e tornar-se”. Unicamente o movimento cria o circular
eterno da Criação e unicamente no movimento realiza-se em toda a Criação o
ininterrupto formar-se, decompor-se, para outra vez tomar nova forma.
Portanto, no “morrer e tornar-se” reside a Lei do
Desenvolvimento que abrange tudo: a
Criação em sua totalidade e cada parte individual em si. Dessa forma reside
aí também a Lei para o desenvolvimento do germe espiritual humano. E hoje
iremos observar como se efetua esse “morrer e tornar-se” para o ser humano,
qual exigência ele nos apresenta, qual significado ele possui para nós e para
toda nossa existência.
Devemos, então, partir
aqui do reconhecimento, que já encontramos como Lei Primordial da Criação: a evidência
do movimento, que se resulta como efeito inevitável da irradiação da Luz
Divina na esfera Divina. E dessa forma o movimento, que foi implantado na
Criação pela Vontade de Deus, é também uma evidência natural na Criação
que surgiu ai. Unicamente movimento é, portanto, tudo; imobilidade e
estagnação são nada. Erroneamente os seres humanos chamam o movimento de
vida e a estagnação, a imobilidade de morte. Na realidade aquilo que os seres
humanos chamam de vida, nada mais é do que um movimento impulsionado, que só
deve ser considerado como um efeito natural da verdadeira vida, como efeito da
irradiação de Deus. Uma verdadeira morte, uma absoluta imobilidade, um absoluto
nada, porém, não existe de jeito nenhum na Criação. Pois também a decomposição
é na realidade apenas uma modificação, que significa a oportunidade para
um novo desenvolvimento.
Morrer e tornar-se! Contudo “morrer” não
significa morte no sentido da transição para o nada, mas sim, analisado de
forma correta, a possibilidade de desenvolvimento para algo mais elevado, para
o “tornar-se” através do contínuo movimento desejado por Deus, o qual também
atua no processo de modificação.
A evidência do movimento que atua por toda parte na
Criação, deve residir, portanto, como base de todo o processo de
desenvolvimento do germe espiritual humano. Isso é uma lógica de acordo com as
leis da Criação e desejada por Deus. Apenas no movimento o germe espiritual, de
início inconsciente e que foi expelido do Reino Espiritual Inconsciente, pode
se desenvolver em um “eu” espiritual plenamente consciente.
Nós sabemos pela Mensagem que no germe espiritual
inconsciente reside vida e que a vida, de acordo com a Vontade Divina, se
impulsiona em toda a Criação para o movimento. Para o desenvolvimento, para a autoconsciência. Contudo, tornar-se consciente só pode advir
por meio de experiências. As experiências, por sua vez, só podem ser obtidas
pela peregrinação do germe espiritual pelos diferentes planos de movimento da
Criação, em especial pelos reinos da matéria fina e grosseira, nas quais se
resulta por si próprio a necessidade de defesa e de luta contra as influências
que lhe vem ao encontro desses ambientes mais baixos e onde ele penetrou como
estranho.
Em outras dissertações já tratamos mais
pormenorizadamente sobre a necessidade de ter de movimentar-se. E sempre
tivemos de reconhecer, que o ser humano só pode através disso levar as
capacidades nobres e puras, que lhe foram presenteadas, para um desenvolvimento
desejado, de modo a fazer essa dádiva crescer corretamente, isto é, ao mexer-se
e movimentar-se espiritualmente. Unicamente o inserir-se no ritmo das leis
naturais do movimento traz beneficiamento e amadurecimento; estagnação por si
só já traria retrocesso e, por fim, decomposição. Movimento, ao contrário,
torna as capacidades latentes no germe ativas, desperta-as, fortalece-as e as
faz crescer. Portanto, o desenvolvimento e o amadurecimento tem de ser
adquirido lutando pelo ser humano, através do movimento espiritual. Isto é
a tarefa principal de sua existência na Materialidade.
Um ser humano que não se movimenta espiritualmente,
que não luta, é envolvido por uma indolência mortífera. A mensagem nos anuncia:
Já há muito o ser humano teria caído no sono indolente da ociosidade, ao
qual deve seguir a podridão, se não existisse ainda na Criação, felizmente, o
impulso para a luta, que o obriga, mesmo
assim, a se mexer!
Se hoje não existisse mais na Criação o impulso para a luta, a que tantos
indolentes denominam como cruel, há muito tempo a matéria já se encontraria em
apodrecimento e em
decomposição. Atua ainda como algo conservador, de modo anímico e físico, jamais como algo
destruidor. De outra maneira não haveria nada mais que conservasse essa inerte
matéria grosseira em movimento e, com isso, saneada e vigorosa.
O movimento também não iria
desaparecer da Criação, ou deixar de atuar nela, se a humanidade inteira da
grossa-materialidade, por indolência espiritual, apodrecesse. Evidentemente o
movimento continuaria, pois ele é uma Lei Primordial eterna da Criação. Só a
humanidade pereceria, arrastada para dentro de um processo de transformação de
um Juízo Final, que iria dissolver a parte do Universo e as personalidades de
todos os seres humanos individuais. Mas o movimento deixaria novamente surgir
algo novo a partir da semente primordial e os germes espirituais que se
tornaram inconscientes, iriam transfundir-lhe com forças espirituais. O processo de
acontecimento do morrer e tornar-se, produzido pelo movimento iria continuar
ininterruptamente.
A necessidade incondicional de movimentar-se espiritualmente já
reconhecemos até aqui. Mas esse reconhecimento é ainda mais aprofundado pelas
palavras “morrer e tornar-se”. Torna-se a nos ainda mais clara, a forma como
o ser humano deve se movimentar, como ele deve se enquadrar do ritmo do
movimento, se ele quiser amadurecer.
O caminho de desenvolvimento do germe espiritual pelos mais densos
degraus da Criação, na Matéria Grosseira, é um processo de fermentação, do qual
o ser humano só sai corretamente purificado, se ele
compreende a Palavra da Verdade e vive corretamente de acordo com ela. E para
tanto o ser humano que está carregado de carga tem de se submeter a esse processo
de modificação, onde tudo o que é errôneo deve morrer e o correto tornar-se
novo.
Morrer e tornar-se. Nós sabemos que as condições de
desenvolvimento para o espírito humano na matéria fina e grosseira são
diferentes; uma consequência natural da diferença de espécie da materialidade.
Na matéria grosseira as condições para o amadurecimento são em si mais
favoráveis. Na Terra a matéria fina no ser humano ainda encontra-se protegida
pelo seu corpo, como através de uma firme âncora. Na matéria fina o perigo da
queda ou de ficar preso é bem maior, já que lá a Lei da Atração da Igual
Espécie, sem a proteção do corpo terreno, atua sempre de forma imediata.
Por isso, o ser humano tem, antes de mais nada, que
utilizar a peregrinação pela matéria grosseira para sua ascensão. E como já
reconhecemos, a isso pertence, como primeira pré-condição, que ele se submeta a
um completo processo de transformação, a fim de deixar morrer em si tudo
o que é falso e errôneo e que ele havia até então adquirido em sua peregrinação.
Ele tem de incinerar, aniquilar tudo de errado e incorreto, que se aderiu a ele. Ele tem de realizar o
“morrer” através de uma completa modificação de seu íntimo e o “tornar-se”
através da construção de um interior totalmente novo, no sentido desejado por
Deus, o qual nos é revelado pela Mensagem do Graal.
“Tudo tem de se tornar novo”,
exige o Filho do Homem sempre de novo. E o novo que é bom e correto só pode florescer,
se o velho, falso e incorreto for totalmente destruído.
Morrer. Os
pontos de vistas dos seres humanos sempre ficaram, segundo os acontecimentos de
até agora, bem distante da realidade e em discordância com a Vontade Divina. E
desses pontos de vistas errôneos resultou-se, como consequência, também um agir
errôneo. Errados são os caminhos que os seres humanos trilham, falsas as metas
que eles aspiram.
Quais
insetos esvoaçam e formigam assiduamente em confusão, como se valesse, para
alcançar o alvo máximo, fervorosa lufa-lufa e correria. Tão logo, porém, seus
alvos forem examinados mais de perto e com maior atenção, mostra-se logo o
vazio e a nulidade desse febril esforço, que realmente não é digno de tal
fervor.
Tal
atividade é, portanto, errada. E tudo o que está errado e que é falso e errôneo
de suas concepções e de seu aspirar, tem de ser submetido ao processo de
purificação e de transformação, o qual se resulta da exigência “morrer”.
Somente então o solo estará corretamente preparado para a construção do novo.
E os
seres humanos, tanto individual quanto coletivamente, podem avançar em direção
da realização do “tornar-se” com aquela atividade, que agora pode atuar
no sentido certo, no ritmo harmônico do movimento da Lei Primordial Divina da
Criação. -
No
mesmo sentido Jesus Cristo disse uma vez aos seus discípulos – como está
escrito no Evangelho de Mateus, capítulo 10:
“Quem achar sua vida, perdê-la-á;
e quem perder sua vida por mim,
achá-la-á.”
Pois se
uma pessoa entrega sua vida errada de até agora, se ela deixá-la morrer,
perecer, sucumbir, então há de encontrar a vida correta segundo a Vontade de
Deus. E quem faz isso, por ter reconhecido a Verdade Divina, trazida outrora
pelo Filho de Deus e agora pelo Filho do Homem, encontrará a verdadeira vida,
que se enquadra harmonicamente na Vontade de Deus, no movimento desejado por
Deus. Quem, porém, não quiser se enquadrar no ritmo do movimento desejado por
Deus, quem não se submeter ao processo de transformação, suceder-lhe-á como
Jesus igualmente revelou:
“Quem quiser manter sua vida” – sua
sintonização falsa e errônea de até agora – “perdê-la-á.”
Pois
ele será então arrastado junto para a decomposição da materialidade, que
aniquila seu “eu” com a força primordial do movimento.
“Morrer
e tornar-se”. Quem tiver compreendido corretamente o significado dessa
exigência e agir de acordo, quem destrói o velho e permite surgir o novo,
construiu para si o primeiro degrau para sua ascensão ao encontro da Luz. Ele
amadurecerá espiritualmente como consequência natural da aniquilação do que é
mal e do surgimento do que é bom. E, assim, ele pode finalmente ingressar no
Reino Espiritual. Pois o Senhor fala:
“Eu sou o Deus de Abraão e o Deus de Isaac e de Jacó. Deus, porém, não é
um Deus dos mortos, mas dos vivos” – que se movimentam
corretamente em Sua Criação.