Sobre a vida dos Celtas –XVII
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XVI
Anteriormente: A princesa Brigit,
pelas suas visões do mar, em vista de forte tempestade, anunciou um pequeno
barco, em sérias necessidades de socorro, cujo alarde sobre a provável
tragédia, motivou o próprio Seabhac Habicht, junto de outros, a enfrentar a situação, na
tentativa de realizar um salvamento...
Depois de indizíveis esforços os três homens
haviam conseguido salvar aquele que teimava com seu barco nas grandes ondas,
exatamente no momento em que este se despedaçou contra os recifes. Ele havia
sofrido graves ferimentos, mas ainda vivia.
Cuidadosamente os homens levaram-no à
cabana, onde tudo estava preparado sob a supervisão de Brigit. Donald fora
chamado, pois ele entendia de ferimentos e colocava cuidadosamente ataduras.
Apenas então tiveram tempo de observar o
homem que se encontrava deitado, como que sem vida sobre o leito. Loiros eram
os seus cabelos, sua altura era equivalente a do povo de Seabhac. Mas um Celta ele não era. A formação de sua cabeça era
totalmente diferente, mais arredondado parecia o seu rosto, e o nariz menor do
que o dos homens da tribo. Também seus trajes diferenciavam-se muito dos deles.
Na verdade, este já se encontrava rasgado, não dando mais para reconhecer quão
precioso era, mas o material parecia macio e brilhante e, nos pés, o homem
trazia invólucros especiais de couro.
Será que ele compreendia o idioma deles?
Apenas o seu despertar é que iria mostrar isso. Todos aguardavam curiosos por
esta hora. Era algo novo possuir esse tal hóspede. Toda aldeia participava
desse fato.
Sua impaciência, porém, não deveria ser tão
rapidamente satisfeita. O homem salvo caiu em uma forte febre, na qual ele não
parava de falar impetuosas palavras, mas ninguém podia compreendê-lo.
Então se seguiram dias de total apatia.
Quando, porém, depois da tempestade o sol apareceu novamente pela primeira vez,
brilhando alegremente e de forma quente, o enfermo abriu os olhos sob seus
raios. Eles eram marrons! Também os cabelos não eram assim tão loiros como
haviam parecido quando estavam molhados. Eles eram castanho claro.
Fionn que se encontrava justamente junto ao leito do homem
quando este voltou a si, fez todas estas constatações, tendo perguntado
cordialmente a ele como é que se sentia.
Com um pouco de dificuldade ele respondeu
que não sabia onde estava e como havia chego ali. Ao invés de lhe responder, Fionn apressou-se a sair do aposento e
comunicar aos outros que o homem estava desperto e falava o idioma deles.
Isto era uma notícia bem-vinda!O próprio Seabhac foi ter com o seu protegido, contudo,
encontrou-o novamente adormecido. Ao meio-dia o homem despertou de um sono
fortificante. Agora ele deveria alimentar-se, o que fez com muito apetite.
Depois ele já estava disposto a dar informações como também de recebê-las.
Ele vinha de um longínquo país, chamado
Gálea. Seu nome era Golin, sua
profissão, construtor. Um príncipe estranho havia invadido seu país e feito uma
grande quantidade de prisioneiros. Por ocasião da terrível tempestade no mar o
grande navio em que as pessoas de seu país haviam sido levadas, para onde elas
não sabiam, havia naufragado. Como que por milagre ele havia conseguido
alcançar um pequeno bote, no qual ele teve que se deixar impulsionar, já que
não possuía remos e nem podia fazer nada contra a tempestade.
— “Sim, um milagre” disse Fionn suavemente em agradecimento ao
Pai Eterno por ter ouvido seu pedido.
A partir de então ele tomou o doente aos
seus cuidados e procurava descobrir se ele acreditava no Pai Eterno. Depois ele
ansiava por saber se ele já havia construído alguma vez uma casa de Deus com
árvores de pedra. O homem que de fato falava em outra língua, tinha dificuldade
por compreender o que Fionn desejava
saber. Quando, porém, entendeu, ele pediu giz e uma pedra plana, desenhando com
alguns riscos uma construção redonda sustentada por “colunas”, como ele as
chamava.
Fionn tomou a pedra nas mãos como se fosse um tesouro precioso
e apressou-se a ir ter com Brigit.
Sem uma palavra ele mostrou-lhe o desenho.
— “O Pai Eterno seja louvado!” exclamou a
moça felicíssima. “Esta é a casa para o Filho de Deus. Construa-a rapidamente!”
Novamente Fionn apressou-se a voltar a Golin,
ao qual ele contava agora a respeito daquilo que lhe felicitava muito. Então o
construtor alegrou-se com ele e prometeu auxiliar na sagrada obra.
Então o restabelecimento progrediu
rapidamente. Ele mal podia esperar para poder se encontrar entre os
trabalhadores e lhes mostrar como deveriam ser confeccionadas as grandes
pedras, fazendo-as constituírem colunas. Elas foram feitas quadradas, de forma bem
largas embaixo, estreitando-se para cima. Nenhum enfeite as adornava. O povo de
Seabhac que jamais havia visto algo
semelhante julgava-as extremamente belas. Sempre de novo eles falavam uns para
os outros: “Certamente Golin pôde
ver isto durante sua doença, nos reinos celestiais.
O construtor,
de nome Golin, fazia rápidos
progressos no uso do idioma Celta. Seu idioma materno soava bem diferente,
apesar de ambos as linguagens terem algo em comum. Agora que ele podia se
expressar melhor, ele se alegrava de trocar pontos de vista com Fionn, deixando-se instruir por ele. Em
tudo o que dizia respeito ao saber sobre o Pai Eterno, o filho de Seabhac superava amplamente o mais
velho. Este só possuía o saber profissional a mais do que ele, mas ele queria
aprender, queria se aprofundar na compreensão a respeito das coisas divinas.
Sua alma havia se aberto amplamente depois de sua maravilhosa salvação e Fionn ensinava com entusiasmo. A
direção da construção não necessitava dele, isso Golin podia fazer bem melhor, mas despertar o espírito adormecido
no amigo, esta era uma missão digna do maior esforço. Ele dava tudo de si. Golin havia trazido de sua pátria
materna grande atividade e vivacidade intelectuais no falar e agir. Isso atuava
vivificando sobre Fionn, que era
mais calado e ameno. No intercâmbio ativo ambos cresciam.
Golin também foi o primeiro que tomou conhecimento a respeito
do anseio oculto de Fionn. Com
entusiasmo ele agarrou o pensamento. Isto, certamente, era desejado pelo Pai
Eterno, que o filho do príncipe procurasse países distantes e aprofundasse o
saber das pessoas, trazendo-lhes conhecimento sobre as coisas sagradas.
Entretanto, era em vão ele falar com o amigo
para que este conversasse com o príncipe a respeito. Um inexplicável temor
fazia-o se retrair a esse respeito. Então, Golin
resolveu intervir auxiliando, tão logo se oferecesse uma oportunidade.
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe filho
de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin