Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XIII
Sobre a vida dos Celtas –XIV
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Anteriormente: A tribo sob o comando de Seabhac Habicht é
reconhecida por entre os povos celtas de outras regiões respeitosamente, pela
grande valor espiritual, ainda mais por significar a anunciação da vinda
promissora do Filho do Pai Eterno...
Seabhac, em família, vive um período de muita paz...
Despreocupadamente cresceram os quatro
irmãos: Pieder, Cuimin, Brigit e Fionn, uns com os outros. O exemplo dos pais,
melhor do que quaisquer palavras eram capazes, ensinava-os a viver em
humildade, pureza e em devoção. Alegria e felicidade vinham por si mesmas, elas
cresciam no solo que as almas infantis preparavam por meio de sua espécie.
Na hora certa Pieder chegou às mãos de Donald,
o qual sabia muito bem que preciosidade lhe era confiada com isso. Seabhac, segundo o conselho de Nuado, enviou os gêmeos a outra tribo
que se situava bem ao sul. Lá eles podiam aprender outros costumes e outras
maneiras.
De fato, lá os homens não eram assim tão
puros e infantis como em sua própria tribo, mas Nuado esclareceu que os jovens
estariam suficientemente firmes para resistir a quaisquer tentações. Eles
teriam de provar que também seriam capazes, vivendo no meio de pessoas com pensamentos
diferentes, de se firmar naquilo que haviam aprendido e absorvido em si.
Assim
tornou-se solitário em volta do casal de príncipes. Apenas o ser alegre e
equilibrado de Brigit é que os
alegrava. A filha provia os pais que haviam envelhecido e procurava com
redobrado fervor e amor substituir os irmãos. Meinin também podia falar com ela a respeito daquilo que a
preenchia sobremaneira: a maravilhosa profecia que há alguns anos ela pudera
anunciar a sua tribo. Essa notícia havia se difundido por todas as tribos
Celtas, todos os habitantes acreditavam firmemente nisso e alegravam-se pela
época, na qual o sagrado Filho do Pai Eterno pisaria sobre a Terra. Quando se
daria isso? Será que por ocasião desse acontecimento aqueles que agora
envelheciam, ainda estariam vivos, a fim de vê-Lo, Aquele que haveria de vir
aos seres humanos por misericordioso amor?
Meinin não ousava questionar a esse respeito. Nela vivia o
pensamento que apenas seriam dignos de ver o maravilhoso, aqueles que pudessem
se desenvolver totalmente nas leis do Pai Eterno. Nesse sentido ela direcionava
seu próprio agir e pensar. Jamais ela pudera ver novamente a maravilhosa
imagem, tão forte como no primeiro dia quando ela ainda se encontrava diante de
sua alma.
Também para Seabhac e Donald isto havia se tornado uma estrela guia, mas de
outra forma. A eles não bastava entregar sua própria vida e esforço ao Pai
Eterno. Eles queriam preparar seu povo para se tornar o solo, no qual os
sagrados pés pudessem pisar. Cada vez mais exigentes tornaram-se seus mandamentos,
cada vez de forma menos condescendente eles castigavam as transgressões. Mas o
povo sabia por que motivo isto acontecia e curvava-se obediente. “Quando o
Filho de Deus estiver sobre a Terra” isto também havia se tornado o ponto
central de todo pensar, mesmo nas pessoas mais simples.
De fato, isto também se dava em todas as
tribos Celtas, mas em nenhum lugar de forma tão forte e viva como no povo de Seabhac. Por isso neles também
floresciam de forma totalmente especial. O Pai Eterno deveria olhar com agrado
para o povo que vivia aplicadamente no presente e olhando cheio de fervor para
o futuro, assim pensavam os druidas. Uma tarde, Seabhac e Meinin caminharam
com Brigit em esecial pelo jardim.
Ambas se mostravam alegres pelos arbustos floridos que ornamentavam os caminhos.
Seabhac estava mergulhado em seus
pensamentos procurando se elevar. Então uma tímida pergunta de Brigit interrompeu-o: “Vocês acham que
o Filho de Deus irá nascer em nosso país?”
Isto ambos não acreditavam em tamanha
bênção, que como inacreditável graça, Seabhac
não ousava nem supor. Meinin, porém,
lembrando-se da anunciação disse: “Ele pisará sobre a terra, distante da gente,
mas a irradiação de Sua presença divina irá chegar até nós. Se nós mantivermos
nossas almas amplamente abertas e enviarmos o anseio por meio de fortes
vibrações até Ele, então Ele nos enviará de volta algo de Sua eterna força e de
Seu sagrado amor, tanto quanto Lhe for possível enviar. Então comparticiparemos
das mais ricas bênçãos.”
Todos os três silenciaram e trabalhavam
interiormente com estas palavras. Cada um, porém, assimilava-as de maneira
diversa. Enquanto Meinin já julgava
sentir como tudo que partisse do Filho de Deus perpassava purificando as almas
de todas as culpas, queimando tudo que fosse errôneo e fazendo com que o que fosse
bom fosse lançado para o alto com grande força, o príncipe imaginava como iria
surgir um reino do Pai Eterno sobre a Terra e paz e a justiça seriam as forças
motrizes. Por toda a parte os seres humanos tornar-se-iam verdadeiros servos,
que auxiliariam a construir o sagrado reino, baseado na força e na alegria.
A intuição de Brigit ia de encontro a Ele com amor. Àquele que queria vir. Os
seres humanos deveriam preparar-se para recebê-lo dignamente. O sagrado Amor faria
com que, qualquer sentimento terreno, antes teria de se purificar e se
clarificar, a fim de poder se elevar ao encontro Dele.
— “Nós temos que fazer algo para o Filho de
Deus!” exclamou a moça, a partir dessa transbordante intuição.
Os pais olharam-na admirados. Eles não
estavam habituados a tal expressão direta por parte dela.
— “Como tu imaginas isso, filha?” perguntou
o pai amavelmente.
Brigit superou a timidez segurando a mão da mãe e disse meio
gaguejando: “Eu imagino que nós deveríamos Lhe construir uma morada.”
— “Uma morada?” perguntou Seabhac tenso.
“Ele certamente jamais irá vir até nosso reino. Para que então, uma morada?”
— “Mãe!” disse Brigit suplicante. Ela estava
segura que a mãe já a havia compreendido e pudesse transmitir melhor em
palavras a sua intuição. Meinin também a auxiliou realmente com isso.
— “Brigit está imaginando que se a grande
força flui para nós em abundância, deve existir algum receptáculo para acolher
essa força. Interpretei corretamente minha filha?”
— “Sim, mãe, assim penso eu. Nós precisamos
construir um recinto sagrado, no qual podemos ingressar a fim de acolher a
força. Eu sei que o Filho de Deus, também aqui embaixo, continuará a ser Deus,
mesmo que Ele desça para se tornar ser humano. E se Ele é Deus, então Ele não
está preso ao local em que Ele peregrina terrenalmente. Ele também pode se
encontrar ao mesmo tempo junto a nós, na forma divina, invisível, mas, contudo,
sensível. E para isso Ele deveria ter uma morada para quando vier.”
Fora o diálogo mais longo que a moça até
então realizara. Mas ambos os pais sentiam a força que a impulsionavam a isso.
— “Tu tens razão, Brigit” confirmou o pai.
“Seria belo se nós construíssemos esse tal lugar sagrado. Deixai-nos pensar
como ele teria de ser.”
— “Eu o estou vendo! Eu o estou vendo!” Jubilaram
ambas as mulheres, se expressando ao mesmo tempo.(continua)
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo
Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na mitologia
irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro
dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se
conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que
forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas
armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o
bebesse.
Brigit, é a Deusa dos
ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é
padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa
tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé
Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou
as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura)
contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do
Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à
técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada
(de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto
é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.