Sobre a vida dos Celtas –XVI
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XV
Anteriormente: Meinin ao
descrever suas visões sobre os jardins eternos e o Filho do Pai Eterno,
anunciou com acerto sua partida para a outra vida, Seabhac Habicht até teve de ser consolado por Nuado, em razão de que tal evento aconteceu de imediato, deixando-o,
repentinamente, na viuvez...
Agora ele aguardava o surgimento de Nuado. Contudo, não fora ele que viera,
mas sim uma graciosa figura feminina. Esta deveria ser Brigit, a guardiã de seu lar.
— “Tu agiste corretamente, Seabhac, ao recordares-te finalmente a
respeito daquilo que tua esposa te havia dito antes que ela pudesse ascender.
Isso é o único laço que quer sempre de novo puxá-la para baixo, o anseio para
que finalmente se inicie a construção. Já por causa dela tu deves realizar a
obra. Ela poderá então ascender de forma mais livre e fácil. Para teu povo,
porém, a construção trará inúmeras bênçãos. Todos os pensamentos dirigir-se-ão
através desse trabalho para coisas mais sagradas. Amor ao Filho de Deus que por
amor quer vir, irá florescer nos corações por meio da obra que eles poderão
realizar para Ele.”
— “Meinin
e Brigit haviam visto alguma imagem
referente a essa casa de Deus” disse Seabhac.
“Eu, porém, não a vejo. Eu não posso imaginar que nós, com nossas ínfimas
habilidades possamos realizar algo tão belo, nem de forma aproximada. Por isso
eu hesitei em iniciar uma obra para a qual eu não estivesse preparado.”
— “Não tem que ser igualmente tão bela
quanto a imagem original” sorriu Brigit
graciosamente. “Ela também não se parecerá nem mesmo na parte mais ínfima e,
apesar disso, será bela diante dos olhos do Pai Eterno, se vós a construirdes
com o coração puro e por amor, disposto a sacrificar-vos”.
“Ponha mãos à obra! Na hora certa o auxílio
te será enviado. Muitos servos do Pai Eterno compreendem aquilo que vós ainda
não podeis. Eles poderão vos instruir. Apenas começai vós próprios.”
Comovido Seabhac olhava para a figura que desaparecia. O que ela havia dito?
A obra deveria ser iniciada? Ainda hoje ele iria falar com Fionn, se ele gostaria de assumir a direção dos trabalhadores da
obra. Fionn possuía uma intuição bem
delicada para tudo que era belo, mais do que todos os outros. Além disso, ele
ansiava por trabalho.
Mas a luminosa Brigit também havia falado de sua esposa. Ela estava ascendendo?
Para onde? Certamente também para os jardins do Pai Eterno. Oh, Meinin, tu pura, certamente haverá
trabalho para ti a serviço do mais elevado Senhor, como recompensa por tua
fidelidade aqui embaixo.
Quando Seabhac
virou-se para ir ele ouviu passos que se aproximavam, vindos do mar. Ele ficou
esperando e reconheceu Fionn. Então,
ambos podiam conversar logo a respeito de tudo. Isso era do agrado do pai. Fionn, porém, havia suplicado
intimamente por uma indicação, a respeito do que ele deveria fazer. Ele
considerou o pedido de Seabhac como
a resposta do Pai Eterno e não refletiu sequer um momento para aceitar o serviço.
Mostrou-se que no coração de Fionn vivia a imagem de uma casa de
pedra circular, a qual deveria ser semelhante àquela descrita pelas mulheres.
Ele poderia, pois, pedir a Brigit
que também lhe contasse sobre a maravilhosa construção.
No
dia seguinte os homens haviam sido chamados para a casa de reunião. Seabhac relatou de forma simples a
respeito do falecimento de Meinin e
de tudo o que havia ocorrido um pouco antes. Os homens ouviam comovidos e
imediatamente estavam dispostos em executar aquilo que sua princesa havia
considerado como certo.
Fionn, que nesse meio tempo havia conversado com sua irmã,
pôde fazer uma descrição aproximada de como a casa deveria parecer. Eles, na
verdade, não podiam imaginá-la, mas exatamente por isso estavam ansiosos para construí-la
segundo as aptidões do filho do príncipe. Então eles iriam pelo menos vê-la.
O local para essa finalidade foi facilmente
encontrado. O tamanho dela foi construído de acordo com o tamanho do atual
local de devoção, depois de terem sido afastadas as enormes rochas, oferecendo
espaço para todos.
Então se iniciou a construção. Sempre de
novo Brigit tinha de descrever as
árvores de pedra e, aos poucos, Fionn
compreendeu como ela as via, mas ele não sabia como deveria mandar fazê-las.
Nenhuma pedra assim tão grande era ainda alta o suficiente, de modo que eles
poderiam esculpi-la. E, apesar disso, a casa de Deus ainda deveria ser
especialmente alta!
Fionn implorava noite após noite por auxílio. Ele estava
convicto que o Pai Eterno lhe enviaria alguém, de modo que ele só tinha que
mandar que fossem trazidas pedras e madeira e não fizesse nada no que dissesse
respeito às árvores de pedra.
Um tempo ruim impediu o progresso da obra.
Chuva forte caía e molhava os homens, os quais mal podiam ver o que eles tinham
à mão. O vento de tempestade, gélido, assobiava em torno das figuras e ameaçava
jogá-las ao chão. Era preciso que parassem e se arrastassem às cabanas.
Retumbando, as ondas batiam na encosta rochosa. Podia-se ouvir o seu estrondo
até na aldeia.
— “Ai daqueles que estão agora a navegar no
mar” disse Cuimin pensativamente,
quando pai e filhos estavam sentados junto ao fogo. Brigit ia para lá e para cá, provia a criadagem e, às vezes, saía
também para fora ao ar livre. A ela não fazia nada quando o vento desfazia suas
longas tranças da cabeça e as deixava esvoaçar longe. Também não a incomodava
ficar molhada. Ela ouvia no estrondo das ondas, no bramir da tempestade, toda
sorte de vozes, as quais lhe contavam a respeito da onipotência e grandeza do
Pai Eterno. O que elas aí anunciavam formava-se em canções, as quais ela
cantava com as moças. Agora ela vinha de volta para dentro com passos rápidos.
— “Pai, Fionn,
vós tendes de ir ao mar! Um pequeno barco está em necessidades!”
— “Mas Brigit,
tu não podes ver o mar daqui!” disse Cuimin
pensativo. Fionn, porém, havia se
levantado de um salto e saindo apressadamente. Seabhac seguiu-o mais lentamente. Cuimin balançou a cabeça.
— “Eu evidentemente também iria se fosse de
supor que tu tiveste visto algo. Mas é totalmente impossível. Reflita Brigit, tu sonhaste. Então chamaremos
de volta os dois antes que sejam atingidos pela chuva!”
A irmã dirigiu-se sem palavras para frente
da cabana e ficou parada por um momento em pé, silenciosa. Então ela bateu à
porta do vizinho e pediu-lhe para que fosse igualmente ao mar, já que ambos
sozinhos não podiam fazer nada na tempestade.
Colm nem perguntou de onde é que ela sabia que
um barco estava em necessidades. Bastava-lhe que o chefe precisava de seus
serviços. Apressadamente ele correu para a praia. Brigit, porém, voltou à cabana, a fim de preparar um leito para a
recepção do provável hóspede que ela havia visto e que teria se acidentado,
gravemente...
(continua)
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento;
irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin
Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin