O Alcance das Elevações
por
Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf
Sinopse de Fatos Transcorridos: Na decisão desde a infância de
servir o Altíssimo,
ainda contida do jovem Miang, após ter seu avanço no estudo inicial
concluído, conseguiu em seguida se tornar aluno de Fong, que depois como
príncipe afastado voltara com a difícil missão de dirigir seu reino sem mais
poder ensiná-lo, mantendo, entretanto sua vontade dando-lhe ordens como seu
mantido mestre; pelas quais na tarefa de mensageiro, empreendia sempre novas viagens
com aventuras, em cuja uma delas, encontrou – para
se instruir por um longo tempo – o
seu terceiro mestre (Huang), estando na situação atual de socorrer pessoas
comuns do cotidiano...
A
missão de Miang nessa localidade parecia terminada, somente uma coisa ainda o
ocupava muito: a crença da volta ao “reino intermediário”. Ele pediu clareza ao
seu amigo luminoso sobre estas questões e ela também foi lhe dada.
Foi
lhe permitido ver o caminho seguido pela alma de Hung, que estava partindo,
quando esta pôde deixar seu corpo. Não podia afastar-se muito de seu invólucro
antigo. Muitos fios resistentes, densos, ainda a deixavam presa a ele, pois os
olhos da alma estavam direcionados para a matéria e para o retorno à Terra.
Finalmente, ficaram mais fracos e caíram secos, pois a alma começou a observar
o seu novo ambiente. Um grande número de figuras e formas a cercavam. De
início, não conseguia orientar-se. Esse, portanto, deveria ser o “reino
intermediário”! Porém, se era apenas um “reino intermediário”,
situado entre dois reinos, dos quais um deveria ser a Terra, onde então estava
o segundo?
Quando
Miang chegou a essa ponderação, abriu-se uma fenda no “céu” que cobria o reino
intermediário, e ele avistou muito distante desse mundo, uma luz
brilhante e maravilhosos jardins, nos quais seres humanos felizes estavam
atuando diligentemente. O coração de Miang jubilava. Esses luminosos jardins pareciam-lhe
familiares, nestes deveriam ser o destino de muitas almas humanas que vagavam e
procuravam no reino intermediário, sem saber o que realmente lhes faltava.
“Olhem
para cima!” tentou Miang gritar para elas, mas ninguém o escutava. Quais
formigas, que entram em seu formigueiro e dele saem novamente, assim pareciam a
Miang as numerosas almas, que lá se detinham sem poderem prosseguir. De tempos
em tempos desaparecia uma alma e Miang podia ver como ela retornava à Terra e
lá iniciava uma nova vida. Mas o que adiantava a nova vida, se ela não chegasse
a novos reconhecimentos? Deveria continuar um constante perambular entre a Terra
e o reino
intermediário? Qual seria o sentido disso?
Tristeza
queria apoderar-se de Miang, sobre a inutilidade de tal vida humana, mas depois
ponderou: “Para isso o Altíssimo enviou-me aos seres humanos, para que eu lhes
mostre aonde deve levar a sua caminhada, sem que sejam retidos no reino
intermediário, em continuando, ascendendo para os jardins eternos.”
Cinzento
e turvo parecia tudo no reino do meio, nas alturas, porém, havia luz clara,
beleza e alegria. Quem chegasse lá em cima, este certamente não precisaria
retornar à Terra, este teria encontrado sua meta e poderia ser um servo do
Altíssimo em felicidade e alegria. Miang estava agradecido pelo novo saber.
Agora poderia ajudar aos homens ainda melhor, poderia adverti-los, para que não
se prendessem à Terra, e mostrar-lhes o caminho para os jardins celestes.
Animado,
retomou novamente a sua caminhada, que o levava ainda mais para o sul. O solo
tornava-se cada vez mais fértil, a colheita era mais abundante, as árvores
estavam carregadas de frutos doces. Que seres humanos felizes deviam morar
neste paraíso! Ao passar, Miang os observava mais atentamente. Estavam vestidos
mais ricamente e mais bonitos, portavam a cabeça mais erguida do que os pobres
pastores no alto das montanhas e suas moradias demonstravam riqueza.
Entretanto, eram eles também mais felizes? Com toda essa beleza que os cercava,
deveria pairar sobre eles um brilho como o do sol. Mas nada disso se via. Ao
contrário, aborrecidos olhavam por sobre todo esse esplendor que parecia não
alegrá-los. Qual seria o motivo?
Miang
aproximou-se de um pequeno templo, para o qual afluíam pessoas com grinaldas de
flores nos cabelos e nas mãos. Entrou junto com elas. O ambiente era despojado
e feio. Somente no fundo alguns degraus conduziam para um pedestal, entronado
por uma imagem horrível. Era, em traços grosseiros, uma espécie de figura
feminina, pintada toscamente. Diante dessa figura as pessoas colocavam suas
flores, ajoelhavam-se e murmuravam algumas palavras, que deveriam formar uma
oração. Depois se levantavam com fisionomias impassíveis e deixavam novamente o
templo. Miang assustou-se profundamente. Isto seria um templo, um local de
adoração? Como isso era possível? Para ele seria impossível orar neste
ambiente. Sufocante era a opressão de muitas figuras grotescas, que estavam
penduradas nas paredes e que também se prendiam nas pessoas presentes no
templo.
Agora
descobriu, atrás do ídolo, uma figura que lhe passara despercebida na turva
penumbra do templo. Estava aí, imóvel, com os braços levantados. Parecia que
toda vida tinha se evadido dela. Cheias de veneração, olhavam as pessoas para
essa figura petrificada. Parecia-lhes algo magnífico, poder “rezar” dessa
forma. Miang, porém, viu que a alma desse homem estava tão enrijecida quanto o
seu corpo, que não havia mais vida nela e ele se horrorizou. O que poderia ser
feito aqui?
Miang
não conseguia desviar seu olhar dessa figura petrificada e parecia que o seu
olhar ia perpassando a armadura dessa alma sem vida. O sacerdote começou a
movimentar-se e, contrariado, voltou-se para Miang, deixou cair os braços e
atravessou-o, por sua vez, com seu olhar. Era uma luta entre alma e alma, na
qual o sacerdote foi vencido. Ele baixou os olhos e, aborrecido, deixou o
templo por uma entrada na parede dos fundos.
Um
homem aproximou-se de Miang.
“Tu
foste mais forte do que o sacerdote!” sussurrou para Miang e indicou com a
cabeça para o templo.
Miang
estava um pouco desconcertado.
“O
que queres dizer com isso, amigo?” perguntou ele, para ganhar tempo.
“Ora,
tu o expulsaste, tua força era maior. Isto ainda ninguém havia conseguido.
Posso acompanhar-te por um trecho?”
Miang
olhou o homem mais detalhadamente. Havia uma súplica em seus olhos, que exortou
Miang a concordar. O homem conduziu-o, através de ruelas mais calmas, até uma
casa situada num jardim grande.
“Entre
em minha casa!” convidou a Miang e este aceitou. Ele ainda não sabia o que o
aguardava lá, mas parecia-lhe correto atender o convite. Sentaram-se num
aposento fresco, sombreado e, hesitante, o acompanhante de Miang começou a
falar: “Eu te observava hoje no templo, ó forasteiro! Tu parecias ser diferente
das pessoas daqui, diferente, principalmente, do sacerdote e tu não tinhas medo
dele. Eu gostei disso, pois eu também não posso curvar-me diante do que os
sacerdotes exigem de nós. E, principalmente, eles não conseguem me dar
respostas às minhas perguntas.”
O
homem fez uma pausa. Ele não sabia como fazer com que Miang percebesse qual era
a sua ansiedade íntima. Miang, no entanto, viu o espírito atado que lutava para
libertar-se e um desejo fervoroso de assisti-lo acordou logo em seu íntimo.
“O
que te oprime, amigo?” perguntou cordialmente, e parece que essas palavras
soltaram a língua do outro. Ele externou a ansiedade de seu coração com as
palavras:
“Todos
os dias eu vou ao templo, procuro rezar, trago minhas oferendas e ainda sempre
volto com o coração vazio. O sacerdote está mudo, não me dá respostas, é assim
também a divindade – será que não há ninguém que possa me dar respostas? Eu sou
somente um pequeno homem, eu não posso ajudar a mim mesmo, eu necessito de
alguém mais forte para me conduzir. Mas onde está esse tal mais forte? Por toda
a minha vida eu o procurei, mas ninguém pôde mostrá-lo. Agora vieste tu hoje e
foste mais forte que o sacerdote, eu o vi bem. Agora te peço: ajuda-me!”
Essas
palavras continham um pedido tão suplicante, que Miang soube: lá ele poderia
abrir o tesouro de seu saber e dar com mãos cheias.
Ansioso,
Ma-tschi assimilava cada uma de suas palavras, não se cansava de escutar e
profunda alegria o preenchia. Seus olhos brilhavam, tinha vontade de abraçar
Miang. Algo, porém, o reteve. Apesar de sua juventude, pairava uma nobreza
sobre Miang, que excluía qualquer intimidade. Por longo tempo os dois
conversaram e cada vez mais leve, mais feliz, ficou o coração de Ma-tschi. Ele
pediu a Miang para permanecer alguns dias com ele, pois ainda queria convidar
amigos para que se deixassem instruir por Miang.
“Eles
sentem o mesmo que eu,” disse Ma-tschi, esclarecendo, e Miang ficou satisfeito.
Ma-tschi
era um comerciante abastado. Pela primeira vez em sua vida, Miang podia gozar
do conforto e da comodidade de um lar rico.
Todos
os ambientes eram ricamente ornamentados com tapetes macios, tecidos de seda e
vasos preciosos. Beleza cercava-o nesta casa e ele alegrou-se com isso, sem que
surgisse nele o desejo de querer possuir algo disso. Também, o que ele, em sua
caminhada, poderia fazer com essas coisas belas, mas incômodas? Ao tentar
imaginá-lo, Miang teve que sorrir. Não, quanto menos ele possuísse, tanto
melhor seria para ele, mais desimpedido ele poderia entregar-se à sua missão.
Era
uma noite de outono quente e úmida, em que Miang, Ma-tschi e alguns de seus
amigos estavam reunidos na sala à meia luz. Servos tinham acendido um lampião
suspenso, de cujas janelas de papel colorido a luz transparecia suavemente.
Ma-tschi
foi o primeiro a falar: “Amigos,” disse ele, “vejam aqui o sábio, do qual vos
relatei. Ele está disposto a ensinar-nos. Escutemos as suas palavras.”
Todos os olhares dirigiram-se para Miang, que ainda refletia em
silêncio. Novamente surgiram imagens diante de sua alma. Ele viu diante de si
uma montanha alta, íngreme, em cujo pico brilhava uma luz clara. Espalhava seus
raios por sobre todas as encostas até ao vale lá embaixo, onde não se via
nenhuma outra luz. Muitas pessoas caminhavam lá embaixo sem rumo. Alguns
dirigiam seu olhar interrogativo para o alto, porém, a luz parecia-lhes muito
alta e muito distante para que pudessem alcançá-la. Então surgiram de cavernas
escuras da montanha, figuras com longos trajes. Carregavam figuras esculpidas
diante de si e colocaram-nas sobre pequenas elevações no vale e chamavam as pessoas
para junto de si.
“Aproximai-vos,”
ouvia-se de sua boca, “ajoelhai-vos e adorai!”
E
agitavam incensórios nas mãos, dos quais se elevava densa fumaça cinzenta, que
se deitava, entorpecendo, sobre coração e mente das pessoas. Neste
atordoamento, muitas ficavam paradas e obedeciam ao que lhes era ordenado e as
figuras nas vestimentas longas acendiam pequenas lamparinas e gritavam: “Vejam
a luz, a grande luz!”
No
entanto, mal iluminava o ambiente próximo às imagens esculpidas e, poucos
passos adiante, tudo permanecia no escuro. O coração de Miang estremeceu. Assim
acontecia aqui nesta Terra, com estes seres humanos! Eles quase nada sabiam da
luz clara, forte e pura no pico da alta montanha, porque fixavam seus olhos
somente na Terra e abriam seus ouvidos somente às palavras dos sacerdotes da
caverna. Agora Miang sabia o que tinha a fazer e a falar.
“Queridos
amigos,” começou, e muita bondade estava contida no tom de suas palavras.
“Todos vós sabeis que estais numa caminhada nesta vida. A caminhada já começou
com o vosso nascimento e não termina com a vossa morte, pois, quando a vossa
alma deixa o corpo terreno, ela ainda não alcançou a sua meta e não terá paz
nem sossego até tê-la alcançado.”
Os
homens escutavam atentos, familiares lhes soavam essas palavras.
“Vejam
este aposento,” continuou Miang. “Lá fora é noite, tudo está no escuro e vós
vos esforçais por espalhar um pouco de claridade ao redor de vós, para que não
precisais permanecer no escuro. Mas veja como é fraca a vossa luz! Esta mal
ilumina suficientemente o ambiente para se distinguir todos os objetos.
Porém,
sendo dia e brilhando o sol, podeis enxergar claramente, não somente cada
objeto, mas também a sua cor até o mínimo detalhe. Tudo ao redor de vós começa
novamente a viver o que antes parecia cercar-vos sem vida. Não é assim?”
Tiveram
que concordar com ele, e um homem mais jovem, com vivacidade em sua expressão,
exclamou: “Está tão escuro no nosso interior, porque não temos um sol que nos
ilumine!”
“No
entanto, existe um sol grande, poderoso, luminoso, que pode tornar o vosso
interior claro como o dia, desde que vós o deixeis entrar!” continuou Miang
radiante. E ele descreveu-lhes a imagem que há pouco lhe foi mostrada. “A
grande e clara luz ainda está em cima de nós, ela brilha e irradia para o
espaço e ilumina tudo, como o faz o sol no céu. Porém, se escondermo-nos em
cavernas escuras ou baixarmos o olhar constantemente para o solo, então não
podemos vê-la e ela não nos fará alegres.”
Isto
todos compreenderam e Miang continuou a contar-lhes de Deus, o Altíssimo, o
Qual, como um grande sol, brilha sobre tudo o que é criado. “Para Ele vós
deveis orar, Ele pode ajudar-vos!” exclamou Miang entusiasmado, “não para a
figura repugnante no templo, confeccionada por homens!”
“Foi Ele que te fez tão forte assim?”
queriam saber os homens, aos quais Ma-tschi tinha contado sua vivência no
templo.
“Sim!”
confessou Miang. “Somente Dele recebi a força e também vós a podeis receber, se
a Ele pedirdes.”
Miang
encontrou um solo já preparado nos corações desses homens. Somente faltara
ainda a mão do semeador, que deitasse as sementes douradas no solo. A semeadura
logo brotou e cresceu. Foi um trabalhar e atuar alegre para Miang, mas não
devia ficar assim por muito tempo. Pois devido ao seu esclarecimento contraiu a
inimizade dos sacerdotes, que temiam perder sua influência sobre as pessoas.
Ma-tschi e seus amigos pertenciam aos mais ilustres habitantes da cidade, e
eles não guardaram segredo sobre aquilo que vivenciavam. Dessa forma propagou-se rapidamente a notícia do grande
sábio e sempre mais pessoas afluíam para ele. Como que acordando de um
pesadelo, assim se sentiam as pessoas, quando Miang anunciava Deus. Bem no
fundo essas almas ainda não enrijecidas traziam uma saudade, não, um saber do
Ser altíssimo, que era o Senhor de todos eles. Um profundo alívio foi sentido
por esses seres humanos e os seus templos sombrios, com as horríveis imagens de
ídolos, não os atraíam mais. Esvaziavam-se e os sacerdotes espumavam de raiva.
Eles
deliberaram entre si e chegaram à conclusão de que Miang devia ser eliminado,
como perigo para a fé e pelo seu poder sobre as pessoas.
Trecho extraído do livro: Miang
Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o
Tibete das trevas.
NARRATIVAS
DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA)
No
próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:
O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus
aos Gigantes – 23/09/16
O
Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... –
07/10/16
Servir o Altíssimo Como
Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas –
20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho
– 26/10/16
No Momento certo se
esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação
Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir –
17/11/16
Quem Procura Encontra –
24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo –
01/12/16
Servir Com Sensação de
Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia –
15/12/16
Outro Caminho a Seguir –
22/12/16
Por Confiança no Senhor –
28/12/16
Do Tirano ao Paciente –
04/01/17
Superar Desafios de
Salvamento – 11/01/17
Um Auxílio Redentor – 18/01/17