Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas IV
Sobre a vida dos Celtas – V
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Então
havia chegado a época da lua cheia. A festa deveria ser celebrada. E por
ocasião dela as mulheres e moças deveriam permanecer distantes, apenas os
homens é que podiam orar juntos ao Pai Eterno.
— “Da próxima vez nós também estaremos lá”
prometeu Meinin sorrindo e Seabhac também acreditava nisso.
De todas as redondezas da tribo afluíam
homens para o grande local rodeado com pedras. Eles estavam curiosos a respeito
da festa, pois se não havia prisioneiros, como seriam então realizados os
sacrifícios?
Seabhac caminhou calmamente conforme era seu costume para um
local de pedra mais elevado, na orla mais extrema e de onde todos os homens
reunidos podiam avistá-lo. Exatamente no momento que ele quis se sentar sobre
uma poltrona de pedra bruta coberta por uma espessa e branca pele de lobo, Nuado aproximou-se dele.
— “Ouça, Habicht” dirigiu ele a Seabhac
a palavra, com uma voz que não era possível ser percebida por ouvidos humanos,
mas que, porém, soava alta e nítida ao soberano: ❝nesta festa tu deverás me
emprestar teus lábios, pois o Pai Eterno quer que a festa e a adoração sejam
realizadas de forma diferente do que até então. Padraic esforçou-se de fato por nos compreender, mas apenas por
egoísmo. Ele não pode suportar que outro possa receber ordens do Pai Eterno.
Ele acha que pode obrigar essa graça para si.
Reúna tua alma em oração e deixe todo o
pensar e querer próprio totalmente de lado. Apenas assim eu posso atuar através
de ti. A bênção do Pai Eterno estará contigo se tu mesmo renunciares a ti
próprio.❞
Seabhac tomou seu lugar e Nuado
permaneceu ao seu lado. Muita força afluía dele para o ser humano que fielmente
procurava se aprofundar numa íntima oração, conforme a ordem recebida. Ele não
sabia como tinha de fazer para se desligar, mas inconscientemente ele começou
corretamente.
Ele agradecia ao Pai Eterno pela elevada graça que lhe fora dada; ele louvava o dirigente de todos os mundos e, através disso, ele se esqueceu de si.
Ele agradecia ao Pai Eterno pela elevada graça que lhe fora dada; ele louvava o dirigente de todos os mundos e, através disso, ele se esqueceu de si.
Batidas de gongo anunciavam o início da
festa. Os gongos tinham diversos tamanhos e eram feitos de toda espécie de
metais, de modo que cada um dava outro som. Era trabalho dos alunos dos
sacerdotes fazer com que esses gongos soassem, fazendo com que estes se
harmonizassem. Batidas curtas e longas, bem como a força empregada nelas colaboravam
para evitar um som único. Lentamente os jovens que batiam nos gongos caminharam
vestidos em longas vestes brancas para junto do aglomerado de pessoas, tomando
lugar dentro do círculo dos homens em devoção que estavam lado a lado e que
rodeavam o local e a pedra de sacrifícios.
Atrás deles caminhavam os druidas e em seu
meio Padraic, o superior deles. Eles aproximaram-se da pedra de sacrifícios.
Este era o sinal que cada ruído deveria desaparecer. No mesmo instante eles
ergueram os braços e as mãos. As mangas compridas de suas vestes azuis estavam
presas aos punhos. Com isso elas não caíam para trás, mas despertavam a
impressão de um grande vibrar azul.
A oração inicialmente muda converteu-se, de
repente, em palavras, que os sacerdotes falavam a todos de forma bem medida.
Isso soava indescritivelmente solene e jamais deixava de impressionar os
devotos, cujas almas eram arrastadas junto. Hoje, porém, a curiosidade era tão
grande que muitos pensamentos se desviavam e roubavam a devoção da oração.
A oração soava sempre iniciando três vezes
com a frase “Pai Eterno, ouça-nos!”.
Com isso os sacerdotes afastavam-se um pouco, formando também, por sua vez, um círculo em torno da pedra de sacrifícios, à qual Padraic se encontrava ainda unicamente sozinho.
Então, ele começou a falar.
Ninguém notou quão difícil isso se lhe tornara, pois apesar de ter lutado e suplicado dia e noite, seus pedidos não haviam sido ouvidos, não lhe havia sido dado receber a menor ordem.
Vazio encontrava-se ele diante dos homens, os quais esperavam tudo dele, e ele tinha de manter a aparência. Não lhe era uma questão de honra, mas muito mais uma necessidade de vida, valer algo perante as pessoas.
Com isso os sacerdotes afastavam-se um pouco, formando também, por sua vez, um círculo em torno da pedra de sacrifícios, à qual Padraic se encontrava ainda unicamente sozinho.
Então, ele começou a falar.
Ninguém notou quão difícil isso se lhe tornara, pois apesar de ter lutado e suplicado dia e noite, seus pedidos não haviam sido ouvidos, não lhe havia sido dado receber a menor ordem.
Vazio encontrava-se ele diante dos homens, os quais esperavam tudo dele, e ele tinha de manter a aparência. Não lhe era uma questão de honra, mas muito mais uma necessidade de vida, valer algo perante as pessoas.
— “Ouvi-me, vós homens de nossa tribo” disse
ele com as palavras que ele sempre utilizava.
Agora tinha de vir o novo.
Como deveria ele formar isso, ele não sabia.
Corajosamente ele prosseguiu:
Como deveria ele formar isso, ele não sabia.
Corajosamente ele prosseguiu:
— “O Pai Eterno falou a nós, seres humanos,
Ele nos comunicou Suas ordens. Desde há longos tempos os filhos dos Celtas
realizavam sacrifícios para a honra do Pai Eterno a fim de descobrir Sua
vontade. Eles se transformaram de crianças em homens. O Pai Eterno inclina-se a
eles e os honra, ao comunicar-se com eles por meio dos mensageiros luminosos.
De forma diferente realizar-se-ão, então, as festas.”
Padraic calou-se.
Ele não sabia mais o que dizer.
Então seu olhar caiu sobre Seabhac, o qual havia se erguido de seu acento.
O que o teria estimulado para falar rapidamente, vendo que Seabhac queria dizer algo, fez com que se calasse completamente. Ele sabia que o Pai Eterno preferia o príncipe aos druidas.
Mais poderosa se tornou essa consciência, do que sua própria vontade.
Ele indicou com as mãos trêmulas e exclamou: “Ouçam-no!”
Depois disso ele retrocedeu para junto do
círculo dos druidas. O lugar junto a pedra de sacrifícios estava vazia. Os
homens voltaram-se todos em direção ao acento do príncipe, sobre o qual Seabhac se encontrava.
Um vento suave fez com que seus cabelos balançassem, de modo que a cabeça ficasse como que emoldurada por um brilho avermelhado.
As mãos, o príncipe as havia colocado uma à outra.
Então ele começou a falar e a sua voz soava a todos eles de forma nova e desconhecida, apesar de já terem ouvido muitas vezes Seabhac falar.
Um vento suave fez com que seus cabelos balançassem, de modo que a cabeça ficasse como que emoldurada por um brilho avermelhado.
As mãos, o príncipe as havia colocado uma à outra.
Então ele começou a falar e a sua voz soava a todos eles de forma nova e desconhecida, apesar de já terem ouvido muitas vezes Seabhac falar.
— “Servos do Pai Eterno, eu vos saúdo! Vós
sois servos do dirigente dos mundos, servos sobre a Terra, assim como os
luminosos nos céus. Vós deveis aprender dos servos luminosos a adorar em
verdade ao Pai Eterno. Deixai o vosso modo humano de lado e aprofundai-vos
naquilo que vos será anunciado.
Elevado é o Pai Eterno sobre todo o saber e
a compreensão humana. A ele não agrada o sacrifício de criaturas, quer sejam
pessoas ou animais. Se quiserdes realizar sacrifícios, então trazei a vós
mesmos para esse ato. Renunciai a vós no servir ao Pai Eterno.
Colocai vossa vontade própria, vossa raiva
incontida, vossa cobiça por honra, bens e poder sobre a pedra de sacrifícios.
Deixai que essas coisas sejam consumidas nas chamas do fogo de sacrifícios, o
qual arde dos recipientes para cima.
Tornai-vos seres humanos melhores por ocasião
de cada festa, vós que vos reunis aqui.”
Seabhac calou-se. Ele não estava consciente disso. Nele vibravam
os sons das palavras de Nuado, que haviam fluído através dele. Os homens,
porém, consideraram o silêncio como um estímulo para que falassem o que eles
pensavam. Por alguns momentos eles entreolharam-se como se quisessem decidir
quem deveria começar. Então Goll, um dos mais velhos de todos, adiantou-se um
passo e disse:
— “De fato tu, príncipe Seabhac, anuncias algo novo, mas nós nos alegramos sobre isso.
Cruéis foram os sacrifícios, horrível o atuar dos druidas. Mal podia pensar
nisso um de nós sem sentir horror. Tu tens razão: Nós apenas assistíamos e não
fazíamos nada, a fim de honrar ao Pai Eterno. De hoje em diante isso deve se
tornar diferente. Eu sou velho e jamais poderei me tornar novo, mas para me
tornar melhor ainda não é tarde demais. Eu deposito sobre a pedra de sacrifício
o orgulho de meus antepassados. Que a chama queira consumi-lo, para que este
nunca mais se aposse de minha alma.”
Então Nuado
exclamou através da boca de Seabhac:
“O Pai Eterno ouviu tua promessa, Goll. Ele aceita o teu sacrifício. Ele irá te
trazer bênçãos!”
Indescritivelmente solene soaram as
palavras, que penetrou dentro do coração de todos. Mesmo Padraic não pôde se fechar à elas.
Então também Cairn, um dos mais jovens,
ousou falar: “Eu não penso para falar e agir. Pai Eterno eu coloco minha
própria vontade sobre a pedra de sacrifícios para que as chamas as façam
desaparecer no ar. Mas eu tenho tanto disto! É possível que eu não seja capaz
de exterminar com tudo isso através de minha própria vontade. Envia-me auxílio,
pois estou seriamente resolvido à isso!”
E novamente Nuado falou: “Tu pedes com o coração verdadeiro por auxílio. O
auxílio te será dado. O Pai Eterno considera o teu sacrifício e o aceita!”
Mais alguns se adiantaram com receio ou com
coragem, conforme era de sua espécie.
(continua)
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Muirne: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade
a quem o bebesse.
Brigit: é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das
artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que
envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa,
a médica e a ferreira.