Martin Luther
por Herbert Vollmann
“Se eu não
estivesse convicto, pela testemunha da Bíblia sagrada ou por nítidas razões do
raciocínio permaneceria vencido pelas passagens mencionadas por mim das
escrituras. Minha consciência permanece presa na palavra de Deus, e eu não
posso nem quero revogar, sendo que é penoso, não é bom e é perigoso, agir
contra a consciência. Que Deus me ajude, Amem!”
Esta resposta foi dada por
Martin Luther na Assembléia de Worms, na presença do imperador Carlos V e todos
os grandes do reino ali reunidos, em 18 de abril de 1521, quando foi intimado a
revogar as suas escritas. O imperador pronunciou uma contra declaração dizendo
entre outras: “Assim estou decidido de assegurar firmemente tudo que foi
alcançado desde o concílio de Konstanz. Porque é certo que um único monge se engana, quando está contrário a opinião de
toda a cristandade, caso contrario a
cristandade teria se enganado durante mil anos ou mais”.
Luther obteve
apos a justificação diante da assembléia de Worms, o prometido livre
acompanhamento, mas sua vida terrena estava consumida. Ele foi proscrito do
império e proclamado, que qualquer um poderia matá-lo corno a um cão raivoso,
onde quer que o encontrassem, com outras palavras, ele era um fora da lei. O
príncipe Friedrich von Sachsen mandou simular a prisão do banido e proscrito na
sua viagem de retorno, e ordenou, que o levassem para o seguro castelo “Wartburg”.
Assim, Luther foi preservado da morte, por uma determinação superior, e ao
mesmo tempo viu‑se obrigado a se dedicar a uma tarefa, devido aos
acontecimentos, cuja realização ainda esperava por ele: a formação de uma nova
língua alemã.
No Castelo de Wartburg,
Luther chamava este refúgio de seu, Patmos ‑ ele podia, no silencio e solidão,
desenvolver plenamente o seu trabalho linguístico, e o seu empenho na tradução
da Bíblia de torna‑la compreensível a todos, foi-lhe uma ajuda certa. Pois
naquela época, havia ainda grandes diferenças entre os diversos dialetos. Com
isto o entendimento era muito dificultado, principalmente na língua falada. Em
seus discursos de mesa Luther opinou pessoalmente sobre isto dizendo: “Na
língua alemã existem muitos dialetos, modos diferentes de falar, de maneira
que, muitas vezes, um não entende bem o outro, assim como, os Bávaros não
entendem bem os Saxões, especialmente aqueles que não haviam viajado.”
Também a língua
tem suas leis de desenvolvimento. Dialetos deveriam ser apenas degraus no
caminho do aperfeiçoamento de uma língua, onde não se deve parar. Portanto,
havia chegado o tempo de formar dos dialetos alemães a base para uma língua
alemã uniforme. Esta era a missão para a qual Luther havia sido convocado. A
zona linguística em que ele vivia, oferecia-lhe condições favoráveis ao seu
trabalho para o qual ele colocou como base a linguagem da chancelaria da
Saxônia. e aquela de Meissen.. Além do mais se esforçava na reformulação da
língua usando a maneira mais simples e popular possível. Isto lhe era
facilitado pela sua convivência com muitas camadas da população, podendo
observar também os hábitos de falar dos homens simples.
O quanto Luther
e seus colaboradores eram conscienciosos quanto a expressão linguística, nota-se
pelas suas palavras: “Eu me esforcei na tradução para oferecer um alemão puro e
nítido. E muitas vezes nos ocorreu de procurarmos e perguntarmos por uma única
palavra durante 15 dias, três a quatro semanas, sem as vezes conseguirmos encontrá-la”...
Uma comparação da primeira
tradução da Bíblia em 1522 com as seguintes edições nos indica nitidamente o incansável
atuar de Luther na formação da língua, que obteve mais tarde também influência
sobre a união nacional.
A última edição revisada por
Luther foi publicada em 1545.
Nesta edição de ultima mão,
ele anotou como um legado para os alemães, as palavras:
“Credes na
Luz, enquanto a tendes, a fim de serdes filhos da Luz”.
(João 12, 36).
A nova língua alemã, criada
por Luther, foi propagada em quase todas as terras alemãs, principalmente pela
tradução de sua Bíblia. Foi um memorável acontecimento, quando em setembro de
1522 foi publicado em Wittenberg o seu “Novo Testamento Alemão”, que ele havia
traduzido em poucos meses no Castelo de Wartburg. Em menos de 3 meses, após a
primeira, foi publicada a segunda edição melhorada linguisticamente. Por uma
feliz coincidência, a arte de imprimir livros havia sido inventada há algumas
dezenas de anos, e já havia sido consideravelmente melhorada até a tradução da
Bíblia de Luther que se propagou com surpreendente rapidez nas terras alemãs.
Martin Luther
influenciou decisivamente o desenvolvimento da língua alemã. Ele formou das
existentes pedras fundamentais linguísticas, que ele lavrava e polia, e as
quais acrescentavam outras, uma base para uma unificada e elevada língua alemã,
com a qual futuros convocados poderiam continuar atuando. Assim formou-se uma
língua predestinada para grandes obras.
UMA NOVA
REFORMA?
Numa época em que, em terras
alemãs, se lutava por novos conhecimentos espirituais, Martin Luther apelou à
consciência de seus contemporâneos novamente para o evangelho de Cristo, de que
o homem poderia encontrar o caminho ao reino de Deus, sem a igreja; Ele exigia
a abolição de intermediários humanos entre Deus e os que procuravam por Deus.
Com isto, ele indicou, a
seus próximos, o caminho que haviam perdido para a liberdade espiritual, que
teria sido capaz de mudar o destino do povo alemão para o bem. Mas muitos não
seguiram o caminho indicado e disputas, brigas, separações, divergências e
mesmo guerras religiosas foram as tristes consequências deste clamor de alerta
espiritual. Os homens cristãos se esqueceram rapidamente da liberdade de sua
consciência, aprisionando seu espírito pela rigidez de raciocínio. A
penosamente alcançada liberdade foi comprimida em letras, doutrinas e fórmulas
de tal modo, que Lessing, duzentos anos mais tarde, escrevia:
“Luther!
Grande homem incompreendido. Livraste-nos do jugo da tradição: quem nos livra
do insuportável jugo da letra! Quem nos traz finalmente um cristianismo, assim
como o próprio Cristo nos ensinaria!”
Hoje o aprisionamento do
espírito, seu acorrentamento à matéria é tão grande, que a libertação, sem o
auxilio de Deus, não é mais possível. A decadência da humanidade progrediu
tanto, que as palavras transcendentes pronunciadas antes do dilúvio poderiam
ser repetidas:
“Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem
sobre a Terra, e isso pesou-lhe em Seu coração” (Gênesis 6, 6).
A procura por Deus tornou-se uma procura onde
prevalece o raciocínio, o qual deveria ser apenas um instrumento para o que é
transitório, mas que foi colocado pela livre vontade dos homens no trono do
espírito.
Refere-se ao terrível animal do Apocalipse (13, 1), que João viu elevar-se do mar da matéria. Se hoje é discutida uma nova reforma, uma reforma do século 20, então se dever ia primeiramente falar de uma renovação do espírito eterno, isto é, do interior do homem: Ele tem que se livrar das algemas do transitório, para que também, a intuição e a consciência se livrem novamente do domínio do raciocínio. Agora não se trata de fixar novas doutrinas, que conforme o sistema metódico alemão servirão para novos desdobramentos e conflitos. Hoje em uma época de enormes transformações em todos os setores da vida, trata-se, como jamais em tempo algum, na história da humanidade, da existência ou exterminação da mesma.
A luta do século 20 é
determinada pela saudade da verdade, de toda a verdade do ser humano nesta
criação, com a finalidade de um verdadeiro reconhecimento de Deus. É por isto
que esta luta está acima das confissões.
Somente pela
humildade é que o espírito humano, nesta dura luta, poderá encontrar um Deus
misericordioso!
Por último,
adveio por Lutero (no Pai Nosso)
a confissão
jubilosa do conhecimento do auxílio
para tudo
aquilo que o colóquio encerra,
do recebimento
da força para o cumprimento daquilo
que a alma
prometeu ao seu Deus.
E o
cumprimento tem de levar então a alma
ao Reino de
Deus, ao país da alegria eterna e da Luz!
(Dissertação: Pai Nosso).