Sobre a vida dos Celtas –XXVII
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XXVI
Anteriormente: Durante a noite, uma figura luminosa apareceu para Etelbert, com a mensagem: ❝O
inimigo se encontra do outro lado do muro. Em alguns dias ele terá tudo
preparado para atravessá-lo e atacar a vós, julgando-vos despreparados. Vossas
vidas, vós tereis que entregar. É da vontade do Pai Eterno que vós abandoneis
esta Terra. Ele tem outro trabalho para vós. Ide corajosa e alegremente ao
encontro disso, vós povo de Seabhac. ❞
— “Algo grandioso eu pude ver hoje a noite”
começou ele finalmente. Um mensageiro luminoso veio até mim quando eu estava
orando, ajoelhado junto ao meu leito e depositando aos pés do Pai Eterno o
desejo de nosso povo. O luminoso tomou-me pela mão e conduziu-me pairando bem
para o alto a um jardim grande e suntuoso, assim me parecia. Seres
bem-aventurados se encontravam lá, muito ativos.
— “Olhe ao redor de ti, sacerdote” disse o
luminoso todas essas eram pessoas que haviam pedido poder servir ao Filho de
Deus. Muitas delas terão de descer antes mais uma vez e talvez mais outra ainda
para a Terra antes que estejam de tal forma preparadas para encontrar a
realização de seu anseio. Mas já agora elas são bem-aventuradas no saber de que
um dia poderão servir.
Entre esses seres será o vosso lugar, povo
de Seabhac, quando o príncipe Etelbert receber a ordem do Pai Eterno,
que lhe será dada hoje à noite...
— “Eu a recebi, nós a seguiremos!” exclamou Etelbert quase fora de si. “Por nenhum
momento nos viria à mente refletir. Nós faremos o que o Pai Eterno deseja.
Todos, todos irão entregar alegremente suas vidas, já que é da vontade do Pai
Eterno.”
Comovido, Dunstan olhava para o entusiasmado.
— “Se isso é assim, então eu posso anunciar
adiante, meu amigo” disse ele. “O luminoso havia prometido que todos nós
poderemos viver entre esses seres bem-aventurados por causa de nosso anseio. Eu
imaginei: o que poderíamos desejar de melhor? Mas eu não disse isso por
palavras, pois o luminoso prosseguia: “Se Etelbert
tiver tornado sua a vontade do Pai Eterno, então o povo de Seabhac irá tombar um dia. Ele abandonará junto esta Terra, a fim
de adentrar junto o reino luminoso do Pai Eterno. Lá eles poderão esperar num
alegre trabalhar a época em que novamente o Filho de Deus irá pisar sobre a
Terra. Então, o Pai Eterno os enviará à Terra, para que eles O sirvam em pureza
e cheios de boa vontade. Ele poderá confiar neles, pois eles foram fiéis, sem ter
estado presente. Então eles poderão ver e sua fidelidade irá resplandecer sobre
a Terra. Ele, o eterno Filho de Deus os encontrará entre todas as pessoas e o
povo de Seabhac poderá se alegrar.
Dunstan silenciou, mergulhado em reflexões,
mas Etelbert não se conteve por
longo tempo.
— “Tu disseste, o Filho de Deus irá vir?
Quando Ele irá vir? Ele poderá trazer mais uma vez a Luz ao mundo? Nós
poderemos auxiliá-Lo ou seremos sua proteção terrena, que o rodeia para que as
mãos sujas do mundo não possam atingir o Puro?”
— “Tu perguntas muito, amigo Etelbert” respondeu Dunstan seriamente. “Eu não sei a
resposta para tudo isso. O que nós viremos a ser quando nossos pés tocarem
novamente a Terra, isto está oculto ao meu olhar. Isto também é indiferente se
apenas nos for permitido servir.
Mas eu pude vê-Lo, Aquele que irá vir em
pompa e magnificência, para imperar sobre a Terra, para julgar tudo o que é
vivo e tudo que fora. Ele se encontra sentado sobre um trono de ouro. Luminoso
é Ele e a irradiação de Seus olhos penetra tudo e outorga força ao mesmo tempo.
Seu nome é mais sagrado do que tudo. Ninguém tem permissão para dizê-lo. Ele é
Aquele que foi anunciado por todos os videntes. Ele irá vir e nós poderemos vir
com Ele, para servi-Lo, nós povo bem-aventurado de Seabhac!”
— “Nós queremos falar ao povo sobre isso”
propôs o príncipe. “Eu sei, eles entregarão alegremente sua vida, já que é da
vontade do Pai Eterno. Mas eles ficarão extremamente felizes quando souberem
que recompensa lhes aguarda.”
Dunstan concordou e eles reuniram o povo na casa de Deus.
Admirado, o povo seguiu o chamado. Jamais havia ainda acontecido que a casa de
Deus fosse aberta em hora tão pouco comum.
Contudo, apenas os homens haviam sido convidados.
Também isso ainda nunca havia acontecido. Cheios de expectativa todos os olhos
estavam dirigidos para Etelbert, que
numa tranquila dignidade dirigiu-se ao altar.
De forma simples, e por isso atingindo
plenamente os corações, ele relatou sobre a ordem do Pai Eterno que lhe fora
transmitida nesta noite. Como ele havia esperado, exclamações a favor seguiam
suas palavras. Entusiasmados, os homens concordavam com isso. Mas para agir de
forma bem segura o príncipe pediu àqueles que fossem de vontade diferente, para
darem calmamente isso a conhecer, deixando a casa de Deus. Impetuosamente eles
disseram-lhe que nenhum queria ficar para trás, quando o Pai Eterno chamar.
Depois disso, Dunstan dirigiu-se ao altar e relatou a sua visão. Então os homens
emudeceram comovidos interiormente. Sobre algumas faces corriam lágrimas de
profunda comoção. Então eles ajoelharam-se, seguindo o exemplo de seu príncipe
e ergueram as mãos ao Pai Eterno, agradecendo-Lhe pela graça não merecida. “Que
venham os inimigos” exclamou de repente um senhor de idade com cabelos brancos
“e mesmo que eles nos despedacem. Nós rejubilaremos e vibraremos de
felicidade.” Guiados por Etelbert e Dunstan eles saíram para o local livre,
e fora resolvido que eles partiriam de manhã ao alvorecer para nunca mais
voltarem.
— “Que devemos dizer às nossas esposas?”
perguntou um dos homens
— “Nada” exclamaram os outros. “Elas apenas
nos amoleceriam os corações com despedidas e lágrimas. Nós iremos como sempre.
O resto fica nas mãos do Pai Eterno.”
— “Nós queremos dizer à sacerdotisa o que
nós ficamos sabendo. Se não voltarmos, então ela deve comunicar isso às nossas
esposas, contudo, não antes. Então nossas esposas encontrar-se-ão fortes e suas
dores serão dominadas pela alegria de saber que nós nos encontramos no plano
luminoso” propôs Etelbert.
Assim aconteceu. No alvorecer da manhã
seguinte o grupo bem preparado partiu, de forma tão bem-aventurada como se eles
fossem ao encontro de uma festa. Eles chegaram na hora certa. Exatamente na
hora em que a outra tribo se preparava para expulsar os inimigos, chegou o
desejado auxílio.
Dura foi a luta, dura e sangrenta. Mas Roma
não se tornava senhor. Tanto quanto as legiões romanas se precipitavam, da
mesma forma elas eram rechaçadas. Não havia nenhum passo adiante para eles. Por
fim eles se precipitaram numa fuga selvagem dali.
As tribos Celtas deveriam se reunir da
maneira habitual. Então se mostrou que o povo de Seabhac, que havia lutado numa imensa valentia nas fileiras da
frente, havia perdido todos os homens, não restando um sequer. Todos se
encontravam mortos. Mas cada rosto individual estava clarificado por imensa
felicidade, de modo que os amigos não conseguiam nem se lamentar.
— “Eles partiram com prazer pelo nosso país”
disse o príncipe da tribo que sobrevivera. “Nós, porém, queremos lhes agradecer
cuidando de suas esposas e de seus filhos. Nós queremos administrar o reino
deles para os seus filhos.” E isso estava certo assim para todos.
Na manhã seguinte a vidente chamou as
mulheres do povo de Seabhac na casa
de Deus. O que haveria ela para anunciar? Elas vieram apressadamente e
perguntaram:
— “Anuncias tu, nossa vitória?”
A sacerdotisa superior confirmou com a face
séria e, contudo, irradiante. Depois ela disse:
— “Vós, mulheres do povo de Seabhac, posso vos anunciar hoje três
visões. Vós sois pássaros selvagens acostumados às agruras, assim eu sei que
vos posso falar a verdade sem esperar que vós vos torneis fracas.”
E ela relatou da mensagem que Etelbert havia recebido. Aí soou daqui
e dali: “Está certo que nossos homens tenham seguido o chamado do Pai Eterno.”
“Eles não pertenceriam ao povo de Seabhac
se tivessem agido diferentemente.”
Uma única e diminuta voz soluçava: “Então
nenhum deles retornará novamente?”
Mas ela se aquietara rapidamente. Onde o Pai
Eterno chamava ninguém deveria pensar em si e em sua felicidade.
Depois a sacerdotisa anunciou a respeito da
visão de Dunstan, que apesar de ser
druida lutou junto e morreu junto.
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin
Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Golin
– salvo de naufrágio no reino de Seabhac,
Habicht, vindo da longínqua Gálea; era construtor.