Sobre a vida dos Celtas –XXI
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XX
Anteriormente: Fionn decidiu tomar o rumo de sua missão na
vida, indo acompanhado de seu inseparável amigo Golin, o construtor da casa de
Deus, numa embarcação levando sua enorme comitiva para uma aventura de
desbravamento sem volta, com o propósito de difundir na Terra a crença no Pai
Eterno de todos os mundos...
Depois
da partida de Fionn tornou-se
silencioso em redor de Seabhac. O
construtor sempre vivaz também havia partido com ele e todos os outros que
tinham suas próprias tarefas. Ele próprio ia durante o dia geralmente de um ao
outro, especialmente quando ingressou no palácio o esperado herdeiro, que
chamaram de Erik. O menino era-lhe
uma grande alegria. Muitas vezes ele o tomava nos braços e contava-lhe à meia
voz, que provavelmente ele vivenciaria o nascimento do Filho de Deus, ao qual o
avô até agora havia esperado em vão. À noite ele conversava com Nuado, que também lhe trazia notícias
de Fionn e de sua difícil viagem.
“Se eu ainda fosse mais jovem eu também me colocaria a viajar” esclareceu Seabhac. “Queres uma hora me acompanhar?”
perguntou Nuado sorrindo.
Seabhac estava alegremente preparado. Seria
isso possível? Poderia ele ir com Nuado,
o luminoso? Nuado tomou sua mão direita.
— “Príncipe Seabhac, tu servistes fielmente ao Pai Eterno. Nem uma única vez em
tua longa vida tu te desviastes do caminho de Seus mandamentos. Eu posso te
guiar aos jardins sagrados, onde tua alma pode repousar do peregrinar e atuar
terrenos, e onde então tu poderás continuar a servir por toda a eternidade.”
Sorrindo o espírito de Seabhac seguiu o guia. O corpo que tinha de ficar para trás não
sentiu nenhuma dor. Tranqüilo ele se encontrava sobre peles onde os servos o
encontraram deitado na manhã seguinte.
Anos
passaram-se então, muitos anos. Os três irmãos não ouviram nada mais sobre Fionn. Eles, porém, não se entristeciam
a respeito dele. Eles sabiam que este estaria bem protegido sob a guarda do Pai
Eterno, a cujo serviço ele se encontrava aqui sobre a Terra ou lá em cima nos
reinos luminosos. Todos eles haviam envelhecido; a vida lhes havia trazido algo
de difícil, mas a felicidade havia sido maior. Príncipe Cuimin e princesa Ysot
agradeciam todos os dias ao Pai Eterno pelos seis belos e magníficos filhos que
Ele lhes confiara. Eles já haviam se desenvolvido, tornando-se homens, cada um
havia encontrado um trabalho, que lhe satisfazia plenamente. Erik, o mais velho era o auxílio do pai,
e o seu sucessor.
Brigit ainda ocupava seu cargo, mas também já havia instruído
uma sucessora, pois sabia que logo poderia seguir a mãe.
Era novamente a época da festa do solstício
de inverno. Todo o povo havia se reunido na casa de Deus a fim de festejarem a
devoção da maneira usual. Maravilhosas haviam soado as novas canções para
louvor do esperado Filho de Deus. Quando Pieder
quis dirigir-se ao altar, a fim de falar para os que estavam reunidos, Brigit adiantou-se a ele. Isto nunca
havia ainda acontecido. Um olhar no rosto da irmã, porém, mostrou a ele que ali
se passava algo que estava na vontade do Pai Eterno.
Branca como a neve, mas incandescida por um
brilho interior, eram os traços da vidente. Ela mal se encontrava no altar e já
erguia sua mão direita em louvor:
— “Criaturas humanas! Vós vedes a estrela?
Uma nova estrela surgiu no firmamento do céu. Grande e irradiante é ela. Ela é
mensageira e serva de Deus. Vede-a! Caí de joelhos e adorai!”
Profundamente comovidos eles olharam para
cima. Depois de uma pausa ela prosseguiu: “Anjos cantam por sobre todos os
mundos. Eles têm algo grande para anunciar. O Filho de Deus nasceu. Assim,
aquilo que é inapreensível tornou-se verdade. Como uma pequena criança terrena
Ele se encontra no colo de Sua mãe terrena. Incompreensível amor do Pai Eterno!
Venerai-O, criaturas humanas, pois não sois capazes de compreendê-Lo. Terá de
vos permanecer sempre um milagre. Mas esse milagre aconteceu por vossa causa,
para que a Luz de todos os céus perpassasse a escuridão da Terra, para que
pudésseis encontrar o caminho que conduz para cima às alturas luminosas.”
Novamente silêncio. Então a vidente falou
com voz totalmente modificada: “Oh, Tu gracioso, maravilhoso Filho de Deus! O
mais puro amor e a maior misericórdia se unificam em Ti. Tu Te sacrificas por
nós. Nós Te agradecemos com todo o fervor de que somos capazes. Nós louvamos
para que sejamos dignos de vivenciar tal coisa.
Eu vejo-Te, Jesus, Filho do Pai Eterno,
graciosamente Tu sorris. Oh, nós, bem-aventurados seres humanos! Nós,
bem-aventuradas criaturas humanas!”
Brigit estendeu os braços para cima enquanto falava as últimas
palavras. Depois retirou-se calmamente para junto das moças e entregou seu
espírito à luminosa Brigit, deusa
enteal que havia vindo para buscá-la.
Como sua mãe, no momento da mais elevada
visão, da maior felicidade interior, ela pudera partir. Seu falecimento
entreteceu-se para o povo de forma misteriosa na maravilhosa notícia do
nascimento terreno do Filho de Deus. Na abundância da bênção, que com esse
saber irrompeu por sobre as pessoas, já há longo tempo preparadas, por isso não
sobreveio nenhuma tristeza pela morte de Brigit.
Ninguém se admirou quando a moça que fora
destinada para ser a sucessora, anunciou como que numa espécie de êxtase:
— “Brigit ansiou de forma tão forte pelo
Filho de Deus, que no momento em que, ela tomou conhecimento de Seu nascimento,
sua alma partiu para saudá-Lo.”
Eles consideraram isso muito bem possível e
sepultaram o corpo puro com veneração. Gwenn,
a nova vidente, assumiu a direção da escola das moças e também dos outros
deveres de Brigit. Apenas o canto e
as poesias não lhe foram presenteadas. Fielmente ela continuou a cuidar das
canções que viviam junto do povo, coisas novas ela não podia acrescentar.
(continua)
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin
Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Golin
– salvo de naufrágio no reino de Seabhac,
Habicht, vindo da longínqua Gálea; era construtor.