Sobre a vida dos Celtas –XIX
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XVIII
Anteriormente: Cuimin cavalgou alguns dias para tentar encontrar sua
princesa escolhida, sabendo de passagem que nos últimos anos ela já havia se
casado, tendo, porém, conhecido no caminho outra moça como bom partido para casamento.
Seabhac
Habicht decidiu ajudar na situação, pois era conhecido
e influente nesse reino...
— “Eu conheço o jovem príncipe, assim como
conheci o antigo. Ele terá imediatamente confiança em mim. Então eu poderei
organizar tudo da melhor forma.”
Cuimin estava satisfeito com isso, especialmente quando Seabhac prometeu partir tão logo que
fosse possível, para que o casamento pudesse ser celebrado juntamente com a
inauguração da casa de Deus.
— “A casa do Filho de Deus deve ser
utilizada antes Dele próprio ingressar nela?” perguntou Cuimin admirado.
O pai lhe disse que era da vontade do Pai
Eterno que futuramente todas as devoções fossem celebradas nessa casa. Também
os matrimônios no futuro deveriam receber a bênção sacerdotal e, com isso, não
carecer mais também da bênção rogada ao Pai Eterno.
Antes que ele partisse o príncipe chamou Brigit. Ele perguntou a ela se ela não
gostaria de acompanhá-lo com algumas de suas mulheres.
— “A ti, minha filha, será dado reconhecer
Ysot” esclareceu ele o seu desejo. “Se sua pureza não puder persistir diante de
teus olhos, então Cuimin não deverá
aceitá-la. Além disso, dará uma boa impressão ao príncipe se ele ver em que
ambiente sua irmã irá morar.”
Ele havia receado ter de empregar muitos
argumentos, mas Brigit se dispôs
rapidamente a ir junto. Ela sabia que tanto para o país bem como para toda a
família dependia muito disso, da forma como fosse a nova princesa. Se ela
própria pudesse auxiliar a escolher, então a luminosa Brigit estaria ao seu lado.
À caminho, o pai contou à moça que escutava
atentamente como Brigit lhe havia
enviado Meinin à sua casa. Esse
tempo permanecia-lhe especialmente vivo e era-lhe uma necessidade falar a
respeito disso. Brigit era
exteriormente a imagem da mãe, ela só parecia ainda mais delicada e mais fina.
Essa cavalgada em conjunto, que durou vários
dias, aproximou pai e filha humanamente ainda mais. Até então, ambos, cada qual
aprofundado em sua missão, não havia atentado tanto um ao outro. Agora eles
viam quanto de belo e de valioso residia no outro, para o que até então, eles
não haviam tido olhos nem tempo.
Príncipe Cassivellech recebeu o salvador de seu pai com os braços abertos, a
respeito do qual ele já havia ouvido várias vezes e ainda se lembrava. Brigit deu-lhe uma profunda impressão, Ysot, porém, sentiu-se plenamente
atraída pela amável moça. Ela juntou-se à outra e apenas poucos dias bastaram
para que uma firme ligação envolvesse o coração de ambas.
— “Case-te com meu irmão e fique aqui” pediu
Ysot. “Eu não posso mais ficar sem
ti.”
— “Eu sou uma sacerdotisa do Pai Eterno”
respondeu Brigit suavemente. “Eu
jamais me casarei. Mas há mais outro jeito que pode nos auxiliar a ficar
juntas. Meu irmão Cuimin procura uma
princesa. Estenda-lhe tua mão.”
À mesma hora Seabhac havia conversado com o príncipe a respeito, e como Ysot concordara com alegria, ficara
resolvido o casamento. Cuimin
deveria vir a fim de buscar a noiva. A data para isso fora estabelecida e
também determinada a quantia do dote. Ali no sul não era mais costume, que um
homem que desposasse a moça devesse comprá-la do pai. Ali, além da noiva, ele
ainda recebia ricos tesouros para mantê-la.
Aguardado com impaciência por Cuimin, Seabhac chegou com seu acompanhamento
novamente à pátria, onde tudo logo fora preparado para o casamento que se
realizaria em breve. De repente um impelir e estimular tomou conta de Seabhac, de modo que nada pudesse ser
realizado de forma suficientemente rápida. Isso se originava da inconsciente
intuição de que seus dias terrenos estavam contados.
Brigit imaginava que a moradia paterna que se diferenciava tão
pouco das cabanas dos demais homens, não era suficientemente boa para Ysot, acostumada à pompa. Seabhac concordou. Brigit deveria, então, continuar morando com suas mulheres no lar
paterno e para Cuimin e sua esposa
deveria ser construído um palácio assim como os outros príncipes possuía.
Cuimin estava satisfeito, desde que a construção não
atrapalhasse a sua partida para buscar a noiva. Golin prometeu que a obra deveria começar imediatamente. Até o
retorno de Cuimin o palácio já o
estaria aguardando.
Uma ativa vida desenvolveu-se então. Todos
os homens saudáveis foram convocados para a construção do palácio, desde que
não precisassem acompanhar o jovem príncipe em sua viagem em busca da noiva. A
comitiva fora preparada e ornamentada da melhor forma. Os dotes da noiva foram
reunidos. E na casa de Deus os artesãos trabalhavam formando os adornos.
Ela parecia sagrada, aquela casa redonda que
repousava sobre as colunas. Brigit
achava que as colunas também poderiam ter sido redondas. Golin assegurou que ele jamais havia visto destas. Então ela deu-se
por satisfeita. O telhado que repousava sobre essas colunas era constituído
totalmente de madeira. Os arcos cortados ao meio arqueavam-se para cima. A
pedra de sacrifícios, chamada por Golin
de altar, era coberta pelo mais fino tecido branco, que a própria Brigit havia tecido. Sobre ele
encontrava-se um único recipiente, que não servia como incensório. O incenso
saía de outros receptáculos, que se encontravam divididos por todo o recinto
sobre colunas de meia altura.
Um muro baixo rodeava a casa de Deus,
distante mais ou menos dois metros dela. Ele deveria manter afastados animais
selvagens, já que o espaço entre as colunas até o chão permanecia aberto.
Estando há poucos dias tudo pronto,
cavaleiros mandados na dianteira anunciavam o retorno da comitiva principesca.
Eles não podiam relatar o suficiente a respeito de sua cavalgada, a respeito da
cidade estranha e da beleza da noiva do príncipe. Mas eles também haviam dado
uma boa impressão, era o que achavam. Sobretudo eles foram admirados pela
conduta rígida, pelo bom comportamento e por não incomodarem as mulheres.
Depois, logo mais atrás, chegaram Ysot com suas mulheres e Cuimin com dois de seus conselheiros de
maior confiança. Pomposo era de se ver o pequeno grupo, todos se alegravam por
avistá-los. O final da comitiva era composto por servos de ambos os noivos e os
cavaleiros.
Ysot mal podia esperar até poder abraçar Brigit, junto a quem ela deveria morar provisoriamente. Ela havia
confiado na nova irmã, no fato que o futuro marido lhe agradaria, sobretudo ele
era mais sério do que todos os homens que ela havia conhecido até então.
Tão logo os viajantes haviam descansado, Pieder determinou o dia da consagração
da casa de Deus, a qual fora realizada de forma digna e cheia de devoção. Ele
implorou a bênção do Pai Eterno para todos que entrassem na casa com uma crença
verdadeira e pediu para que a partir de então a força do Filho de Deus também fluísse
por esse ambiente. Diante do povo inteiro ele abençoou então o matrimônio do
casal de príncipes, o qual passou então a ocupar o novo palácio.
(continua)
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin
Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin