Sobre a vida dos Celtas –XVIII
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XVII
Anteriormente: vindo de um longínquo
país chamado Gálea, com a profissão de construtor, Golin era o nome do
homem salvo do naufrágio por Seabhac Habicht junto de seus filhos, tendo por essa e por
outras razões, sido escolhido para a sagrada obra em louvor ao filho do Pai
Eterno, cuja indicação aceitou de bom grado...
Era totalmente evidente que ele continuasse
sendo hóspede na casa de Seabhac.
Assim, uma noite, ele se encontrava sentado com os homens junto ao fogo, onde
eles conversavam a respeito dos acontecimentos do dia e, muito mais, de
preferência a respeito do Pai Eterno e dos deuses.
— “Eu jamais ouvi dizer que o Pai Eterno nos
guia” disse Golin uma noite, “e eu
teria zombado de qualquer um que quisesse dizer algo a respeito sobre isso.
Desde minha salvação isto se tornou uma vivência para mim. Agora eu também vejo
a direção em tudo o mais que forma minha vida.”
— “Tu te modificastes muito Golin” respondeu Seabhac reconhecendo. “Pode-se notar em todo teu ser, o qual é
perpassado agora pela vontade consciente de servir ao Pai Eterno.”
— “Isso eu devo a amizade de Fionn” respondeu Golin rapidamente, que viu chegar a desejada oportunidade. “Ele me
abriu os olhos através de incansáveis ensinamentos, me presenteando com aquilo
que unicamente torna a vida digna de ser vivida. Eu acredito que o Pai Eterno
lhe deu forças especiais para tanto.”
— “Isto deve estar correto” concordou o
príncipe. “Quando ele ainda era um menino foi-me transmitida a mensagem de
cima, que ele fora escolhido para levar o saber a respeito do Pai Eterno a
países distantes.”
Como se houvesse caído um raio entre eles,
ambos os amigos levantaram-se de um salto. Eles não conseguiram permanecer
sentados.
— “Príncipe” exclamou Golin, o mais vivaz, “tu conseguistes guardar esse saber por tanto
tempo contigo?”
— “Pai” interrompeu-o Fionn, “por que nunca me dissestes nada a respeito? Há anos eu me
consumo no desejo de servir ao Pai Eterno, exatamente dessa forma!”
— “Meu filho, eu estava esperando que
chegasse o tempo determinado pelo Pai Eterno” respondeu Seabhac com indescritível dignidade. “Tu deverias crescer em teu
trabalho através do anseio que se tornava cada vez mais forte. Tu deverias
realizar o início aqui no país para que tuas asas desabrochassem. Tu precisavas
vivenciar primeiramente o fato de Golin
ter chegado até nós, ganhando-o como amigo.”
— “O qual o será por toda a vida” disse
aquele profundamente comovido. “Quando Fionn
partir eu serei seu acompanhante.”
Então foram feitos planos. Fionn mal podia esperar que seu desejo
se tornasse realidade. Mas ele compreendeu que primeiramente a casa do Filho de Deus deveria estar de
pé e acabada, antes que eles pudessem partir. Isto fez com que ele participasse
novamente do trabalho e retirasse alguns encargos de Golin, para que ele tivesse tempo com coisas melhores. Era um
alegre trabalhar.
Os
druidas, sobretudo Pieder,
ofereciam-se para auxiliar e propunham sugestões para melhoria e embelezamento.
O fato destas, na maioria das vezes serem irrealizáveis, não atrapalhava. Eles
refletiam em outras. Golin deixava
que eles assim fizessem, pois o pequeno incômodo que lhe surgia através disso
era equilibrado de forma rica pela participação ativa que os sacerdotes tinham,
inflamando a vontade de trabalhar dos homens.
Todos possuíam ânimo alegre naqueles meses,
unicamente Cuimin parecia oprimido. Seabhac perguntou a Nuado se ele havia negligenciado algo
junto ao filho, o qual parecia o mais distante dos três. O luminoso disse: “É
um desenvolvimento natural para ele. Deixai-o assim. Ele ainda não sabe o que
quer. Na hora certa ele o encontrará e revelará então a ti.”
Algumas semanas mais tarde essa época
parecia haver chegado. Cuimin
ansiava falar com o pai e encontrava-se tão alegre nessa ocasião, que até sabia
que agora o motivo do descontentamento sairia à luz do dia.
— “Pai” começou o jovem príncipe “eu posso
agora reger ao teu lado irrestritamente como se eu já fosse o chefe de nossa tribo.
Eu sei que é muita bondade de tua parte se retrair por minha causa e me guiar
de forma tão sábia.”
Divertido Seabhac refletia que agora seguiria o pedido para também deixar de
lado tal forma sábia de guiar. Ele estava disposto a isso, entretanto o filho
tinha algo diferente em mente.
— “Quando tu deixares a Terra um dia – e uma
hora isso terá de acontecer também sem que o desejemos – então eu me tornarei
príncipe e, vai faltar-me uma princesa, como também um herdeiro.”
Agora estava dito o que oprimia tanto o
filho.
— “Então case-te Cuimin, eu saldarei isso com alegria, pois eu sei que tua escolha
não conduzirá para o lar nenhuma moça indigna.”
— “Oh pai, esse na verdade é o problema”
suspirou Cuimin tão profundamente,
que Seabhac teve que reprimir novamente
um sorriso, “onde devo eu buscar a princesa? Em nossa tribo não há nem uma
única moça que pudesse preencher o local. E outras moças eu não vejo!”
— “Será que já não chegastes a ver alguma
enquanto estivestes longe em tribos estranhas com Fionn?” perguntou o pai. Ele, porém, havia atingido o ponto certo.
Corado, Cuimin confirmou que a filha
do príncipe onde ele havia permanecido por mais tempo, não lhe saía da mente.
Ela, porém, ainda era uma criança e ele não sabia como ela havia se
desenvolvido.
— “Então cavalgue para o sul e veja”
aconselhou o pai. “Eu ainda me encontro vivo e posso te representar aqui.”
Isto estava muito bem assim, ele apenas não
queria aparecer como príncipe, mas sim como um homem simples e fazer suas
averiguações. Então ele poderia voltar depois com toda a pompa para desposá-la.
— “Eu vejo que tu já refletiste em tudo.
Então parta e execute o que tu havias imaginado” permitiu o príncipe. Uma voz
interior lhe dizia que isso estava certo assim para o seu filho.
Acompanhado apenas por um servo de
confiança, Cuimin cavalgou alguns dias mais tarde para ver a noiva. Ele tinha
pressa, pois ele queria estar incondicionalmente de volta por ocasião do
término da casa para o Filho de Deus.
Muito antes do que ele próprio esperara, ele
já estava de volta. O pai que devido a isso temia um sinal de insucesso, fora
rapidamente comunicado do contrário. Ele não havia ido até o sul, depois de ter
ficado sabendo durante a viagem, que a filha do príncipe cuja imagem o havia
acompanhado nos últimos anos, já havia se casado. Decepcionado ele quis
retornar, então ocorreu um imprevisto, de modo que ele fora obrigado a parar na
cidade Cassevel. O Príncipe Cassivelau havia morrido e, em seu local, regia seu
filho. Além disso, vivia junto a filha Ysot, que era muito conhecida em todas
as regiões ao redor, por sua beleza e bondade. Ele a havia observado de longe e
seu coração se inflamara de paixão por ela. Ele não havia ousado aproximar-se
dela, contudo pedia agora ao pai que o preparasse para saber como pedi-la em
casamento com toda a pompa.
— “Não queres que eu próprio faça isso para ti?”
perguntou o pai bondosamente.
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin