quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Ciência e Humanidade






 Ciência e Humanidade


Pergunta: Existe algo não pronunciado entre a ciência e a humanidade em geral, que não age ligando, mas separando, ao passo que a humanidade, enfim, tem um direito direto à ciência.

Resposta: Naturalmente a humanidade inteira tem pleno direito à ciência, pois esta procura apenas tornar mais compreensível a dádiva de Deus, a Criação. A atividade propriamente de cada ramo da ciência se encontra na tentativa de perscrutar mais de perto as leis do Criador, a fim de que essas, pelo seu conhecimento mais apurado, possam ser utilizadas mais proveitosamente para o bem da humanidade.
Tudo isso não é nada mais do que um submeter-se à vontade divina.
Visto que a Criação e as leis da natureza ou de Deus, as quais a mantêm, são tão nítidas e simples em sua perfeição, devia resultar como consequência lógica uma explicação singela e simples por parte de quem realmente as tenha reconhecido.
Estabelece-se aqui, porém, uma diferença sensível que por sua natureza malsã abre um abismo cada vez mais amplo entre a humanidade e os que se cognominam discípulos da ciência, isto é, discípulos do saber ou da Verdade.
Estes não se expressam de modo tão simples e natural como corresponderia à Verdade, portanto ao verdadeiro saber, sim, como a Verdade, acima de tudo, requer como consequência natural.
Tem isso duas causas ou, mais precisamente, três. Pelos esforços, especiais segundo sua opinião, dedicados aos estudos, esperam uma posição de destaque. Não querem se convencer de que tais estudos constituem também apenas um empréstimo tomado à Criação formada, conforme semelhantemente faz um simples camponês pela serena observação da natureza, para ele necessária, ou outras pessoas em seus trabalhos práticos o devam fazer.
Além disso, um discípulo da ciência sempre terá de se expressar sem clareza, pela natureza da coisa, enquanto não se aproximar direito da Verdade em seu saber. Só quando tiver compreendido realmente a própria Verdade, tornar-se-á, também por causa da natureza da coisa, necessariamente simples e natural em suas descrições. Não é, pois, segredo algum que exatamente os que nada sabem, em suas fases transitórias para o saber, gostam de falar mais do que os próprios entendidos e terão aí de se servir sempre da falta de clareza, porque de outra maneira não são capazes, se ainda não tiverem diante de si a Verdade, isto é, o real saber.
Em terceiro lugar, existe realmente o perigo da maioria das criaturas humanas dar pouco apreço à ciência, se esta quiser mostrar-se com o manto natural da Verdade. Os seres humanos a achariam “natural demais” para poder dar-lhe muito valor.
Não raciocinam que exatamente isso é o único certo, proporcionando inclusive o padrão para tudo quanto é legítimo e verdadeiro. A garantia da Verdade reside, tão-só, na sua evidência natural.
Mas para tanto os seres humanos não serão tão facilmente convertidos, pois também não quiseram reconhecer em Jesus o Filho de Deus, porque ele lhes veio “demasiadamente simples”.
Os discípulos da ciência sempre estiveram muito bem a par desse perigo. Por isso fecharam-se cada vez mais, por sagacidade, à simplicidade natural da Verdade. A fim de fazer valer a si mesmos e a sua ciência, criaram, em suas reflexões cismadoras, obstáculos cada vez mais difíceis.
O cientista, destacando-se da massa, desprezava finalmente expressar-se de modo simples e compreensível a todos. Muitas vezes apenas pelo motivo, por ele próprio mal conhecido, de que certamente não lhe restaria muito de destaque, se não formasse um modo de expressão que, necessariamente, só em longos anos de estudos poderia ser aprendido de modo especial.
O fato de não se tornar compreensível a todos, criou-lhe, com o tempo, uma primazia artificial, que foi conservada a qualquer preço pelos alunos e sucessores, visto que do contrário, para muitos, os estudos de anos e os sacrifícios monetários a isso ligados, realmente, teriam sido em vão.
Chegou-se assim hoje a tal ponto que nem é mais possível a muitos cientistas se expressarem perante pessoas simples de modo claro e compreensível, isto é, de maneira simples. Tal empenho, agora, exigiria decerto o estudo mais difícil e tomaria mais tempo do que uma geração inteira. Antes de tudo, para muitos resultaria desagradavelmente, pois então apenas sobressairiam ainda aquelas pessoas que tivessem algo a dar à humanidade com real capacidade, estando com isso dispostas a servi-la.
Atualmente, para a generalidade, é característica marcante do mundo dos cientistas a mistificação por incompreensibilidade como semelhantemente já foi hábito em assuntos eclesiásticos, onde os servidores de Deus terrenalmente escolhidos como guias e condutores só falavam em latim a todos quantos buscavam devoção e elevação, o que estes não entendiam e, portanto, também não podiam abranger nem assimilar, somente com o que conseguiriam obter algum lucro. Os servidores de Deus poderiam ter falado igualmente em siamês na ocasião, com o mesmo insucesso.
O verdadeiro saber não deve precisar tornar-se incompreensível, pois encerra em si ao mesmo tempo a faculdade, a necessidade, sim, de se expressar com palavras singelas. A Verdade é, sem exceção, para todas as criaturas humanas, pois estas se originam dela, porque a Verdade é viva no espírito-enteal, o ponto de partida do espírito humano. Daí se infere que a Verdade pode ser compreendida também em sua singeleza natural por todas as criaturas humanas. Tão logo, porém, ao ser transmitida se torne complicada e incompreensível, não permanece mais pura e verdadeira, ou então as descrições se perdem em coisas secundárias que não têm aquele sentido como  núcleo. Esse núcleo, o autêntico saber, tem de ser compreensível a todos. Algo artificialmente arquitetado, por sua distância da naturalidade, pode conter em si apenas pouca sabedoria. Quem não é capaz de transmitir o verdadeiro saber de modo simples e natural, não o compreendeu, ou então procura encobrir algo involuntariamente, ou se apresenta como um boneco enfeitado e sem vida.
Quem na lógica ainda deixar lacunas e exigir crença cega, reduz a um ídolo defeituoso o Deus perfeito e prova que não se acha no caminho certo, não podendo, portanto, guiar com segurança. Seja isso uma advertência a cada perscrutador sincero!

Abddrushin

Publicação original em Folhetos do Graal (Gralsblätter)