Que
Procurais?
por Abdrushin
dissertação na íntegra conforme a primeira
edição do livro no Brasil em 1934.
Que procurais? Que
significa essa azáfama impetuosa?
O mundo inteiro se
encontra em estado de efervescência, e um dilúvio de livros alastra-se por
todos os povos. Sábios escavam antigas escrituras; investigam; aplicam-se até a
extenuação. Profetas surgem, admoestando, prometendo... O desejo geral é que de
súbito, como que num acesso febril, espalhe-se nova luz!
É isso que se passa
atualmente na super agitada alma humana, - vendaval que não refresca e
desaltera, mas cresta, mas consome, mas absorve as últimas forças que ainda
restavam aos elementos desagregados da melancolia contemporânea.
Percebe-se, também, a
espaços, como que um murmúrio de expectativa crescente acerca de algo que há de
realizar-se. Todos os nervos estão inquietos, tensos por um ansiar
inconscientes. A inquietação é geral, e sobre todas as coisas paira uma espécie
de atordoamento de gestação funérea. Que deverá nascer de tantas promessas
infaustas? Confusão, covardia e ruína,
caso não seja destruída com decisão a camada obscura que envolve
espiritualmente a Terra e que, com a ductilidade dos pântanos imundos,
apodera-se de todos os pensamentos luminosos e livres que porventura apontem,
asfixiando-os antes de haverem adquirido forças; pântano que com seu silêncio
sinistro abafa todas as iniciativas benéficas ao nascedouro, destruindo-as de
se haverem positivado com ações.
É desviado o grito
dos que anseiam pela Luz, ânsia esta que encerra em si poder suficiente para
fazer saltar essa camada de lodo. Esse grifo reboa em uma abóbada
intransponível, levantada justamente pela diligência dos que julgam auxiliar:
Oferecem pedras em vez de pão!
Consultai essa
infinidade de livros:
Só conseguem estafar
o espírito, não vivificam! Nisto está a prova da esterilidade de tudo o que
oferecem, porque jamais poderá ser adequado ao espírito o que só lhe causa
estafa.
O pão espiritual tem
ação imediata, refrescante. A Verdade restaura. A Luz vivifica!
Os espíritos singelos
ficam tomados de desânimo quando consideram as barreiras alevantadas pela
chamada ciência do espírito em face dos problemas do Além. Qual é o
entendimento simples capaz de apreender tais expressões estranhas ou as
sentenças repassadas de erudição?
O outro mundo só terá
sido feito para os iniciados?
E falam-nos de Deus!
Será porventura necessário construir escolas superiores para que seja alcançada
a faculdade de apreender o conceito de Deus? Aonde nos leva essa mania que se
funda pela maior parte na ambição?
Como bêbados
cambaleiam leitores e ouvintes, de um lugar para outro, incertos, parciais, sem
liberdade interior, uma vez que se desviaram da estrada simples e natural.
Ouvi, desalentados!
Levantai a vista, investigadores sinceros:
O caminho que conduz
ao Supremo está patente a todos os homens!
A erudição não é a
porta que se abre para esse caminho!
Cristo Jesus, esse
grande símbolo no verdadeiro caminho para a Luz – teria escolhido seus
Discípulos entre os sábios fariseus; entre os investigadores das escrituras?
Não. Tirou-os da própria singeleza, visto não terem que lutar contra o grande
erro de que o caminho para a Luz é penoso e difícil de ser seguido.
Eis o maior inimigo
do homem; eis a mentira máxima, sob a forma de semelhante concepção.
Por esse motivo
abandonemos o cientificismo quando se trata do que há de mais sagrado em nosso
íntimo, o que necessita ser apreendido em sua totalidade! Abandonai, porque
a ciência como produto do cérebro humano, não passa de um fragmento, e como tal
continuará a ser em todos os tempos.
Refleti, – é ser a
ciência, penosamente apreendida, o caminho para a Divindade?
Que é o saber, de um
modo geral? É o que o cérebro pode compreender.
Mas, como é restrita
a faculdade cognitiva do cérebro, entravada nos liames do espaço e do tempo! O
cérebro humano é incapaz de apreender a Eternidade e o sentido do infinito,
justamente o que se relaciona mais de perto com a Divindade.
Pára diante dessa força
inapreensível que compenetra todos os seres e da qual o próprio cérebro tira
sua atividade; força que todos sentimos diariamente, a todas as horas, a todos
os momentos como algo evidente por si mesmo, e que a ciência sempre confessou
existente mas que debalde nos esforçamos para compreender com o cérebro, –
logo, com o saber e o entendimento.
É por consequência,
bem imperfeita a atividade do cérebro, essa pedra fundamental e instrumento da
ciência, sendo necessidade forçosa que essa imperfeição se faça sentir também
nos seus produtos, logo em todas as ciências.
Por esse motivo a
ciência é útil como auxiliar, para melhor compreensão, divisão e classificação
do que lhe foi dado da força criadora que a antecede, tendo porém que fracassar
infalivelmente desde que se arrogue a posição de guia ou de crítica, enquanto
se prender tão fortemente, como até agora o faz, ao entendimento, isto é, à
faculdade cognitiva.
Por esse motivo a
ciência, e, com ela, a humanidade que lhe segue a pista, estará sempre presa a
partes insuladas, ao passo que todos possuímos em nosso íntimo a dádiva de um
todo inapreensível que nos habita sem aprendizagem estafante a atingir o que há
de mais elevado e nobre.
Fora, portanto, com a
tortura inútil da escravidão espiritual!
Não é debalde que o
grande Mestre nos adverte:
Tornai-vos como
crianças!
Quem possui vontade
decisiva para o bem e se esforça por emprestar limpidez a seus pensamentos –
já encontrou o caminho que conduz ao
sumo bem!
Tudo o mais lhe será
concedido. Não necessita nem de livros nem de super tensão espiritual, nem de
ascetismo ou isolamento. Tem a alma e o corpo sadios, liberto do pesadelo da
sofisticação malsã, uma vez que é nocivo todo excesso.
Sede homens, não
plantas cultivadas em estufas com desenvolvimento vicioso, fanadas ao primeiro
perpassar do vento.
Despertai!Abri os
olhos para o que vos cerca!
Ouvi vosso íntimo!
Eis o único meio de abrir o caminho.
Não daí atenção às
lutas da igreja. Cristo Jesus, o grande Portador da Verdade e encarnação do
Amor Divino não se preocupou com as seitas. Que são estas afinal?
Prisões do espírito
livre do homem; escravização da centelha divina que se abriga em vosso íntimo;
dogmas que procuram angustiar a Obra do Criador e seu Amor imenso nas formas
amoldadas ao entendimento humano.
Tudo isso redunda em
rebaixamento e desvalorização da ideia de Deus. Todo investigador sincero é
repelido por semelhantes processos que impossibilitam de participar da grande
realidade, tornando cada vez mais improfícua sua ânsia pela Verdade, levando-o
por fim a desesperar do mundo e de si mesmo.
Por isso despertai!
Destruí os muros
dogmáticos que vos atravancam o íntimo; dilacerai as faixas para que a Luz pura
do Supremo possa penetrar intata até onde vos encontrais. Então vosso espírito
se elevará com regozijo, participando com alegria do grande Amor paterno que
desconhece as balizas do entendimento terrestre.
Adquiri, finalmente,
o conhecimento de que sois uma parte desse Amor; que o apreendeis cabalmente e
sem canseiras; que vos identificais com ele, – ganhando a todos os momentos
novas energias que vos permitem a libertação natural do caos em que vos
encontrais.
O conteúdo deste livro como tradução nos
conformes da obra original: Na Luz da Verdade escrita por Abdrushin, publicada
na íntegra, sem alterações, exclusivamente pela edição de 1931, se deve ao
resgate da cópia do primeiro volume em português publicado em 1934, portanto,
com aspecto de autêntica raridade para a Mensagem do Graal no Brasil.