Místicos e Similares
por
Abdrushin
Pergunta: Como é visto um místico em relação aos ocultistas e espíritas
com respeito à utilidade para a ascensão espiritual? Nesse sentido, de que
servem as numerosas seitas?
Resposta: Se V. S.ª se encontra diante de a tal pergunta, deve em
primeiro lugar procurar intuir as consequências espirituais da diferente
atuação, e formar o seu conceito unicamente de acordo com isso.V.
S.ª verificará que o “místico” não se encontra de modo nenhum mais elevado, mas
sim causa tanto prejuízo quanto o espírita e o ocultista e, em última análise,
também as seitas.
Há muitas décadas, a maioria das infelizes ocupantes das casas
de prostituição era procedente da camada social das vendedoras e das empregadas
domésticas. A triste causa residia muitas vezes no impulso íntimo de conhecer
uma vida mais livre e cintilante, ou também na confiança no amor por um rapaz
ou um homem, o qual era incapaz de reconhecer essa confiança devido ao seu tipo
brincalhão ou por leviandade. Entre elas, apenas raras vezes existia um
verdadeiro pendor pessoal para levar uma vida baixa e leviana. É bem conhecido
o deslize daquelas moças que, finalmente, não mais dispunham de força
suficiente para sair do pântano.
De forma bem semelhante a tais casos de então, também hoje, no
domínio espiritual, generalizou-se amplamente esse proceder. A tendência de
penetrar na vida do assim chamado Além, que muitos seres humanos imaginam bem
diferente do que realmente é, leva hoje para o pântano das trevas, grandes
massas dos pretensos pesquisadores, que anseiam algo diferente.
Semelhantes a essas moças, que no íntimo desejavam encontrar
algo melhor ou simplesmente novo, até agora desconhecido para elas, e que não
querem reconhecer a insinceridade dos rapazes e homens que as cortejam, já que
isso representaria praticamente o abandono de muitos de seus desejos, assim
também os que procuram espiritualmente de forma obstinada não percebem que, em
lugar de ouro puro... usam lantejoulas e quinquilharias, que lhes dão uma
ilusão de situação elevada. Envoltos por uma ilusão, passam pela vida terrena
contentes consigo mesmos e se tornam, no Além, pobres tolos dessa ilusão, que
naturalmente têm de levar consigo e que lá os domina.
Todos eles ficam presos à matéria, e não encontram força para se
desprenderem dessa tenaz ilusão, porque não ousam mudar sua intuição, temerosos
de perder algo a que se afeiçoaram.
Estão irremediavelmente expostos ao aniquilamento, pois, com a
desintegração de toda a matéria, que se aproxima, desintegrar-se-á também a sua
consciência pessoal, conseguida com muito esforço, e
como não podem ser bem aproveitados em estado consciente, retornam
ao estado amorfo.
Isso, porém, não constitui nenhum progresso,
como os budistas supunham, e sim uma extinção da evolução conseguida até então,
já que esta ocorreu na direção errada.
O que, pois, constituem os rapazes e homens levianos nas
vivências de moças e mulheres ansiosas, provocando uma tão triste mudança, o
mesmo papel representa hoje, no campo espiritual, as inúmeras congregações e
seitas da religião, dos ocultistas, espíritas e tudo o mais que se formou dessa
espécie. São os mais perigosos caçadores de almas a favor das trevas!
Nisso, aqueles que se julgam dirigentes, muitas vezes até possuem a vontade para o bem! E essa vontade, com o tempo, só poderia trazer coisas boas, sem dúvida, se não houvesse aí um grande obstáculo, que em todos os casos se mostra muito mais forte e em toda a parte desvia do caminho certo a melhor boa vontade. É a resistência contra tudo aquilo que não está de acordo com as próprias ideias de alguns dirigentes. A resistência provém de um medo instintivo pelo fato de que teriam de mudar muita coisa na sua orientação de até agora, com o que os adeptos talvez pudessem reconhecer que eles, em muitos casos, seguem caminhos completamente falsos. Com esse reconhecimento poderia então perder-se algo da veneração que os adeptos dedicam incondicionalmente a seus “mestres”.
Por mais tolo que seja esse pensamento, faz com que muitos
dirigentes tropecem nele e sigam obstinadamente seu caminho, apesar de sentirem
às vezes uma vaga intuição de que estão agindo de forma incorreta.
Entretanto, não se devem censurar somente os dirigentes, pois muito mais danos causam os próprios adeptos, para si mesmos bem como para seus partidários que seguem a mesma orientação. Se o fundador de qualquer movimento talvez tivesse realmente um alvo certo e quisesse conduzir seus adeptos ao encontro da Verdade, pode-se supor com certeza que estes ficariam intimamente muito distanciados da própria doutrina. No caso do falecimento do fundador, logo se mostraria a falta do verdadeiro vivenciar de uma boa doutrina. Os adeptos imaginariam já possuir tudo, inclusive a essência máxima desses ensinamentos, entregando-se assim à vaidade espiritual, que lhes fecha a porta para uma possibilidade de ascensão posterior. Eles passam jubilosos e ignorantes pela derradeira Verdade, para a qual o próprio fundador apenas queria prepará-los. Por esse motivo, muitos caminhos certos são forçados inevitavelmente, pelos próprios adeptos, em direção ao túmulo, em vez de conduzir para as alturas luminosas.
Quantos buscadores e quantos pretensos sabedores passaram,
outrora, sem se aperceber, perante o único e verdadeiro Mestre, o Filho de
Deus. Especialmente aqueles que se consideravam capacitados para reconhecer a
sua vinda. Justamente esses se tornaram os seus mais acérrimos adversários. Por
que não se aprende com isso?
Vemos os cristãos hoje em dia viverem dentro de muitos conceitos errados, em relação à doutrina do seu Mestre. Orgulhosos, arrogantes e, contudo, ignorantes perante a profunda Verdade que jaz na Mensagem de Cristo.
Essa circunstância, por
si, faz com que tantas seitas e congregações floresçam, porque o espírito
humano sente crescer dentro de si um impulso impetuoso no sentido de
necessitar mais do que as igrejas lhe oferecem com suas
invariáveis interpretações superficiais.
Os seres humanos esperam receber, nessas seitas e congregações,
maior clareza e, muitas vezes, já estão satisfeitos quando algo soa diferente do
que nas igrejas. Aquele impulso faz com que vejam nisso já um progresso, mesmo
que na realidade seja muito menos do que já receberam nas igrejas.
O participante de uma sessão espírita, por exemplo, confunde facilmente o novo, o interessante, com o valioso. Não imagina que o interessante nem sempre é necessariamente valioso, simultaneamente. Ninguém reflete com calma, objetivamente, o quanto tudo isso pode ser útil para a sua própria ascensão espiritual, para o que, pois, só é finalmente decisivo a sua qualidade interior! Sente-se orgulhoso de encontrar-se em um nível íntimo com os falecidos! Na realidade, contudo, não há diferença, absolutamente, de quando, aqui na Terra, trata com seus semelhantes. O corpo que os falecidos têm, ele também possui, bem como cada ser humano na Terra. Sobre esse corpo encontra-se apenas ainda o invólucro de matéria grosseira. E aquilo que os do Além lhe comunicam com muito esforço não representa a milésima parte daquilo que Cristo trouxe.
Apesar disso, o participante dá mais valor a todas aquelas pequenas manifestações, cujo conteúdo já há muito lhe é bem familiar. Quanta falta de independência no seu próprio pensar e na intuição ele demonstra com isso em todo o seu modo de ser.
Também não emprega o que vivencia nas sessões para penetrar o
quanto antes, com toda a seriedade, na Mensagem de Cristo, a fim de aprender a
compreendê-la corretamente e assimilar toda a sua grandeza, a fim de lançar-se
para o alto, em direção à liberdade espiritual nela desejada, mas sim, ao
contrário, apega-se à mediocridade que lhe é oferecida nessas manifestações,
apenas porque exteriormente apresenta em outra forma.
Isso, porém, representa mais um obstáculo, nenhum
progresso!
Uma das maiores mediadoras para as trevas é a presunção! Observemos um pouco os espíritas. Com raras exceções, os adeptos sofrem de uma tão desmedida vaidade, que cobrem com uma aparente humildade de saber, a ponto de não se poder falar com eles, sem sentir uma repugnância e sem se sentir repelido. Imaginam poder “auxiliar” muitos falecidos, quando, na realidade, eles mesmos necessitam de muito maior auxílio. Infelizmente, quase por toda a parte se encontra esse fenômeno. Esse desejo doentio de querer auxiliar, porém, de maneira nenhuma é amor; também não emana do grande querer servir; tampouco pode ser atribuído à pura disposição humana de ajudar, muito menos à verdadeira piedade, mas sim nada mais é do que uma desagradabilíssima arrogância íntima, que não pode ser exterminada.
Dessa maior de todas as fraquezas, as trevas se aproveitam
bastante, especialmente nos círculos dos médiuns principiantes. Aí apresenta-se
um elemento trevoso, lamenta-se de qualquer coisa, e imediatamente os
ignorantes homúnculos desejam “ajudar” essa pobre alma. Com olhares piedosos,
orações, águas-bentas, talismãs e conjurações, que nada mais demonstram do que
a ilimitada vaidade desses pretensos sabedores.
É uma comédia para satisfação própria, nada mais. Incenso para a
própria pessoa. O auxílio fica só na imaginação. O elemento trevoso na
maioria dos casos nem deseja auxílio! Ele sabe muito bem que aqueles
seres humanos não podem ajudá-lo, e somente conta com o fato de atraí-los
despercebidamente para si, embaixo! Como, aliás, todas as trevas sempre se
lançam somente sobre as fraquezas. E isso com muita probabilidade de êxito,
pois com esse desejo de ajudar, as respectivas pessoas se abrem para as
correntezas das trevas. Estendem sua mão a essa criatura do Além, para
levantá-la; contudo, entrando em contato com ela e afundam sem o saber!
O fato de que tais pessoas desejam exatamente o contrário, nada pode adiantar nesse caso, pois elas se entregam deliberadamente a tais perigos, contra os quais, do contrário, estariam incondicionalmente protegidas. Assim, porém, essa proteção é rompida por elas mesmas, e com tal leviandade há de se vingar.
Também quando essas pessoas finalmente necessitam e pedem
auxílio a outros, tão logo elas mesmas, devido à sua ignorância, caem em
apuros, não podendo mais prosseguir, então querem como auxílio somente a
satisfação de seus próprios desejos, e não acaso ver-se livre do espírito
trevoso que atraíram para si.
Supondo que naquele círculo se apresentasse um verdadeiro
auxiliar, que, em lugar de atender aos seus desejos errados, enviasse um adepto
das trevas para o lugar a que ele pertence, segundo sua espécie, para evitar
que esse mesmo atraísse para a perdição criaturas ignorantes e superficiais,
então todos aqueles que foram libertados se juntariam numa inimizade coletiva
contra esse auxiliar, e provavelmente o denominariam enviado das trevas, quando
seu “pobre” espírito de repente não mais pudesse aparecer. Não se lhes torna
claro que na realidade sentem raiva porque perderam aquelas horas de
entretenimento nas quais podiam se “elevar”.
Quando um espírito é rechaçado ao lugar de onde procede, visto
que somente lá e em nenhum outro lugar pode chegar ao
reconhecimento, os “devotos” consideram tal procedimento como duro e
anticristão. Para se poder auxiliar verdadeiramente um espírito inferior, coisas
bem diferentes são necessárias das que os assistentes e dirigentes de um
círculo espírita podem oferecer.
Por esse e ainda por muitos outros motivos não tem sentido falar
uma só palavra com aqueles extraviados na sua presunção, apesar de que eu
poderia, em qualquer sessão, pouco importando o lugar e quem
fosse o dirigente, mesmo nas mais concentradas, apresentar com facilidade as
provas, em tais acontecimentos. Onde, porém, se trata de um querer realmente
sério, aí sempre estarei à disposição. Sem vacilações enfrento qualquer círculo
espírita ou seus espíritos, qualquer demônio ou outros
opressores!
Não é diferente com os ocultistas, que, procurando e
parcialmente experimentando, se perdem em coisas que somente os acorrentam ainda
mais ao ambiente de baixa matéria fina. As correntezas, às quais se abrem,
retêm-nos e prendem-nos ainda mais fortemente.
Um prejuízo igualmente grande as obras dos místicos causam, que, com seu tatear inseguro, conduzem para um labirinto de confusão, acarretando a perda do caminho como decorrência natural. Na maioria dos casos trata-se de fantasia e fanatismo, nos quais eles mesmos procuram regalar-se ou aparentar um verdadeiro saber, que, no entanto, apenas se iguala ao sorriso pretensioso de um ignorante. Não é apenas uma ilusão, na qual vivem e que também os induz de vez em quando a zombar de outros que são menos perigosos.
Não se apercebem de sua própria periculosidade, já que a mesma
se encontra somente no domínio espiritual, que não são capazes
de reconhecer. Pessoalmente eles também são absolutamente
inofensivos; suas obras, porém, causam uma confusão
terrível e levam ao descaminho, quer envolvam cuidadosamente seus pensamentos
fantásticos em romances ou os vertam em outras formas. O misticismo conduz
ainda mais facilmente aos braços das correntezas escuras, porque vem
acompanhado simultaneamente de um comodismo sonolento ou também de um arrepio
agradável, timidamente, porém, evita qualquer clareza. Os espíritos humanos
encontram-se aí numa vida insalubre, sem base firme, sendo puxados de um lado
para o outro.
Deus, porém, deseja que se viva de acordo com as Suas leis,
porque somente nelas se pode ser feliz! Para poder viver de
acordo, entretanto, deve-se possuir pleno conhecimento, nada
de incertezas. Toda a vida e todo o movimento na Criação estão sujeitos às
leis; procedem delas. Por isso, deve-se conhecer a Criação até
em suas mínimas partes, claramente e completamente consciente! Onde
resta então lugar para o misticismo? O misticismo na Criação está contra
a vontade divina; não está em concordância com os mandamentos
de Deus e, conseqüentemente, tem de ser nocivo aos seres humanos aos quais se
deseja inculcar.
Os místicos são, portanto, estreitamente aparentados com os
ocultistas e espíritas, e nocivos pelas consequências de sua atuação. Espiritualmente não
existe diferença.
Ainda são de se lamentar muitas seitas religiosas e congregações, as quais imaginam cada uma por si, possuir a plena verdade e estar caminhando na frente de todas. Com esse preconceito eles enfrentam tudo o que se encontra no seu caminho e não penetram em outros pensamentos, com renovada autocrítica, mas sim arrastam consigo todo o antigo. Logo que constatam que esse antigo não se deixa misturar com o novo, recusam o novo como sendo errado. Bitolam-se no antigo que lhes foi dado e que muitas vezes nem reconheceram de forma acertada.
Devido a essa estreiteza, seu julgamento sempre é precipitado e
obstinado. Sem objetividade, não com suas próprias palavras, mas sim com as palavras
de outrem, que eles mesmos nunca compreenderam corretamente, procuram condenar
tudo como sendo inferior ao seu saber. Para isso empregam
frases untuosas, que não somente demonstram imediatamente arrogância
espiritual, como também revelam um verdadeiro vazio interior e uma estreiteza
inalterável.
São aquelas massas que sempre clamam com familiaridade: “Senhor,
Senhor!” O Senhor, porém, não os conhecerá! Acautelai-vos em primeiro lugar
com esses “fiéis”, a fim de que não sigais com eles
broncamente para a destruição.
Abdrushin
Extraído
de O Chamado (Der Ruf) como: Respostas a Perguntas