Sobre a vida dos Celtas –XXVI
Por
Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XXV
Anteriormente: Chegava a notícia que os romanos erigiam um muro
atravessando o grande país como divisa, entre eles e as tribos Celtas que ainda
não haviam sido subjugadas, com a sensação de grande alegria: assim, nada mais
poderia acontecer, pois aparentemente o inimigo havia desistido de conquistar o
país. Gulwin faleceu muito idoso. O filho
de Gulwin, Etelbert, reuniu todos os
homens e perguntou-lhes se eles preferiam esperar inativos até que os romanos
os tivessem subjugado ou se eles queriam ir ao encontro deles...
Apesar do povo de Seabhac ter gostado de voltar para casa, eles viam que seu dever
exigia aguardar. Eles auxiliavam os moradores da região ainda habitada
pacificamente em seus trabalhos no campo e com o gado. Juntamente com isso eles
treinavam regularmente o uso das armas.
A muralha estava concluída. E vinham rumores
que os romanos haviam dividido seus guerreiros novamente, como era costume,
pela província recentemente conquistada. Etelbert
podia agora voltar, mas havia recebido a ordem para permanecer. Também os
moradores dessa região pediam para que ele ainda não os abandonassem. Ninguém
confiava nos romanos, os quais haviam recebido novos reforços. Esses novos
guerreiros, porém, deviam ser adeptos do Filho de Deus, pois se denominavam
cristãos. Etelbert tomou
conhecimento disso e teve desejo de conhecer tais homens.
Ele enviou um mensageiro ao comandante romano e perguntou se entre os cristãos havia um sacerdote que lhes pudesse contar a respeito do Filho de Deus. Pois era para recompensá-lo por sua anunciação com ouro e pedras preciosas.
Isso deixou os romanos cobiçosos. Seriam
esses Celtas tão ricos? Ele, porém, ocultou seus pensamentos e enviou seu
sacerdote a Etelbert. Era um homem
ainda jovem, que certamente sabia lidar melhor com as armas do que com a
palavra. Mas os Celtas exigiam tão pouco, se ele apenas lhes quisesse contar a
respeito Daquele em cuja força eles viviam.
Ele contou. O povo dos judeus, o povo
escolhido, no qual o Filho de Deus havia nascido, teria se tornado desprezível.
Etelbert se irou. Este não poderia ser tão covarde, cobiçoso e
ruim como o sacerdote o descrevia, do contrário o Pai Eterno teria enviado Seu
sagrado Filho para um bem outro povo. O sacerdote viu que ele tinha de ser
cauteloso e começou então a relatar das diversas correntes que haviam se
formado dentro da crença cristã.
— “Como isso é possível?” perguntou Etelbert incrédulo. “Vós tendes, pois,
a Palavra do Filho de Deus! Se vós vos segurardes nela de forma totalmente
simples não pode haver nenhuma briga.”
— “Esta também não existe por causa da
Palavra, mas por causa da interpretação da mesma” respondera ele. Isso ele não
compreendeu, contudo o entristeceu.
A noite ele atirou-se diante de seu leito ao
solo e orou. Ele perguntou ao Pai Eterno se era possível que os seres humanos
também destruíssem ainda a última coisa que lhes pudesse salvar.
— “Eterno, Santíssimo” implorava ele “eles
fazem isso devido a uma honra vaidosa, por causa de uma vontade maldosa de
dominar! O que deve sentir Teu sagrado Filho se Ele olhar agora para baixo,
para as pessoas, e ver como elas deterioraram tudo o que Ele semeou.”
Etelbert deu ao sacerdote ricos presentes e enviou-o de volta ao acampamento romano. Ele mesmo, porém, relatou aos seus a respeito daquilo que queria despedaçar a alma. Então todos eles resolveram voltar para casa e levar uma vida totalmente em oração e ligação com o Pai Eterno. Parecia-lhes mais importante construir a ponte para cima e mantê-la do que defender o país contra o inimigo que avançava. Em algum lugar o Filho de Deus deveria encontrar pessoas esperando por Ele, se Ele olhasse para baixo, para a Terra.
Isso animou a todos igualmente. Também não
havia nenhum entre eles que havia pensado diferentemente. Eles imploravam ao
Pai Eterno, que Ele lhes enviasse notícia da Palavra que Seu sagrado Filho
havia semeado sobre a Terra. O que eles ouviram a respeito havia comovido
profundamente seus corações, mesmo que não pudessem dar sempre crédito ao parecer
do sacerdote. Eles ficaram sabendo que o Filho de Deus havia reunido discípulos
em torno de Si. Com que prazer eles teriam pertencido a esses! Seu anseio de
servi-Lo tornou-se cada vez mais fervoroso.
Novamente
havia surgido entre os druidas um, de nome Dunstan,
que fora agraciado para receber notícias do alto de forma pura em si. Também Etelbert ouvia frequentemente vozes que
lhe indicavam o que ele tinha de fazer. Dunstan,
ao contrário, tomava conhecimento de revelações que relatavam a respeito de
elevadas planícies ou a respeito da vontade do Pai Eterno em relação aos seres
humanos. Sob jejuns e orações ele preparava-se continuamente para, a qualquer
hora, ser o receptáculo, ao qual pudesse fluir o saber do alto.
Etelbert sentia-se especialmente ligado com Dunstan. E o que ele tomava conhecimento sempre compartilhava com o príncipe. Juntos eles trocavam idéias a respeito do que iriam falar ao povo. Eles eram sempre da mesma opinião.
Uma noite eles haviam falado por longo tempo
a respeito do anseio de poder servir ao Filho de Deus.
— “Eu estou certo que Ele não irá nos
desprezar, mesmo que eu não saiba de que maneira é preciso ser auxiliado” disse
Etelbert quando ele se separou do amigo.
No caminho para casa ele depositou o seu
anseio e o anseio do povo sob o trono do Pai Eterno e sentiu-se singularmente
tranquilo, sim, quase soerguido alegremente, como nunca se sentira a há anos.
A noite uma figura luminosa aproximou-se
dele, falando-lhe: “Etelbert, se é firme vontade vossa servir ao Filho Eterno
de Deus, então o Pai Eterno convoca a ti e a teu povo para servir!”
Alegremente o príncipe pulou de seu leito e
atirou-se aos pés do mensageiro.
— “Bem-aventurada hora em que eu pude
receber essa notícia” exclamou ele profundamente comovido.
O mensageiro continuou: “O inimigo se
encontra do outro lado do muro. Em alguns dias ele terá tudo preparado para
atravessá-lo e atacar a vós, julgando-vos despreparados. Vós deveis ir ao
encontro dele preparados. A casa de Deus não deve cair em mãos inimigas. De
fato, entre vós e os romanos ainda há uma tribo Celta, contudo ela não é
suficientemente forte para resistir ao ataque do inimigo. O Pai Eterno
ordena-vos que luteis.”
— “Isto nós queremos, isto nós queremos”
exclamou Etelbert entusiasmado. “Ninguém ficará para trás, se o Pai Eterno está
a convocar. E mesmo que nós tivéssemos que deixar as nossas vidas!”
— “Vossas vidas, vós tereis que entregar” falou o luminoso seriamente. “É da vontade do Pai Eterno que vós abandoneis esta Terra. Ele tem outro trabalho para vós. Ide corajosa e alegremente ao encontro disso, vós povo de Seabhac.”
Etelbert mal podia esperar o dia para
procurar Dunstan. Entretanto este se
adiantou a ele. Com o rosto irradiante ele entrou no aposento de Etelbert. Podia-se ver que ele tinha
algo grandioso para anunciar.
Ele se encontrava tão solene que o príncipe
esqueceu totalmente o que queria lhe dizer. Tenso, ele olhava para o amigo.
Contudo, demorou ainda algum tempo até que Dunstan
fosse capaz de falar.
Texto da série especial denominada: Escritos
Valiosos
Personagens e fatos processados dentro do
contexto deste episódio:
Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos,
que se situa como soberano de uma comunidade celta.
Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht
Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino
salva e aceita para proteção.
Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio
como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu
meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos
Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado
Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos
Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e
que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh
perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse
o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou
"Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e
renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo
direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um
enteal de certa forma
importante em sua ligação com os seres humanos.
Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com
Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os
Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon
(galês).
Na
mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann
e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine
tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de
arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os
Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia
invulnerabilidade a quem o bebesse.
Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas,
das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo
que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a
poetisa, a médica e a ferreira.
Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e
Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças
dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os
Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem
irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é
conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão
comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é,
Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.
Pieder – príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Cuimin
– príncipe
filho de Seabhac, Habicht e Meinin
Brigit
– príncesa
filha de Seabhac, Habicht e Meinin
Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin