Surpresa e Renovação Imediata
por
Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf
Sinopse de Fatos Transcorridos: Por influência de gigantes da
natureza, invisíveis para muitos na matéria grosseira, o jovem Miang, após
aprender com seu primeiro mestre, vivia junto de Fong, que era o
segundo, ensinando-lhe agora lições mais duras da vida, antes dele conseguir
sua iniciação nos assuntos mais elevados, ligados ao saber do Altíssimo,
cuja situação de vida parecia monótona demais, pela meta que pretendia alcançar...
Até
esse ponto haviam chegado os seus pensamentos, quando ouviu vozes de homens.
Fong tinha parado, para escutar...
Mas
não lhe pareciam totalmente inesperados, somente curiosidade, sem surpresa
desenhava-se no rosto do homem, enquanto Miang sentiu um forte impulso de
esconder-se em algum lugar. As mãos de Fong o seguraram. Juntos olharam para os
que estavam chegando.
Dois
homens aproximavam-se, trazendo as suas robustas montarias nas rédeas devido à
trilha estreita. Tinham aspecto bem diferente das pessoas que Miang havia visto
antigamente e as quais, como ele, tinham seus corpos cobertos com peles. Estes
dois usavam vestimentas coloridas, o que parecia ao jovem surpreso algo
imensamente suntuoso, causando-lhe, entretanto, certo desconforto.
Quando
avistaram os dois que aguardavam, conduziram seus animais para detrás de alguns
grandes rochedos, acalmando-os com algumas palavras. Depois vieram ao encontro
de Fong.
“És
tu Fong, príncipe da tribo amarela?” perguntaram em dúvida, porém, com
respeito.
“Eu
me chamo Fong,” retrucou o interpelado com dignidade. “O príncipe deixei de
lado, juntamente com as vestimentas.”
“Então,
a despeito disso, és aquele que procuramos. A tua tribo necessita do príncipe.
Lá não existe mais ninguém que nos pudesse guiar. Venha conosco. Mais lá
embaixo aguardam as montarias, servos e vestimentas.”
Involuntariamente
Fong abanou a cabeça. Com receio inexplicável Miang olhou para ele. O que ele
faria? Era ele realmente um príncipe? Como ele iria decidir-se? Aí soou a voz
de Fong, calma e firme.
“Não
por capricho eu vim para esta solidão, mas para procurar o Altíssimo, para que
também o meu povo aprenda a encontrá-Lo. Se chegou o momento de meu retorno,
então quero acompanhá-los.”
Cortando
as alegres exclamações dos homens, prosseguiu: “Fiquem aqui essa noite, ainda
quero procurar perscrutar a vontade do Altíssimo e lhes darei uma resposta
amanhã.”
Ele
não havia dito: “Fiquem comigo.” Com espanto viu Miang, como os homens se
curvaram, caminharam calados até seus animais e retornaram pelo caminho pelo
qual chegaram. Somente quando estavam fora do alcance da vista, Fong falou com
profundo suspiro: “Então também nós teremos que voltar para casa, Miang. A hora
da decisão chegou para mim, mas também para ti. Antes de dormir, deixe-nos
pedir ao Altíssimo para que abra meus olhos e ouvidos para perscrutar Suas
ordens.”
Foi
uma oração maravilhosa, que Fong enviou ao alto para o seu Senhor. Longo tempo
Miang ainda teve que refletir sobre a mesma. Esta oração e toda a silenciosa
atuação de seu companheiro ensinaram-no a compreender melhor o sentido do
servir do que tudo o que até então vivenciara.
Quando
acordou na manhã seguinte, diante dele estava Fong, vestido com vestimentas
suntuosas. Ele parecia tão majestoso, que involuntariamente Miang curvou-se
diante dele, como o tinha visto os homens fazerem.
“Levanta-te,
Miang, chegou a hora em que eu, a mando do meu Altíssimo Senhor, devo retornar
para junto de meu povo. Se quiseres, isso não precisa ser uma separação para
nós. Me é permitido levar-te, se tu assim o desejares.”
Miang
não conseguiu proferir palavra alguma. Suplicando estendeu as mãos.
“Eu
separei uma vestimenta para ti, ela será suficiente até que possamos
providenciar uma melhor. Por ora, a época das peles terminou.”
Com
agrado olhou para o jovem que, sem pensar muito, vestiu as peças estranhas que
o deixou diante dele numa beleza inconsciente, singular.
Uma
curta oração, uma rápida refeição, depois Fong pediu ao seu companheiro que
deixasse a tenda.
“Vamos
ir ao encontro dos homens. Nossos passos para a vida lá embaixo devem ocorrer
voluntariamente.”
Fong
instruiu o jovem para colocar em ordem os seus poucos pertences e as peles. Não
levaram nada consigo, mas tudo deveria estar aprovisionado da melhor forma
possível.
Depois
caminharam para a vastidão dourada pelos raios do sol e rapidamente encontraram
a trilha que levava para baixo.
À beira
de um riacho, que do alto emaranhado de montanhas precipitava-se por entre as
planícies verde-aveludadas, caminhava um belo jovem. Pensativo, mantinha a
cabeça abaixada, não dando atenção aos passarinhos e a outras pequenas figuras
que aqui e acolá dele se aproximavam confiantes.
Parecia
não chegar a uma conclusão sobre aquilo que ocupava sua alma. Suspirando,
sentou-se num bloco de granito e não percebeu que a água respingava justamente
nesse local, cobrindo-o de vez em quando com uma golfada de gotas aperoladas.
Agora, porém, algumas alcançaram o seu rosto. Indiferente, as secou e olhou ao
seu redor.
“Então
fui novamente para perto da água,” murmurou baixinho. “Parece que algo me
chama. Será que as irmãs de Hima têm uma mensagem para mim? Então vou chamá-las
logo.”
Levantou-se
e lançou sua voz por cima do estrondo.
“Vós,
irmãs, ouçam-me. Saudações, trago para vós de Hima, a formosa.” Debruçou-se
escutando. Parecia ter ouvido um riso límpido, mas o estrondo das águas o
tragou. Em lugar nenhum conseguiu avistar uma figura. Chamou novamente as
mesmas palavras, outra vez sem êxito.
“Por
que elas não vem? Elas me escutam, isso eu sinto. Eu preciso delas.”
Tinha
dito isso contrariado, então pensou: “Se eu necessito delas, devo chamar de
maneira diferente. Elas têm razão em não atender a tão tolo chamado. Eu não
pedi que viessem.”
Sorrindo,
fez novamente soar sua voz: “Ó, irmãs de Hima, aqui está um homem solitário que
deseja dialogar com vocês. Peço-lhes que apareçam!”
Novo
riso mais forte, simultaneamente o jovem sentiu-se envolvido como que por leves
véus. Diante dele, no chuviscar da água, estava uma figura que lhe parecia bem
conhecida.
“Hima!”
exclamou alegremente.
“Não
Hima,” soou ao seu encontro. “Eu me chamo Hila. Tu chamaste pelas irmãs. Não
sabes tu que em cada água só vive e reina uma de nós? Se quiseres ver mais,
tens que caminhar adiante.”
Foi
dito de modo extrovertido. O ser humano ali não conseguia responder nesse tom
brincalhão. “Hila, eu estou solitário,” disse suplicante.
“Isto
eu já ouvi uma vez,” riu a ente. “Agora que estou contigo, essa solidão
terminou. Ela também não precisaria existir, se nos teus pensamentos cismadores
não te tivesses absorvido tão inutilmente. Olha ao teu redor: tudo vive e está
disposto a ajudar-te.”
Assim
como Hima o tinha feito antes, Hila indicou com o braço estendido ao redor e os
olhos de Miang pareciam abrir-se. Em toda parte viu os pequenos e pequeníssimos
entes, o vale do riacho parecia estar repleto de atividade. Suspirando
aliviado, sentou-se novamente na pedra grande, enquanto a ninfa escolheu um
lugar envolto de água para descansar.
“Tu
estás recaindo em erros antigos, Miang,” animou ela o ser humano, que procurava
por palavras. Com isso, porém, ela não conseguia desencadear o fluxo de suas
palavras, ao contrário: ele teve que refletir tão intensamente sobre o sentido
de suas palavras, que esqueceu tudo ao seu redor.
“Erros
antigos?” murmurou ele. “Erros antigos?”
Um
som surdo, que parecia soar demoradamente de longe, o fez sobressaltar-se.
“O
príncipe chama, adeus Hila, eu voltarei.”
“Procura
o teu erro,” ecoou da água, mas Miang já tinha se afastado a passos largos.
Quando,
seguindo o som, chegou ao local onde um homem, com toda sua força, fez soar os sons
graves através de um enorme chifre de animal, encontrou-se em meio a intenso
movimento. De todos os lados homens aproximavam-se, cada um tinha deixado os
seus afazeres para ouvir o que o príncipe desejava. Após algum tempo todos
pareciam estar presentes, pois o chifre silenciou, em seu lugar ouvia-se a voz
de grande alcance de um homem, que subiu numa plataforma de pedras empilhadas.
(continua)
Trecho extraído do livro: Miang
Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o
Tibete das trevas.
NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA)
No
próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:
O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus
aos Gigantes – 23/09/16
O
Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... –
07/10/16
Servir o Altíssimo Como
Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas –
20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho
– 26/10/16
No Momento certo se
esclarece – 03/11/16