No Momento certo se esclarece
por
Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf
Sinopse de Fatos Transcorridos: Guiado por gigantes da
natureza, invisíveis na matéria grosseira, assim seguia o jovem Miang, que
após deixar seu primeiro mestre, vivia junto de Fong, como o segundo, aprendendo
agora lições mais duras da vida, até conseguir sua iniciação nos assuntos mais
elevados, ligados ao saber do Altíssimo, cuja meta pretendia alcançar...
“Creia-me,
Miang, eu ansiava pelo dia de poder fazer isso. Mas primeiro tu devias ser
preparado para tanto. Tu tinhas que aprender, a partir de teu íntimo, a cumprir
as ordens do nosso Senhor sem
questionar e sem reclamar. Ele não pode aproveitar servos hesitantes. Depois
tinhas que descobrir que o trabalho é uma benção. Deves alegrar-te com ele!”
“Isto
eu aprendi,” assegurou Miang convencido, “e nunca mais o esquecerei!”
“Achas
que terias aprendido isso tão bem, se eu apenas o tivesse dito?” indagou Fong.
O
interrogado pensou um pouco, depois disse francamente:
“Acredito
que não. Somente quando tive que sentir vergonha de minha inatividade e
indignidade, tive a bênção que se encontra escondida no trabalho.”
Ainda
conversaram muito, os dois, aos quais a vontade do Senhor finalmente tinha soltado
as línguas. Somente agora Fong pediu que o aluno narrasse a sua vida até agora.
Miang o fez com palavras eloquentes. O longo silêncio tinha reprimido muitas
coisas, fez amadurecer algumas, que agora procuravam expressar-se.
De
tempos em tempos Fong levantava a mão. Então o narrador parava, e juntos
admiravam a maravilhosa condução, que tão seguramente guiou os passos de degrau
a degrau.
“Agora
também entendo, por que o ancião teve que pedir-me a cabra, Fu-Fu,” exclamou
Miang repentinamente todo entusiasmado.
“Certamente,
não poderia ser diferente,” afirmou Fong. “Tu tiveste que ser desligado de tudo
o que te atava ao passado, que ainda poderia tornar-te sensível. E então
chegaste até ao companheiro mais rude,” continuou sorrindo. “Foi muito
difícil?”
“Eu
vi teu rosto na oração de graças, isto me ajudou.”
Miang
o disse singelamente; o outro o compreendeu e não continuou a perguntar. Esse
dia eles concluíram em oração conjunta, tinham que agradecer por tal
grandiosidade.
Na
manhã seguinte estavam, como de costume, no penhasco. Também hoje pouco se
falaram. Pesado demais era o trabalho, mas trocaram entre um olhar ou outro
satisfeito, com alguma exclamação alegre.
Quando
o sol estava em seu ápice e seus raios perpendiculares tornaram o enorme
trabalho mais pesado, e Fong afastou-se.
“Vamos
comer algo e depois procurar a sombra que encontrarmos.”
Foi
um dia maravilhoso, ao qual seguiram outros parecidos. Após o trabalho
fatigante começavam os ensinamentos, que ainda acompanhavam Miang durante o
sono onde se tornavam vivências. Quando certa vez falavam que não existia um
“por que” no servir ao Altíssimo, Miang acenou com a cabeça, convencido.
“Agora
eu sei que, com as minhas perguntas primeiramente curiosas e que se tornaram
resmungos, eu teria estragado o meu futuro, se tu não me tivesses afastado do
caminho errado.”
“Quem
te disse isso?” queria saber Fong.
“A
voz, que às vezes me fala. Recentemente, de noite, ela me falou como eu era
tolo no início, e como estava em perigo de me tornar alguém mau.”
“E
tu ainda queres saber por que nós movimentamos as pedras?”
Miang
enrubreceu. Gostaria muito dizer não e sentiu perfeitamente que essa palavra
não teria correspondido à verdade. As perguntas pelo motivo ele somente as
tinha deixado de lado.
“Agora
posso dizer-te,” animava-o Fong, que deixava vagar seu olhar para longe. “Está
errado se te pedir para que não o faças?” foi a resposta totalmente inesperada
do aluno. “Eu sinto alguma coisa dentro de mim que me diz, que não mereço essa
explicação. Primeiro devo aprender direito a matar também o último “por que”
dentro de mim.”
Cheio
de alegria, Fong abraçou o jovem.
“Tu
estás no melhor caminho, Miang. Minha pergunta deveria ser um teste. Foste
aprovado. Com isso, porém, chegou o momento em que deves deixar-me. Nada mais posso
te ensinar. Deves viver entre os homens e observar sua conduta. Deves colher
experiências para o teu futuro servir.”
Profundamente
olhou para o companheiro. Viria a manifestar a pergunta: “Em que consiste esse
futuro servir?” Não, nada se expressou nas feições claras, sinceras, somente o
susto pela separação próxima. E, apesar dessa emoção tão natural, dominou-se.
Miang preparou-se para imediatamente iniciar sua caminhada.
Fong
teve que sorrir um pouco.
“Não
tem tanta pressa assim, meu amigo. Receberemos instrução sobre o que deves
empreender, para onde deves dirigir-te. Isso pode acontecer ainda hoje, ou
somente nos próximos dias. Deixe-nos aproveitar ainda cada hora em que
estaremos juntos ainda.”
Inicialmente,
Miang ainda estava um pouco atordoado por causa da comunicação repentina, de
modo que Fong achou melhor empreender uma caminhada com ele. Nisso, chegaram
até a pedra, sobre a qual havia se mostrado a alegre ninfa da água. Curioso,
Miang olhou para lá e ficou contente, quando a bela figura acenou
cumprimentando.
“Eu
não tive tempo para vir antes,” exclamou o jovem. “Eu sei,” recebeu como
resposta. “Estiveste muito ativo, tão trabalhador, que agora nada mais há a
fazer para ti. Ande pelo mundo afora e, se os homens não te agradarem mais,
procure por minhas irmãs nas águas claras. Leva-lhes lembranças de Hima.”
Desapareceu a figura após a última palavra, mal Miang ainda pôde externar seu
agradecimento. Então olhou para Fong. O que este diria? Um olhar para as
feições do mesmo confirmaram a Miang que seu companheiro tudo havia visto e
compreendido.
“Também
podes ver os gigantes?” perguntou Miang, feliz. “Certamente, já há muito são
meus bons amigos. No início foi-lhes permitido ajudar-me no trabalho com as
pedras, ao qual também tive que me acostumar primeiro.”
Após
longo silêncio pronunciou Miang uma pergunta, a qual já muito tempo o ocupava:
“Sempre soubeste do Altíssimo?”
“Sim,”
foi a resposta. “Eu sabia Dele, porém, somente O encontrei aqui nesta solidão.
Meu pai havia me falado Dele, também me deixava participar da sua oração
diária. Mas creia-me, o que nos é dado sem esforço, àquilo não damos atenção.”
Isso
Miang entendeu por experiência própria. Devia, entretanto, refletir mais sobre
essas palavras. Ainda encontrava-se na procura pelo seu Senhor, quando lhe
seria permitido servir, servir realmente, não somente em ajudar a outrem? E em
que iria consistir o seu servir? O que quer que fosse estava convicto de que o
faria com alegria.
Até
esse ponto haviam chegado os seus pensamentos, quando ouviu vozes. Fong tinha
parado, escutando. Seres humanos nesta solidão era algo totalmente incomum.
(continua)
Trecho extraído do livro: Miang
Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou
o Tibete das trevas.